Equador - Miguel Sousa Tavares

Literatura portuguesa
Equador - Miguel Sousa Tavares - Editora Companhia das Letras - 544 páginas - Publicação 27/06/2011.

Primeiro romance do jornalista português Miguel Sousa Tavares, Equador tem como tema principal as relações políticas e comerciais entre a metrópole portuguesa e as colônias no início do século XX e também as relações diplomáticas entre Portugal e Inglaterra durante os últimos anos da monarquia já decadente, no período de 1905 a 1908.

O protagonista, Luís Bernardo Valença, após escrever uma série de artigos sobre a necessidade de um "colonialismo moderno e de matriz mercantil", se vê obrigado a abandonar a sua vida livre e confortável em Lisboa para assumir a função de Governador da colônia de S. Tomé e Príncipe, duas ilhas localizadas na costa ocidental da África e cruzadas pela linha do Equador, cuja principal fonte econômica é baseada na agricultura do cacau à partir da mão de obra escrava.

A missão de Luís Bernardo, nomeado pelo próprio rei D. Carlos I, é praticamente inviável, visto que ele deve convencer ao cônsul inglês David Lloyd Jameson, designado para investigar as condições de trabalho nas ilhas, que a mão de obra escrava é uma prática já abolida por Portugal, ao contrário do que afirmam os comerciantes ingleses que ameaçam boicotar as importações do cacau português. Ao mesmo tempo, a intervenção de Luís Bernardo não pode afetar os altos níveis de produção dos colonos, decorrentes justamente da exploração do trabalho negro.

Luís Bernardo é forçado a aceitar o desafio da nomeação praticamente devido à uma questão de vaidade pessoal, para logo se arrepender ao chegar à colônia, como escreve em carta ao amigo João Forjaz: "Queria apenas dar-te conta da primeira impressão que sente um inocente português que sai diretamente do Chiado para uma aldeia metida dentro da selva e deixada à deriva no meio do Atlântico, à latitude do Equador: sente-se esmagado pela chuva, derretido pelo calor e pela humidade, comido vivo pelos mosquitos, espantado pelo medo. E sinto, João, uma imensa e desmedida solidão".

O estilo "cinematográfico" de Miguel Sousa Tavares, as surpresas e reviravoltas do romance, assim como o exotismo e sensualidade que emanam do texto fazem com que a leitura seja leve e agradável, sem desmerecimento do valor literário. Achei por bem não escrever uma resenha pormenorizada sob o risco de estragar o prazer da descoberta individual dos leitores. Vale lembrar que, assim como José Saramago, o autor também solicitou a manutenção da grafia original portuguesa nesta edição o que não interfere em nada com o prazer da leitura, associando talvez mais um elemento ao sabor do romance histórico.

Comentários

Li e gostei muito de Equador. Tem o seu "quê" de Eça na linguagem, não acha? Já li também, com muito gosto, o novo livro de Sousa Tavares, Rio das Flores. E mais contente fiquei ainda ao chegar ao final e passar os olhos pela bibliografia consultada pelo autor. Tá lá meu "Barões e escravos do café". He, he, he, toda prosa aqui.
Alexandre Kovacs disse…
Sonia Sant´Anna, escritora brasileira, revisora, tradutora e especializada em romances históricos. É claro que lembrei de você ao ler este romance e preparar a resenha. Tinha certeza de que já devia ter lido Miguel Sousa Tavares, só não podia adivinhar que já é uma autora incluída em bibliografias internacionais. Parabéns!

Ah sim, a fina ironia na crítica de costumes lembra muito Eça de Queirós. Quem sou eu para discordar de uma autora consagrada...

Obrigado Sonia, sua visita valoriza muito este espaço. Volte muitas outras vezes que será sempre bem vinda!
Menos, amigo Kovacs, menos, não estou com essa bola toda não. Mas agradeço de coração suas palavras amáveis.
Quantas informações importantes, primeiro pela leitura de "Equador", da qual gostei muito, segundo por saber de nossa amiga Sonia.
Parabéns pelo blog, adore estar aqui e rever o que li e o que de bom há na literatura.

bjs.


JU Gioli
Anônimo disse…
Caro Kovacs, ainda não fiquei animada com o filho da poeta não, mesmo com seu apoio nesses comentários e com o endosso da sonia, cujo site visitei e de gostei muito. Será que vou me apaixonar pelo livro?:) Só lendo, né não? :)
um abraço,
clara lopez
Alexandre Kovacs disse…
Ju Gioli, espero que a sua viagem pela Itália esteja sendo um sucesso (como podemos perceber pelas fotos do seu site). Obrigado por lembrar de passar por aqui. Aproveite bem!
Alexandre Kovacs disse…
Clara Lopez, bem lembrado, Miguel Sousa Tavares é filho da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004), ver abaixo um lindo exemplo do seu trabalho:

Exílio

Quando a pátria que temos não a temos / Perdida por silêncio e por renúncia / Até a voz do mar se torna exílio / E a luz que nos rodeia é como grades
Anny disse…
Kovacs:
Estava esperando você escrever sobre Equador. Vi tanta gente falar bem desse livro. E aí? Qual foi a sua opinião pessoal?
Ah, passei meu blog para o WP:

http://annylinhaozzy.wordpress.com/

http://annaozzy.wordpress.com/
Alexandre Kovacs disse…
Anny, um romance com uma narrativa rápida (jornalística?) e fortemente visual que certamente poderia originar um excelente roteiro cinematográfico, agradável de ler e, de certa forma, surpreendente em sua conclusão. Gostei e recomendo.

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