Os melhores livros e resenhas de 2019

Literatura contemporânea

Mais uma vez é chegado o momento das listas de final de ano. Esta não reflete somente os lançamentos de 2019, mas também as melhores resenhas de livros publicadas em ordem cronológica, como sempre com base apenas no meu gosto — sigam os links clicando no título dos livros para ler as resenhas completas. Desejo a todos um ótimo 2020 com muita literatura, cultura e arte em geral. Conto com a presença de vocês no Mundo de K!

Melhores livros do ano(01) Arundhati Roy - O Ministério da Felicidade Absoluta (resenha publicada em 06/01/2019)
 
Ao contar a trajetória de sua protagonista, Anjum, uma hijra ou kinnar, nomes como são chamados os hermafroditas, transexuais e eunucos na Índia, a autora escreve sobre a casta marginalizada, formada por comunidades religiosas hinduístas que praticam castrações de meninos em rituais místicos, tolerada no país onde, contraditoriamente, se considerava, até pouco tempo, um crime o homossexualismo. Só em 2018, a Suprema Corte da Índia descriminalizou a homossexualidade, revogando uma sentença de 2013 que punia "relações carnais contra a ordem da natureza" e criminalizava com penas de 10 anos de prisão as relações entre pessoas do mesmo sexo.
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Melhores livros do ano
(02) Natasha Tinet - Veludo Violento (resenha publicada em 08/01/2019)

A jovem autora vem se juntar a um grupo de poetas que tem alcançado reconhecimento de público e crítica, assim como uma maior visibilidade no mercado editorial, devido aos resultados expressivos obtidos nas premiações literárias nacionais, poetas que, mesmo sendo normalmente publicados apenas em livros de pequenas tiragens, por editoras independentes ou editais de incentivo à cultura, comprovam a existência de demanda por poesia, apesar das crises generalizadas que assolam o país. E Natasha Tinet não deixa por menos, fazendo seus poemas como devem ser feitos, falando de coisa séria, mas sempre com originalidade e bom humor.
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Melhores livros do ano
(03) João Paulo Parisio - Homens e outros animais fabulosos (resenha publicada em 20/02/2019)

Gosto muito quando a literatura contemporânea nos surpreende com textos originais, não somente pelo grau de experimentalismo ou rompimento com o cânone, mas também quando ocorre um fenômeno no sentido contrário e nos deparamos com um escritor que faz do seu ofício um cuidadoso artesanato, utilizando vocabulário erudito em uma estrutura narrativa tradicional para escrever contos modernos e com voz própria, ou seja, ao mesmo tempo em que dá continuidade ao trabalho de gerações anteriores, promove a renovação no cenário da ficção brasileira. Cada um dos dez contos do livro parece ter sido escrito por um autor diferente. 
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Melhores livros do ano
(04) Jhumpa Lahiri - O Xará (resenha publicada em 25/02/2019)

Gógol Ganguli é o protagonista de O Xará, filho de pais imigrantes bengalis que se mudaram de Calcutá para os Estados Unidos nos anos sessenta em busca de melhores oportunidades de trabalho. Depois de um casamento arranjado pelas famílias, o casal jovem e inexperiente encontra muitas dificuldades para se estabelecer longe de seu país natal, Ashoke é professor universitário de Cambridge e Ashima uma dona de casa que sente mais os efeitos da solidão, eles buscam conviver com outras famílias de imigrantes e manter os costumes religiosos e culturais de seus antepassados. 
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Melhores livros do ano
(05) João Guimarães Rosa - Grande sertão: veredas (resenha publicada em 25/02/2019)

