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Mostrando postagens de junho, 2022

Rebeca Liberbaum - O coração e outras armadilhas

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Rebeca Liberbaum - O coração e outras armadilhas - Editora Patuá - 152 Páginas - Capa, projeto gráfico e diagramação de Alessandro Romio - Lançamento: 2022. Na urgência típica dos livros de estreia, a jovem carioca Rebeca Liberbaum apresenta uma variedade de estilos e temas em sua coletânea de contos O coração e outras armadilhas , mas todos com uma mesma origem, a emoção envolvida em nossas relações ao longo da vida, seja no sentido de força ou de fragilidade: amor, ódio, preconceito, perdas, enfim todas aquelas interações sociais que nos definem como seres humanos ou – infelizmente em alguns casos – nem tão humanos assim. Para isso serve a literatura, como Rebeca bem define: "na mão um isqueiro uma lanterna um clarão / na fração do momento / se ouve se sente se vê / o coração" Com relação à forma, a autora mantém o interesse renovado do leitor com diferentes técnicas, algumas mescladas, por exemplo narrativas velozes, inteiramente na forma de diálogos ( Parece o céu, não pa

Leonardo Brasiliense - Peixe estranho

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Leonardo Brasiliense - Peixe estranho - Editora Companhia das Letras - 120 Páginas - Capa e imagem: Mateus Valadares - Lançamento: 2022. Em seu mais recente romance, Leonardo Brasiliense lida com um protagonista que apresenta uma extrema dificuldade de comunicação. Após dois  relacionamentos fracassados, Marvin encontrou em Analice a mulher ideal: " Bonita, bem-vestida, educada e paciente... Analice é perfeita. Ela é uma boneca de silicone." Fácil perceber que  Marvin é um weird fish ,  "aquele tipo estranho que fica lá, no fundo escuro do oceano mais fundo, onde a luz não chega e de onde ele precisa fugir..." ,  como na letra de Thom Yorke do Radiohead, uma banda que é uma verdadeira obsessão para o protagonista (e também para o resenhista, diga-se de passagem). Ao narrar os detalhes da rotina de Marvin e Analice, sentados no sofá da sala ao final da noite, olhos fixos na TV, o autor nos mostra o absurdo de um relacionamento entre um homem e uma boneca de silicone

Flávio Izhaki - Movimento 78

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Flávio Izhaki - Movimento 78 - Editora Companhia das Letras - 184 Páginas Capa de Celso Longo - Lançamento: 2022. O que surpreende neste mais recente lançamento de Flávio Izhaki é o invejável virtuosismo literário com que soube conduzir as vozes de diferentes gerações do seu protagonista com saltos temporais entre passado, presente e futuro – não necessariamente nesta ordem – em um convincente e consistente romance distópico no qual aborda um tema já clássico no gênero: as consequências da nossa crescente dependência tecnológica e do uso indiscriminado da inteligencia artificial. Apesar da ambiciosa estrutura não linear no tempo e da diversidade estilística, o autor consegue manter o ritmo narrativo e o interesse do leitor do início até o final. Sendo assim, cada capítulo é imprevisível, tanto na forma quanto no conteúdo, e podemos presenciar um acirrado debate eleitoral entre Seiji Kubo – talvez o último candidato humano na história – e Thomas Beethoven, um holograma gerado por inteli

André Luiz Pinto - Balanço - Poemas reunidos (1990-2020)

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André Luiz Pinto - Balanço - Poemas reunidos (1990-2020) - Editora Patuá - 276 Páginas - Capa, projeto gráfico e diagramação de Alessandro Romio - Lançamento: 2021. O livro é uma coletânea de poemas de André Luiz Pinto cobrindo um período de 30 anos (1990-2020), dividido em 13 partes, cada uma com seleções de diferentes livros. Logo, não se trata de reunir todos os poemas publicados ao longo do tempo, mas sim (re)ordená-los segundo uma nova distribuição temática, como bem explicado no prefácio de Diana Junkes: "Inseridos num conjunto rememorativo e celebrativo dos trinta anos de atividade, cada poema terá seu corpo e voz, mas esta voz ganha outro timbre, um novo balanço, ao mesmo tempo que, sendo parte de uma memória, é eco e silêncio, traz neste timbre um resto de percurso, um lastro de desejos recônditos, amargo e sublime – no que pode ser sublime para um poeta cerebral, filosófico e bastante afetivo com as coisas mais simples da vida, com os laços pequeninos entre os seres.&quo

Abdulrazak Gurnah - Sobrevidas

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Abdulrazak Gurnah - Sobrevidas - Editora Companhia das Letras - 336 Páginas - Tradução de Caetano W. Galindo - Capa de Oga Mendonça - Lançamento: 2022. Em 2021 o romancista Abdulrazak Gurnah da Tanzânia foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura "por sua compreensão intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes" , na definição da Academia Sueca. Gurnah nasceu em 1948 e cresceu na ilha de Zanzibar, chegando na Inglaterra na década de 1960 como refugiado. Ele começou a escrever aos 21 anos de idade em inglês sobre o tema cada vez mais atual, infelizmente, dos refugiados. Entre seus dez romances publicados, os mais famosos são Paradise e Desertion , ambos ainda sem edições em português. Este seu mais recente lançamento, publicado originalmente em 2020, é o primeiro livro do autor traduzido no Brasil e tem como pano de fundo a história da colonização europeia ao longo do século XX na África Oriental:

Louise Glück - Receitas de inverno da comunidade

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Louise Glück - Receitas de inverno da comunidade - Editora Companhia das Letras - 88 Páginas - Tradução de Heloisa Jahn - Capa de Daniel Trench - Lançamento: 2022. Em 2020 a Academia Sueca surpreendeu, como sempre, ao anunciar a poeta norte-americana Louise Glück como Prêmio Nobel de Literatura "por sua inconfundível voz poética que, com beleza austera, transforma a existência individual em universal" . Na época, sem livros traduzidos no Brasil, a autora era praticamente desconhecida por aqui e talvez em boa parte do mundo, apesar das premiações constantes em seu país, por exemplo, em 2016 recebeu a condecoração National Humanities Medal do então presidente dos EUA, Barack Obama. A tal "beleza austera" está presente também no mais recente lançamento de Louise Glück, primeiro livro após ter sido laureada com o prêmio Nobel. Nesta bem-cuidada edição bilíngue estão reunidos quinze poemas que lidam com a  passagem do tempo e a proximidade da morte, ou seja, a nossa frag

Leonard Cohen - A chama: Poemas, letras, desenhos, notas

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Leonard Cohen - A chama: Poemas, letras, desenhos, notas - Editora Companhia das Letras - 608 Páginas - Tradução: Caetano W. Galindo - Capa: Rafaela Romaya - Ilustração de capa: Leonard Cohen - Lançamento: 2022. Um lançamento para iniciados e não iniciados na arte do homem que compôs o clássico hino do rock Hallelujah , uma única canção que já justificaria toda uma carreira, contudo há muito mais na obra do músico e poeta canadense Leonard Cohen (1934-2016). O livro, organizado por seu filho Adam Cohen, reúne 63 poemas inéditos escritos ao longo de toda uma vida, letras de músicas dos últimos quatro álbuns, assim como notas e desenhos, a maioria autorretratos, extraídos dos cadernos de anotações do autor. Nesta edição bilíngue consta também o discurso de agradecimento do artista ao receber o prêmio Príncipe das Astúrias, na Espanha, em 2011.  Leonard Cohen descobriu a literatura cedo, publicando romances e poesia, antes de iniciar a sua trajetória como músico somente aos trinta anos: