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Mostrando postagens de janeiro, 2022

Sinara Foss - Plural de fêmeas

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Sinara Foss - Plural de fêmeas - Editora Bestiário - 94 Páginas - Projeto gráfico: e-design - Fotografia de capa: Joe Nicolay - Lançamento: 2021. É fácil perceber que a inspiração de Sinara Foss em seu mais recente lançamento, Plural de fêmeas , está no noticiário dos grandes centros urbanos brasileiros, nas ocorrências de homicídios passionais e na prática recorrente de misoginia. Todos os dezenove contos do livro são protagonizados por mulheres na fictícia cidade de Vinha d’Alho, algum lugar no interior do Rio Grande do Sul e, em cada narrativa, encontramos situações extremas de desespero e violência que provocam ações inesperadas das personagens em confronto com as regras impostas por uma sociedade patriarcal que as oprime. Em um estilo muito próximo do clima fantástico e de terror da argentina Samanta Schweblin , as protagonistas sofrem traições e agressões em um cotidiano do qual não conseguem escapar. A  autora dividiu esta antologia em quatro seções temáticas: " Vingança, u

Eric Nepomuceno - Coisas do mundo

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Eric Nepomuceno - Coisas do mundo - Editora Patuá - 230 Páginas Ilustração, Projeto gráfico e Diagramação: Leonardo Mathias - Lançamento: 2021. Se há uma coisa que podemos afirmar com certeza do escritor, jornalista e tradutor Eric Nepomuceno é que ele é o mais latino-americano dos nossos autores; talvez por ter traduzido obras de Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Eduardo Galeano e Gabriel García Márquez, entre outros, tenha de alguma forma assimilado um pouco do estilo de cada um desses escritores.  O relançamento pela Editora Patuá da antologia de contos Coisas do mundo , quase trinta anos após a sua publicação original, é uma ótima oportunidade para constatar a originalidade e atualidade dos textos após a passagem do tempo e uma chance de reler um autor que tem o seu lugar garantido entre os grandes nomes da literatura brasileira. Em cada uma das narrativas da antologia, identificamos uma atmosfera mágica tangenciando a realidade e criando uma espécie de univeso pa

Milton Ribeiro - Abra e Leia

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Milton Ribeiro - Abra e Leia - Editora Zouk - 150 Páginas - Capa de Emanuelle Farezin - Lançamento: 2021. Milton Ribeiro é uma das pessoas mais inteligentes e bem-humoradas que você vai encontrar no facebook, mesmo que este humor seja um tanto ácido ou carregado de ironia às vezes, mas não é culpa dele o crescente número de idiotas úteis que desafiam a nossa paciência, espalhando bobagens nas redes sociais. Há alguns anos acompanho os seus artigos como jornalista na mídia tradicional e também nos blogs  que ele mantém desde 2003, uma inspiração para todo resenhista. Em 2018, Milton realizou um sonho de adolescência transformando-se em livreiro aos 60 anos, quando adquiriu a tradicional Bamboletras em Porto Alegre. E, n o final do ano passado, mais um antigo projeto foi cumprido sob a pressão dos muitos amigos da área de literatura: a publicação de Abra e Leia , seu primeiro livro.  Os 22 contos desta antologia foram escritos ao longo dos anos e não apresentam uma unidade temática, long

Dau Bastos - Morte certa

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Dau Bastos - Morte certa - Editora Patuá - 276 Páginas Ilustração, Projeto gráfico e Diagramação: Leonardo Mathias - Lançamento: 2021. Em certo ponto do romance, Dau Bastos define a importância das plantações de cana na nossa identidade como nação, destacando a versatilidade do vegetal que se transforma em açúcar, cachaça e combustível e a sua capacidade de oferecer, respectivamente, doçura, animação e energia. Contudo, um cultivo que, apesar da suposta importância econômica, está diretamente associado à escravidão, miséria e morte. A recente mudança da cana para a pecuária representa um problema ainda maior que é prenunciado pelo "sumiço tanto de vegetação quanto de gente" , a aproximação do sertão até a  "desertificação fatal da zona da mata" . Este é o contexto do romance Morte certa , situado na zona canavieira alagoana no final dos anos 80 e início dos anos 90, época do processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor e da falência generalizada dos dono

Alessandro Barbero - Dante: A biografia

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Alessandro Barbero - Dante: A biografia - Editora Companhia das Letras - 432 Páginas - Tradução de Federico Carotti - Capa de Riccardo Falcinelli - Lançamento: 2021. A Divina Comédia , escrita por Dante Alighieri (1265-1321)  é uma das obras mais importantes da literatura universal, um poema épico dividido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso, escrito no dialeto florentino, em oposição ao latim, e que se tornou a matriz do que entendemos hoje por língua italiana. No entanto, o que mais surpreende nesta biografia é a atuação política e militar do "poeta supremo", como Dante costuma ser chamado hoje, que foi exilado em janeiro de 1302 após um confronto violento entre duas facções políticas rivais de Florença na época: os "Brancos" e os "Negros", uma divisão do partido então no poder, os Guelfos. O livro começa com uma descrição detalhada da batalha de Campaldino (1289) onde lutaram florentinos contra o exército da região de Arezzo. A participação ne

A fina flor de Stanislaw Ponte Preta

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A fina flor de Stanislaw Ponte Preta - Seleção e apresentação de Alvaro Costa e Silva Editora Companhia das Letras - 360 Páginas - Capa de Mateus Valadares - Lançamento: 2021. O brasileiro é um craque na arte de escrever crônicas, fato comprovado pelas gerações de grandes escritores que se tornaram mestres no gênero em todas as épocas, tais como: Machado de Assis, João do Rio, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues, Millôr Fernandes, João Ubaldo Ribeiro e Luis Fernando Verissimo, para citar apenas alguns nomes mais conhecidos. Neste time há um lugar garantido para Sérgio Porto (1923-1968) ou, como ficou conhecido, Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo inspirado no personagem Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade; dono de um estilo sintetizado no seu Febeapá: "Festival de Besteiras que Assola o País", uma coleção de crônicas irreverentes e de teor anedótico, bem

Afonso Cruz - Princípio de Karenina

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Afonso Cruz - Princípio de Karenina - Editora Companhia das Letras - 200 Páginas - Capa: Claudia Espínola de Carvalho, Fotos de capa e miolo de Afonso Cruz - Lançamento: 2021. A famosa abertura de Anna Kariênina , de Tolstói,  "Todas as famílias felizes se parecem; todas as infelizes são infelizes à sua maneira" , é recriada pelo português Afonso Cruz em seu próprio romance: "Eu seria muito infeliz num mundo feliz. Ela seria feliz em qualquer mundo. Esta história, minha e da tua mãe, é também a tua." ; aqui a frase funciona também como o início de uma longa carta de um pai para a filha que não conheceu. Este pai será o narrador-protagonista contando-nos a história de sua vida desde a infância com a ajuda de citações que variam de Tolstói até Guimarães Rosa: "Infelicidade é questão de prefixo. [...] e que viver é um rasgar-se e remendar-se" , uma obra original e sensível, boa oportunidade para conhecer um pouco mais da literatura contemporânea portuguesa. A

Heloisa Seixas - O livro dos pequenos nãos

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Heloisa Seixas - O livro dos pequenos nãos - Editora Companhia das Letras - 144 Páginas - Capa e foto de capa: Milena Galli - Lançamento: 2021. O romance de Heloisa Seixas é inspirado nos pequenos nãos que mudam as histórias, no poder das pequenas decisões de momento, muitas vezes impensadas, mas que são capazes de alterar o nosso destino para o bem ou para o mal. Mas, afinal, existe um destino imutável e preconcebido ou tudo se resume a "um deus perverso e manipulador chamado Acaso mexendo as cordas por mexer",  criando a ilusão de um possível livre-arbítrio? Tema fascinante que a autora, uma tremenda contadora de histórias, desenvolveu com narrativas distanciadas no tempo e espaço, mas que guardam entre si algum tipo de ligação entre os personagens. No livro, o eixo narrativo principal conta a trajetória de Lia, uma misteriosa protagonista, ao longo de uma noite de sábado no Rio de Janeiro de 2018. O ponto de partida é um jantar com uma amiga em um tradicional point carioc