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Mostrando postagens de novembro, 2023

Abaixo da bandeira - Fábio Mariano, Gabriel Morais Medeiros e Whisner Fraga

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Abaixo da bandeira - Fábio Mariano, Gabriel Morais Medeiros e Whisner Fraga - Editora Ofícios Terrestres - 176 Páginas - Ilustração de capa: Las camas de la muerte, Goya - Design de capa: Carla Dias - Lançamento: 2023. Esta antologia de contos é o resultado de um projeto contemplado pelo ProAC 24/2022, de realização da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. A ideia básica da edição foi a de reunir três autores brasileiros contemporâneos com diferentes estilos, mas um único tema. Fábio Mariano, Gabriel Morais Medeiros e Whisner Fraga escrevem sobre situações vivenciadas no Brasil nos anos recentes, alguns temas sombrios e perturbadores, tais como a pandemia de COVID-19, a crise no sistema educacional e o recente extremismo político que transformou a bandeira nacional em manto patriótico para alguns e, ao mesmo tempo, mortalha para outros, como bem destacado na apresentação da Editora Ofícios Terrestres e na ilustração de capa com a obra de Goya que

Perci Guzzo - Na nervura da folha

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Perci Guzzo - Na nervura da folha - poesia, 2017-2022 - Corixo Edições - 104 Páginas - Coordenação editorial: Volnei Andrade - Lançamento: 2023. O mais recente lançamento de Perci Guzo é uma antologia de poemas relacionados à necessidade de preservação da natureza, principalmente nas grandes metrópoles onde o homem precisa se contentar com as poucas praças que restam: "Ainda nos restam as praças / Esses oásis em áridas urbers" (Início do ocaso - p. 26). Em alguns poemas, os versos assumem um caráter de urgência e resistência política: " Quero me opor / Bater de frente / Tête-a-tête / Interferir / Perpassar / Rasgar o verbo / Em campos de soja / Sobre uma lata de 60 litros / de agrotóxico, / E discursar a favor de todas as abelhas ausentes" (p. 61). Uma obra que nos alerta para o perigo de uma vida automática e sobre o que realmente deveria ter sentido: "Então choveu muito / Ventou forte / Despencou granizo / E árvores caíram. / Luzes permaneceram apagadas /

Tito Leite - A palavra em seu deserto

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Tito Leite - A palavra em seu deserto - Editora Cloé - 84 Páginas - Editoração e Capa: Marcelo Torres - Diagramação: Carlos André - Lançamento: 2023 O sagrado e o profano convivem em harmonia nas três partes que compõem esta antologia de poemas: " A loucura é bilíngue" , " A lua guarda um segredo violáceo" e " O agora é o já e o ainda não" . De fato, Tito Leite, Filósofo e Monge Beneditino, surpreende pelo modo "selvagemente santo de amar" (Devires Confusos - p. 39), neste caso, inadequação parece ser uma palavra-chave para entender o homem por trás desses versos: "Para o poeta, a liberdade / é o solo de uma cigarra / acompanhada por uma gaita. // Acontece que a música cessa, / o dia fenece e a estátua / de um coronel permanece. // O poeta lê Drummond. / Cansado de um mundo / que amanhece em falta, // pergunta ao pai: é crível / fazer brotar / uma flor no mercado? // Feito uma tartaruga / sem casco. O poeta e o pai, / ambos fora do lugar.

João Carlos Leite - O invisível em toda plenitude

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João Carlos Leite - O invisível em toda plenitude - Editora Penalux - 202   Páginas Capa e diagramação: Talita Almeida - Lançamento: 2023. O lançamento de João Carlos Leite, "O invisível em toda plenitude" ,  tem características de romance de formação, aventuras e crítica social em proporções equilibradas, ligadas por uma narrativa segura que alterna a condução principal em terceira pessoa com alguns trechos na voz de um personagem inusitado, o cachorro Magrelo. Em um momento no qual a literatura contemporânea busca o rompimento com as estruturas tradicionais, o autor resgata alguns ingredientes clássicos que tornaram o gênero de romance um sucesso de entretenimento desde o século XVIII, apesar de ter se tornado ao mesmo tempo um conceito abstrato e supostamente indefinível, devido à variedade de estilos que surgiram ao longo do tempo. Neste romance, o protagonismo é dividido entre os dois irmãos órfãos, Laurindo e Pedro, que abandonam a região rural para tentar a sorte na ci

Alexei Bueno - A noite assediada

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Alexei Bueno - A noite assediada - Editora Patuá - 116 Páginas - Editor: Eduardo Lacerda C apa e projeto gráfico: Victória Cortez - Lançamento: 2022. Um livro difícil de definir: poemas em prosa ou contos poéticos? Na verdade, isso não importa. Deixar-se levar pelas imagens e reflexões de Alexei Bueno sobre a beleza e o horror do cotidiano, a passagem do tempo, enfim a própria vida, isto sim é importante.  Por exemplo, OS VELHOS, reproduzido integralmente abaixo, é um verdadeiro soco no estômago, uma composição que somente um artista maduro poderia ter escrito, verdadeiramente lindo e doloroso ao mesmo tempo. Não me canso de ler e reler essa composição que parece resumir a tragédia de se encontrar em uma idade na qual "tudo ficou atrás, e tudo está atrás. Atrás estão, mais do que tudo, os corpos amados, os adorados corpos, poças únicas do esquecimento. [...]" A obra reúne textos escritos em duas épocas distantes, em 1982, aos 19 anos de Alexei Bueno, e depois em 2021 e também

Matheus Borges - Mil placebos

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Matheus Borges - Mil placebos - Editora: Uboro Lopes - 192 Páginas -  Concepção de capa e de miolo: Bloco Gáfico - Revisão e Diagramação: Daniel V. Mansur - Lançamento: 2022. O protagonista imaginado por Matheus Borges em seu romance de estreia é um representante da nossa era digital que prioriza a informação, frequentemente distorcida ou totalmente falsa, em detrimento do conhecimento tradicional. Uma pessoa caracterizada por um padrão de distanciamento e desinteresse pelos relacionamentos presenciais, assim como portador de uma desconfiança generalizada, normalmente expressa em teorias da conspiração, sinais que demonstram transtornos de personalidade facilmente identificáveis nas redes sociais os quais, eventualmente, se potencializam em situações de violência no mundo dito real. O autor conduz muito bem a sua estratégia de utilizar um solitário protagonista esquizoide e, portanto, nada confiável, para envolver o leitor em uma série de possibilidades e impedir uma definição simplist

Thiago Medeiros - Dias depois saímos do leprosário

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Thiago Medeiros - Dias depois saímos do leprosário - OIA Editora - 142 Páginas - Capista e Diagramador: Carlos Benevides - Ilustrador: Bezerro de Ouro - Lançamento: 2022. Neste seu mais recente lançamento, Thiago Medeiros lida com a poesia em versos inspirados na vida pós-pandemia COVID-19, ainda sob o recente impacto de uma distopia que nenhuma ficção poderia ter imaginado. C ontudo, este resumo é insatisfatório para uma obra que trata de temas tão abrangentes quanto família, religião e a própria fragilidade da natureza humana. Sempre atento ao ritmo e à  oralidade dos seus versos, o autor renova a mágica da literatura ao alcançar a universalidade por meio de um regionalismo que canta ao mesmo tempo a esperança e a desesperança, como destacado pelo poeta Mailson Furtado na orelha do livro, a ambiguidade de um sentimento tão  representativo desse sertão que existe dentro de todos nós. Thiago sabe como utilizar a sua habilidade de prosador para transmitir uma intensa carga emocional em