Uma justa homenagem a um livro fundamental da literatura brasileira, romance-monumento para se ler e reler durante toda a vida e que permanece moderno e desafiador devido à sua estrutura complexa e ao experimentalismo linguístico. Esta edição da Companhia das Letras, nova detentora dos direitos de publicação da obra, seguiu o texto consolidado por Guimarães Rosa na segunda edição, publicada pela Livraria José Olympio Editora em agosto de 1958, incluindo ainda uma linha do tempo sobre a vida do autor e sua obra, indicações de leituras complementares e fortuna crítica sobre Grande sertão: veredas.
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Melhores livros do ano
(06) Thiago Medeiros - Claro é o mundo à minha volta (resenha publicada em 30/03/2019)

Thiago Medeiros "escreve para não esquecer de si mesmo", esta é a declaração que encerra a biografia resumida do autor no final do livro, muito mais do que uma linda frase – como ela realmente é –, resume um compromisso do escritor e poeta com tudo aquilo que é próprio da natureza humana ao se deparar com os sinais de sua grandeza e também de suas limitações. É na busca de sentido para uma breve e frágil existência que a literatura sempre oferece não uma explicação, mas ao menos algum tipo de conforto, uma espécie de alternativa para a religião, que me perdoem os leitores pela força de expressão.


Melhores livros do ano
(07) Luiz Antonio de Assis Brasil - Escrever Ficção (resenha publicada em 07/04/2019)

O nebuloso conceito de talento como um dom divino, inerente ao indivíduo e que, portanto, não pode ser construído ou desenvolvido, por meio de trabalho e dedicação, é prontamente descartado pelo autor no primeiro capítulo: "No campo literário, nunca vi palavra tão vazia" (p. 20), preferindo apostar nas expressões "competência especial", citando Haruki Murakami (p. 21) ou "vocação" que "leva o escritor a aperfeiçoar o seu ofício", segundo Alejo Carpentier (p. 22). E assim, logo de início, fica claro o método que será aplicado ao longo de todo o livro, os conceitos e ferramentas sempre exemplificados por meio de trechos de obras clássicas ou contemporâneas.
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Melhores livros do ano
(08) Lilia Guerra - Perifobia (resenha publicada em 19/05/2019)

Perifobia! O neologismo do título já oferece uma pista sobre os temas desenvolvidos por Lilia Guerra nesta compilação de narrativas curtas. A combinação de duas palavras existentes – periferia e fobia – cria uma nova expressão para um sentimento recorrente de preconceito, aversão ou até mesmo indiferença, demonstrado por grande parte da sociedade frente à população crescente de excluídos nas comunidades carentes dos grandes centros urbanos brasileiros. Este livro nos coloca do lado de dentro deste universo e, apesar dos difíceis conflitos que os personagens enfrentam no seu cotidiano, a escrita de Lilia Guerra transborda de lirismo e emoção.
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Melhores livros do ano
(09) Alberto Bresciani - Fundamentos de ventilação e apneia (resenha publicada em 08/06/2019)

Certos livros já desafiam o leitor a partir do título, como é o caso da mais recente antologia de poemas de Alberto Bresciani, Fundamentos de ventilação e apneia, cuja designação mais parece expressar um manual da área de biologia e fisiologia do que propriamente uma obra de poesia. Ledo engano, como logo veremos. O processo de ventilação pulmonar viabiliza a nossa frágil existência ao renovar o ar de modo espontâneo, possibilitando os ciclos de inspiração e expiração. Já a apneia, em contrapartida, representa a suspensão voluntária ou involuntária desse processo repetitivo, o que nos remete a uma irresistível aproximação com a morte.
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Melhores livros do ano
(10) Luiz Eduardo de Carvalho - Xadrez (resenha publicada em 25/06/2019)

O xadrez está longe de ser apenas um jogo. A estratégia e a pressão psicológica envolvida nas partidas reproduzem certas reações humanas de forma muito similar às situações que enfrentamos em nosso cotidiano, algo parecido com os textos de ficção na literatura. O autor conseguiu um feito inédito com este livro ao colocar o xadrez como elemento central da narrativa e não apenas uma referência secundária. No estilo de romance epistolar, o autor aborda duas atividades consideradas anacrônicas: escrever cartas e jogar xadrez por correspondência, para contar a história de dois homens que perderam toda a esperança no futuro.
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Melhores livros do ano
(11) Cinthia Kriemler - Tudo que morde pede socorro (resenha publicada em 03/07/2019)

