Anton Tchekhov - O Assassinato e Outras Histórias
Anton Tchekhov - O Assassinato e Outras Histórias - Editora Cosac Naify - 263 páginas - Publicação 2002 - Seleção, Tradução e Prefácio de Rubens Figueiredo.
"Depois de se escrever um conto, deve-se cortar o início e o fim, pois é aí que nós, escritores, mais mentimos" declarou Anton Pavlóvitch Tchekhov (1860-1904) ao colega escritor Ivan Bunin. Essa idéia resume bem uma parte da arquitetura narrativa utilizada por Tchekhov nos contos incluídos nesta coletânea, todos pertencentes à última fase de sua obra, onde o bom humor dá espaço a uma descrição fria e detalhada da vida miserável das aldeias russas no final do século XIX. Tchekhov foi, sem dúvida, um mestre na técnica do conto e conseguiu assegurar o seu lugar na literatura russa em um cenário dominado pela prosa dos grandes romances de Turguêniev, Tolstói e Dostoiévski, sendo que ele, em oposição aos seus contemporâneos, não se enquadrou em qualquer engajamento moral, político ou religioso.
No prefácio de Rubens Figueiredo, "A ficção da indiferença", o método crítico ou estratégia literária de Tchekhov, nestes contos, é bem explicada: "Os leitores russos se haviam acostumado a tomar os escritores como campeões de credos políticos e religiosos mas, no caso de Tchekhov, esbarravam em textos obstinadamente inconclusivos. Mais grave ainda, as suas entrelinhas pareciam indicar que tanto as grandes sínteses intelectuais quanto os padrões de pensamento herdados pelos costumes serviam antes para encobrir a realidade."
A realidade é apresentada sem atenuantes no conto "Os Mujiques" com todos os detalhes possíveis da degradação humana decorrente da extrema pobreza. Uma narrativa que só encontra paralelo no romance "Germinal" do francês naturalista Émile Zola (1840-1902). O próprio Tolstói, que idealizava a classe camponesa, classificou o conto de "um pecado contra o povo russo".
Como sempre a bem cuidada produção da Cosac Naify, incluída na coleção Prosa do Mundo, acrescentou nesta edição, além do ótimo prefácio de Rubens Figueiredo, cinco cartas de Tchekhov e sugestões de leitura para análises criticas e biografias do autor. Uma prova de que existe espaço para a qualidade no mercado editorial brasileiro.
"Depois de se escrever um conto, deve-se cortar o início e o fim, pois é aí que nós, escritores, mais mentimos" declarou Anton Pavlóvitch Tchekhov (1860-1904) ao colega escritor Ivan Bunin. Essa idéia resume bem uma parte da arquitetura narrativa utilizada por Tchekhov nos contos incluídos nesta coletânea, todos pertencentes à última fase de sua obra, onde o bom humor dá espaço a uma descrição fria e detalhada da vida miserável das aldeias russas no final do século XIX. Tchekhov foi, sem dúvida, um mestre na técnica do conto e conseguiu assegurar o seu lugar na literatura russa em um cenário dominado pela prosa dos grandes romances de Turguêniev, Tolstói e Dostoiévski, sendo que ele, em oposição aos seus contemporâneos, não se enquadrou em qualquer engajamento moral, político ou religioso.
No prefácio de Rubens Figueiredo, "A ficção da indiferença", o método crítico ou estratégia literária de Tchekhov, nestes contos, é bem explicada: "Os leitores russos se haviam acostumado a tomar os escritores como campeões de credos políticos e religiosos mas, no caso de Tchekhov, esbarravam em textos obstinadamente inconclusivos. Mais grave ainda, as suas entrelinhas pareciam indicar que tanto as grandes sínteses intelectuais quanto os padrões de pensamento herdados pelos costumes serviam antes para encobrir a realidade."
A realidade é apresentada sem atenuantes no conto "Os Mujiques" com todos os detalhes possíveis da degradação humana decorrente da extrema pobreza. Uma narrativa que só encontra paralelo no romance "Germinal" do francês naturalista Émile Zola (1840-1902). O próprio Tolstói, que idealizava a classe camponesa, classificou o conto de "um pecado contra o povo russo".
Como sempre a bem cuidada produção da Cosac Naify, incluída na coleção Prosa do Mundo, acrescentou nesta edição, além do ótimo prefácio de Rubens Figueiredo, cinco cartas de Tchekhov e sugestões de leitura para análises criticas e biografias do autor. Uma prova de que existe espaço para a qualidade no mercado editorial brasileiro.
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Comentários
deixo aqui a dica de um site onde o tradutor dele nos eua disponibilizou todos os contos de graça: http://chekhov2.tripod.com/
abraços!
Me lembrei de um trecho de Viagem, de Graciliano, que copio abaixo. As referências nao sao Tchekhov mas Tolstoi. Mais quand même:
"...Que esperava? Bem. Aquilo, exatamente aquilo. O homem deu um passo, murmurou uma palavra, sorrindo. Era ele. Demorara-me a procura-lo sem saber que o procurava. era um mujique, certamente.Ignorava onde o vira mas conhecia bem aquele sorriso, as palpebras engelhadas. Desde a véspera estivera a busca-lo na multidao; (...) Onde vira aquelas rugas, aquele sorriso? No Cadaver vivo, talvez. Nao, devia ser o criado paciente de Ivan Ilitich. (...) A personagem de romance apareceu de novo (...) atirou-me um agradecimento largo." ( 30-junho-1952).
Abraços,
Eliana
Segui os seus conselhos ao narrar e aprendi com ele -Tchekov -, como fazer para escrever. Claro que não aprendi. Apenas penso ter assimilado as idéias básicas. Só escrever sobre aquilo que você viu.
Descreva, deixe que as pessoas leiam e aproveitem.
Assim como aprendi com o Lobo Antunes ser um bom leitor. Confesso também que não aprendi. Às vezes lemos com pressa e a mensagem se esvai.
E aí entra a genialidade, eles ensinam a receita e não conseguimos seguir.
Você acertou em cheio, admiro demasiado esse grande médico e loucamente sensível russo.
Grande abraço. Como sempre. Ah, isso aprendi direito.
Seu blog está com pots ótimos. Então vou começar por aqui.
Pois é, sabe que este é um bom livro para me dar de presente ou de ganhar?
Adorei sua dica.
Abraço.
um abraço,
clara
Já andei apreciando este livro várias vezes nas livrarias. O problema é a tal da prioridade, não dá tempo para ler e não há $ para comprar tudo ao mesmo tempo.
Grande abraco, Chico
Há um bom tempo acompanho seu blog. Suas resenhas são muito boas.
Estudei Tchekhov recentemente no curso de Letras. Esse aparente "nada acontecer" na obra dele é desconcertante . Recomendo vivamente o conto "A dama do cachorrinho".
Gostei muito de sua resenha. Lembrei=me de dois livros:
- Lendo Tchekov, de Janet Malcom e Tatiana Belinky - que traz na primeira parte, "uma viagem à vida do autor" (texto da Janet) e na segunda parte 37 contos de Tchekov (tradução da Tatiana);
- e o livro: Para ler como um escritor, de Francine Prose, onde temos um capítulo chamado "aprendendo com Tchekov" - neste capitulo lembro dela contar que ao dar aulas nas oficinas de literatura, tudo que ela falava aos alunos que não se poderia fazer em um conto, na semana seguinte acabava descobrindo um texto do Tchekov em que ele o fazia magistralmente. Ler Tchekov passou a ser uma recomendação básica dela para os alunos candidatos a escritores.
Abraços,
Iêda