Will Self - A Guimba

Literatura inglesa contemporânea
Will Self - A Guimba - Editora Objetiva - Selo Alfaguara - 331 páginas - Publicação 2010 - Tradução de Cássio de Arantes Leite.

Já estava nos meus planos há algum tempo conhecer o trabalho do escritor britânico Will Self, que passou por aqui na FLIP de 2007, aclamado pela crítica pelo seu humor corrosivo e inteligência aguda na crítica de costumes da sociedade contemporânea. Adjetivos como criativo, alucinógeno, satírico e até mesmo profético são comuns nas resenhas de seus romances e contos. Na dúvida entre ler "Como Vivem os Mortos" (publicação 2000) ou "Grandes Símios" (publicação 1997), decidi começar com o romance "A Guimba" lançado este ano no Brasil pelo Selo Alfaguara (publicação original de 2008).

A ideia para o argumento deste livro, segundo o próprio Will Self (ver entrevista completa dele na Folha), surgiu durante uma viagem para a Austrália onde ficou surpreso com a rigidez das leis antifumo: "tão meticulosas que era ilegal fumar a 30 metros da entrada de prédios públicos, e linhas amarelas eram pintadas nas ruas e calçadas para garantir o seu cumprimento", ainda segundo Self e já antecedendo seu estilo característico: "Pareceu-me bem estranho que um país colonial há até pouco tempo tenha, em apenas oitenta anos, cometido o genocídio dos seus indígenas até impedi-los de fumar na rua".

Um país-continente fictício, provavelmente inspirado na Austrália, é o cenário deste romance que tem como protagonista Tom Brodzinski, um típico turista americano em visita de férias com a família e que, ao lançar a guimba de seu derradeiro cigarro da varanda do quarto de hotel, deflagra uma série de eventos ao ferir acidentalmente um velho cidadão britânico naturalizado e casado com uma nativa. Estes eventos se sucedem rapidamente, enquanto Tom vivendo um pesadelo kafkiano vê o espaço entre o paraíso turístico e a realidade política e social do país reduzir à medida em que é envolvido em um processo judicial de proporções alarmantes. Will Self demonstra o lado absurdo do Colonialismo e Neocolonialismo, algumas vezes de forma cômica (como nas proibições ao fumo) e outras francamente grotescas (nos rituais de iniciação e costumes locais) seja nas ações dos colonizados ou dos colonizadores.

Self não deixa pedra sobre pedra ao avançar com a sua sátira total e colocar Tom no centro de situações desesperadoras que culminam com a sua viagem-travessia do deserto, após ter sido abandonado pela família, até a tribo de aborígenes que deverá ser indenizada como reparação pelo seu erro. Uma galeria de personagens que inclui um inescrupuloso advogado local e o cônsul americano "honorário", que orientam Tom ao longo do seu processo judicial, além de outras autoridades e personalidades, como o "neuroantropólogo" von Sasser, que representam o poder de destruição e corrupção dos colonizadores nas sociedades do terceiro mundo, mas tudo isso com muito humor.

Comentários

Gerana Damulakis disse…
Dei uma olhada e não encontrei sedução suficiente, mas vc acabou de me incitar; terei que repensar.
Mi Müller disse…
Mais uma boa descoberta feita aqui no Mundo de K, deveras interessante esta resenha, gostei muito do argumento do livro, vou conferir com certeza.

estrelinhas coloridas...
Alex Zigar disse…
Li o trecho recomendado e achei muito divertido, crítico, ácido e ótimo. Mais uma excelente dica, Kovacs.

Abraços.
Alexandre Kovacs disse…
Gerana, recomendo que você leia pelo menos um livro dele. Depois conversamos. Por sinal, como vai a leitura de "As Benevolentes"?
Alexandre Kovacs disse…
Mi, obrigado pelo comentário gentil e sempre descubro coisas interessantes lá no "Bibliophile" também.
Alexandre Kovacs disse…
Alex, "ácido" é o termo correto para Will Self, que bom que gostou!
Gerana Damulakis disse…
Encontrei uma visão um tanto americanizada em As benevolentes, mas ainda não terminei. Imagine que, além dos livros que leio para fazer prefácios, estou lendo Ressurreição, de Tolstói, na bela edição da Cosac,só para citar um entre outros seis (pode me chamar de maluquinha).
Alexandre Kovacs disse…
Gerana, acho que sou um pouco obsessivo com essa coisa de leitura e livros, mas ainda não cheguei na sua marca de seis leituras em paralelo! :)

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