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Mostrando postagens de setembro, 2020

Leonardo Almeida Filho - Tutano

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Leonardo Almeida Filho - Tutano - Editora Patuá - 208 Páginas - Projeto gráfico e Diagramação de Leonardo Mathias - Lançamento: 2020. Nesta bonita edição da Patuá, os poemas de Leonardo Almeida Filho dividem espaço com as fotografias de Wanderson Alves , que não se constituem apenas em mera ilustração para este livro, mas sim em verdadeiros "poemas iconográficos em branco e preto" , autônomos em sua expressão artística porque  "nos fazem refletir sobre o tempo, a existência, a morte, exatamente como faz um grande poema quando nos toca" , esclarece o próprio Leonardo em sua nota de apresentação.  Tutano é um título que expressa muito bem a matéria essencial dos versos; em uma das muitas acepções da palavra representa a medula óssea, responsável pela produçao das células do sangue que, em última análise, tem a função de oxigenar e defender o organismo, uma imagem que condiz muito bem com o fazer poético.  E não há escolha quando a poesia nos pega assim desprevenidos,

Guille Thomazi - Segure mnha mão

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Guille Thomazi - Segure minha mão - Editora Patuá - 248 Páginas - Projeto gráfico e Diagramação de Alessandro Romio - Lançamento: 2020. O texto de apresentação de Daniel Galera, na orelha do livro, dá uma boa pista do que iremos encontrar neste segundo romance de Guille Thomazi:  " Há ecos do sulismo gótico de William Faulkner e Cormac McCarthy aqui. Mas Thomazi é original em tentar levar a poética da brutalidade encontrada nesses autores, a uma espécie de paroxismo estético, no qual a técnica e o engenho humano se contrapõem à essência selvagem e à carne mortal dos seres vivos. [...]".  E, realmente, constatamos que em Segure minha mão , o autor vai ainda mais além na estética da violência, construindo uma espécie de romance épico no qual o seu protagonista, Olek, um herói clássico, embora gago e epilético, mantém as suas virtudes morais, apesar do meio inóspito em que sobrevive, tentando superar as circunstâncias adversas, tanto no enfrentamento da natureza selvagem quanto

Jeferson Tenório - O avesso da pele

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Jeferson Tenório - O avesso da pele - Editora Companhia das Letras - 194 Pág. - Capa: Alceu Chiesorin Nunes - Imagem de capa: Antônio Obá, trampolim - banhista - Lançamento: 10/08/2020. Com rara habilidade na condução das vozes narrativas, Jeferson Tenório surpreende em seu mais recente lançamento, tanto pela urgência do tema quanto pelo virtuosismo técnico da obra.  O romance demonstra os mecanismos de perpetuação do racismo em nossa sociedade e os traumas causados pelo preconceito racial e exclusão social nas relações familiares e também na formação da identidade dos personagens.  O narrador é Pedro, um estudante de arquitetura negro de 22 anos que tenta reconstituir a história do pai, Henrique, professor de literatura na rede pública, assassinado em um episódio de violência policial na cidade de Porto Alegre. A engenhosa técnica de variação constante das vozes narrativas é muito bem executada pelo autor, que conduz a estrutura principal com base em um falso modo de segunda pesssoa,

Rafael Zoehler - Testado em Animais

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Rafael Zoehler - Testado em Animais - Editora Patuá - 164 Pág. - Capa, Projeto gráfico e Diagramação: Alessandro Romio - Lançamento: 2020. A antologia de contos  Testado em animais , livro de estreia d e Rafael Zoehler, vem com um elogioso texto de orelha de Marcelino Freire que, no seu usual estilo sem papas na língua, resume bem os motivos pelos quais devemos prestar atenção no jovem autor: "Não é metido a besta. Escreve que é uma beleza. Com facilidade. Sem delongas. Sem firulas".  Na minha avaliação, acrescentaria – sem a vivacidade descritiva de um Marcelino Freire – que a técnica utilizada no livro é eficiente porque desperta a curiosidade e prende a atenção do leitor com base em um ótimo ritmo narrativo e diálogos precisos que sempre acrescentam elementos ao detalhamento do enredo. Inspirados no realismo fantástico de Julio Cortázar e em referências da literatura kafkiana, os contos têm em comum o bom humor e a presença de animais ou de seres humanos que se comportam c

Marcos Vinícius Ferreira de Oliveira - As Mãos Ásperas

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Marcos Vinícius Ferreira de Oliveira - As Mãos Ásperas - Editora Patuá - 148 Pág. - Ilustração, Projeto gráfico e Diagramação: Leonardo Mathias - Lançamento: 2020. Ao focar as narrativas de seus contos em uma pequena cidade – Cataguases, no interior de Minas Gerais – com personagens simples que resistem à violência diária de uma vida sem perspectivas, o autor nos ensina, assim como outros exemplos na literatura que, quanto mais regional e intimista o recorte, maior o caráter universal da obra. O desafio é mostrar nesses protagonistas de "mãos ásperas" os traços de uma humanidade ainda possível, que não se deixa eliminar apesar de tudo, seja pelo preconceito racial ou pela exclusão social. O escritor e crítico Ronaldo Cagiano resumiu muito bem a força universal dos contos no texto de apresentação do livro, pequenas jóias sob a aspereza das vidas ordinárias: "[...] O que temos aqui são protagonistas vivendo sua realidade de limbo, de ruínas emocionais, enovelados em camisa

Angélica Freitas - Canções de Atormentar

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Angélica Freitas - Canções de Atormentar - Editora Companhia das Letras - 112 Pág. - Capa Ale Kalko (Foto de Capa: Mirror, de Camile Sproesser, 2019, óleo sobre linho) - Lançamento: 05/08/2020. Em seu terceiro livro, depois dos premiados  Rilke shake (Cosac Naify, 2007) e  Um útero é do tamanho de um punho (Cosac Naify, 2012), a  poesia forte e feminina da gaúcha Angélica Freitas amadurece sem dúvida, mas continua afiada e divertida (mesmo quando trata de coisas sérias), sintonizada com a rebeldia dos corações jovens, essa postura tão necessária para confrontar a realidade de um mundo cada vez mais absurdo ( a poetisa é legal / o que ela escreve não faz mal // a poetisa tem um blog / onde ela posta canções de rock // a poetisa lançou um livro // "o escaravelho do descalabro" // ela escreveu ajoelhada no milho // a poetisa é boa pra caralho [...] ). Em Canções de Atormentar  o arsenal da poeta pode variar da autobiografia até a crônica sobre a vida nas grandes cidades, algum