Após ler o capítulo de abertura, não consegui evitar o arrepio de emoção e fiquei imaginando e avaliando – vício irritante de todo resenhista – como a autora vai conseguir manter o mesmo tom visceral ao longo de todo o romance? A analogia entre a armadilha velha e enferrujada que prende a pata da presa indefesa e a situação vivenciada por uma vítima de relação abusiva no próprio lar é tão brilhante quanto dolorosa. A importante função de denúncia é fundamental sem dúvida, mas é impossível não se encantar com a beleza da narrativa por si só. Aquele tipo de livro que incomoda e deixa marcas, como deve ser o objetivo de toda grande obra de literatura.
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Melhores livros do ano
(12) Ian McEwan - Máquinas como eu (resenha publicada em 15/07/2019)

Ian McEwan está de volta com o brilhantismo técnico de sempre, confirmando a sua posição de destaque na literatura inglesa contemporânea. Depois do romance Enclausurado, onde o mais improvável dos protagonistas, um feto no nono mês de gestação, é o responsável pela narrativa em primeira pessoa dentro da barriga da mãe, ele assume agora os riscos de trabalhar em seu mais recente lançamento com um tema já abordado muitas vezes na literatura e também no cinema: os dilemas éticos e morais decorrentes da convivência com androides dotados de aparência humana e alta inteligência cognitiva.
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Melhores livros do ano
(13) Maria Valéria Rezende - Carta à rainha louca (resenha publicada em 28/07/2019)

Maria Valéria Rezende já é um nome consagrado na literatura brasileira contemporânea, tendo sido vencedora de alguns importantes prêmios nacionais e internacionais com os livros: Quarenta dias (Jabuti 2015) e Outros cantos (terceiro lugar do Jabuti, São Paulo de Literatura e Casa de las Américas, todos em 2017). Seu mais recente lançamento é um romance histórico inspirado por cartas que a própria autora pesquisou há algum tempo entre os documentos do Arquivo Ultramarino de Lisboa, parte de um processo incompleto contra uma mulher acusada de manter um convento em Minas Gerais no século XVIII, sem autorização da igreja e da Coroa. 
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Melhores livros do ano
(14) Silvina Ocampo - A fúria e outros contos (resenha publicada em 01/09/2019)

É difícil entender como uma autora tão importante na literatura latino-americana tenha permanecido inédita no Brasil até hoje. Considerada uma das maiores contistas argentinas, Silvina Ocampo (1903-1993) é dona de um estilo único que se situa em uma região imprecisa entre o surrealismo, o realismo mágico e a literatura fantástica, porém não se enquadrando em nenhuma dessas categorias. Esposa de Adolfo Bioy Casares e amiga de Jorge Luis Borges, que dedicou a ela o seu primeiro conto publicado, “Pierre Menard, autor do Quixote” na revista literária “Sur”, da irmã Victoria Ocampo.
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Melhores livros do ano
(15) Itamar Vieira Junior - Torto arado (resenha publicada em 07/09/2019)

O romance de estreia de Itamar Vieira Junior já nasce com a força das obras clássicas, tanto na beleza e originalidade do texto quanto no caráter universal e humanista do tema, a história de gerações de uma mesma família de descendentes de escravos, vivendo em uma fazenda chamada Água Negra, na Chapada Diamantina, interior da Bahia, onde são mantidos outros trabalhadores rurais em regime de servidão, uma prática que, infelizmente, ainda permanece em muitas regiões formadas por latifúndios em nosso país. O livro vem preencher uma lacuna de obras na literatura brasileira sobre essa ferida social que ainda não conseguimos curar.
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Melhores livros do ano
(16) Paulo Scott - Marrom e Amarelo (resenha publicada em 22/09/2019)

Os temas abordados nos romances de Paulo Scott estão, infelizmente, cada vez mais inseridos nas questões sociais e políticas brasileiras atuais – apesar dos riscos de se escrever sobre uma história que ainda está acontecendo neste exato momento – e nos lembram da urgência de iniciarmos a construção de um país melhor para todos, sem polarizações e com imparcialidade. O corajoso romance é muito bem-vindo porque ajuda a delimitar um espaço histórico importante na encruzilhada social e política que vivemos hoje, indispensável para os amantes da literatura e cidadãos de uma forma geral que ainda se preocupam com justiça e dignidade.
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Melhores livros do ano
(17) Bruno Vieira Amaral - Hoje estarás comigo no paraíso (resenha publicada em 29/09/2019)

O livro tem como ponto de partida as memórias familiares do autor, testemunhos de amigos e registros de imprensa e judiciais da época, assim como muita imaginação, para tentar preencher as lacunas sobre um fato real ocorrido há mais de trinta anos, o assassinato de seu primo João Jorge Rego, degolado aos vinte e um anos, em uma madrugada de Carnaval em 1985, no mesmo bairrro do Vale da Amoreira, subúrbio de Lisboa, em que viviam, acusado de roubar porcos. O autor tinha apenas sete anos nessa época e lembrava muito pouco do primo, que nascera em Angola, um dos muitos imigrantes das ex-colônias portuguesas da África.
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Melhores livros do ano
(18) Deborah Dornellas - Por cima do mar (resenha publicada em 02/11/2019)

O romance de estreia de Deborah Dornellas, vencedor do Prêmio Casa de Las Américas, categoria Literatura Brasileira, surpreende pelo cuidado e veracidade na criação da protagonista, Lígia Vitalina da Conceição Brasil, uma mulher negra que relembra passagens de sua vida desde a infância pobre em Ceilândia até o tempo presente, já casada e morando em Angola. Uma obra que reflete sobre a diáspora dos africanos "que ficaram pelo caminho, mortos nos porões dos navios-túmulos e jogados ao mar-túmulo" ou "mortos logo ao chegar à terra estranha". A personagem faz uma travessia Atlântica inversa, retornando ao local de origem dos antepassados.
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Melhores livros do ano
(19) Patti Smith - O ano do macaco (resenha publicada em 15/11/2019)

Assim como Just Kids, vencedor do National Book Award de 2010 e Linha M, seus dois livros anteriores lançados no Brasil, O ano do macaco também não pode ser classificado em uma única categoria, seja autobiografia, ficção, ensaio ou poesia, apresentando uma mistura de todas elas ao mesmo tempo, assim como a performática poeta, compositora, escritora e artista plástica Patti Smith, sem falar nas citaçoes musicais e literárias que extrapolam em muito as referências locais da cultura norte-americana. A prosa poética original foi preservada na excelente tradução de Camila von Holdefer – uma das melhores críticas literárias e resenhistas do país.
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Melhores livros do ano
(20) Chico Buarque - Essa gente (resenha publicada em 30/11/2019)

Ao focar a ação no tempo presente, o autor corre o risco de assumir uma literatura panfletária em função da atual tendência de polarização política, uma vez que Chico Buarque é um dos alvos prediletos da direita, contudo, no final, ganha o leitor ao se reconhecer nessa gente que vive na caótica cidade do Rio de Janeiro, entre a praia e a favela, em situações nas quais o absurdo da realidade cotidiana supera a ficção mais delirante. O protagonista, Manuel Duarte, é um escritor decadente que atravessa um período de bloqueio criativo, além da crise financeira e emocional depois da segunda separação.
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Comentários

Cinthia Kriemler disse…
Obrigada! Fiquei muito honrada em constar dessa lista de peso! Beijão
Alexandre Kovacs disse…
Cinthia, eu é que agradeço o comentário e parabéns pelo livro!

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