Alessandro Barbero - Dante: A biografia

Biografia
Alessandro Barbero - Dante: A biografia - Editora Companhia das Letras - 432 Páginas - Tradução de Federico Carotti - Capa de Riccardo Falcinelli - Lançamento: 2021.

A Divina Comédia, escrita por Dante Alighieri (1265-1321) é uma das obras mais importantes da literatura universal, um poema épico dividido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso, escrito no dialeto florentino, em oposição ao latim, e que se tornou a matriz do que entendemos hoje por língua italiana. No entanto, o que mais surpreende nesta biografia é a atuação política e militar do "poeta supremo", como Dante costuma ser chamado hoje, que foi exilado em janeiro de 1302 após um confronto violento entre duas facções políticas rivais de Florença na época: os "Brancos" e os "Negros", uma divisão do partido então no poder, os Guelfos.

O livro começa com uma descrição detalhada da batalha de Campaldino (1289) onde lutaram florentinos contra o exército da região de Arezzo. A participação nesta batalha demonstra que Dante, apesar da dedicação aos estudos e do talento nato para a poesia, não vivia fora do contexto político da época, "era jovem como todos os outros – e ser jovem significava também ir à guerra quando a pátria assim exigia". Como descreve o autor, não podemos ter certeza disso, mas de acordo com a biografia de Leonardo Bruni de 1436, Dante estava entre os 150 cavaleiros que foram escolhidos para ficar à frente dos demais, "seriam os primeiros a se lançar à carga, caso se decidisse pelo ataque, ou os primeiros a sofrer a investida, caso fosse o inimigo a atacar."

"Dante nasceu e viveu até os 35 anos numa cidade que, para a época, era enorme: com seus 100 mil habitantes, era uma das maiores metrópoles da Europa. Seus mercadores operavam em todas as cidades do mundo cristão e seus banqueiros administravam as finanças do papa, isto é, da mais colossal organização multinacional existente no mundo. Os lucros eram vertiginosos, os enriquecimentos rapidíssimos, a mobilidade social mais importante do que em qualquer outro lugar, e, apesar disso, a ganância, a inveja e o medo entre os florentinos, em vez de se aplacar, tornavam-se sempre mais ferozes, envenenando o convívio coletivo: é compreensível que quem vivia às margens de tais contatos, mergulhado nos livros e se contentando em viver comodamente de rendas, como Dante, visse com desprezo os protagonistas dessas relações. A questão, no entanto, é mais complicada do que isso, e ao longo da vida Dante expressou ideias contraditórias sobre a nobreza, isto é, sobre a importância de ter antepassados: eram diversas de acordo com o momento, a ponto de fazer pensar numa evolução de suas ideias a esse respeito e, ainda mais, conforme estivesse abordando a questão em termos teóricos ou falando muito concretamente sobre si e sua família." (pp. 24-5)

Na Florença do século XIII, ter um sobrenome era a comprovação de que se pertencia a uma família conhecida e influente. "Ter sobrenome era como ter brasão: não era para qualquer um e atestava uma posição social elevada. Reconhecia-se de pronto a identidade de quem pertencesse a uma família com sobrenome: era, de todo modo, alguém mais importante do que um Buonaiuto do finado Ponzio qualquer." No entanto, não significava pertencer à nobreza, nem algum tipo de privilégio jurídico. Os Alighieri podiam se orgulhar de ter sobrenome havia quatro gerações.

Dante conheceu Beatriz Portinari, a filha de Folco di Ricovero Portinari aos nove anos e ela teria apenas oito anos, embora não se tenha certeza da veracidade desse encontro. Ele voltaria a vê-la somente aos dezessete anos em um encontro casual na rua, nessa ocasião ela já era casada com Simone de' Bardi que pertencia a uma famíla de grandes banqueiros de Florença. Beatriz morreu aos 25 anos. Esta estranha paixão, que nunca se concretizou, transformou-se em um amor platônico, marcando para sempre a obra de Dante.

"É o próprio Dante que relata, na 'Vida nova', o encontro entre ambos. Ele estava para completar nove anos e ela acabava de completar oito: estamos, portanto, na primavera de 1274. Dizemos que ele 'relata', mas não é verdade, pois não apresenta nenhuma cicunstância, a não ser que Beatriz usava um vestidinho vermelho-sangue e que ele se apaixonou por ela naquele mesmo instante. Devemos acreditar nessas afirmações e, em especial, na idade dos dois protagonistas? Dante apresenta a 'Vida nova' como um capítulo extraído do livro 'livro de minha memória', mas os estudiosos se perguntam, e com razão, se o autor de uma obra que, para todos os efeitos, é literária e, digamos, até um romance, precisaria, ao se introduzir como personagem, respeitar fielmente os fatos nos quais se inspirara. A importância do número 9 na simbologia dantesca pode nos fazer desconfiar das idades e, portanto, da data: nunca saberemos se, afinal, ele não teria inventado inclusive o fato de tê-la encontrado pela primeira vez quando ambos eram crianças." (p. 75)

O historiador Alessandro Barbero utilizou não somente documentos, cartas e certidões que sobreviveram à passagem do tempo, mas também outras biografias famosas sobre Dante escritas anteriormente, como as de Boccaccio e de Leonardo Bruni, assim como trechos de livros do poeta florentino, principalmente da obra-prima Divina Comédia e dos tratados: Sobre a línguagem do vulgar, Monarquia e Convívio, além da autobiografia Vida nova. 

Sobre o autor: Alessandro Barbero leciona história medieval na Universidade do Piemonte Oriental, em Vercelli. Venceu o prêmio Strega em 1996 com o romance histórico Boa vida e guerras alheias do fidalgo Mr. Pyle. Entre suas obras estão: O dia dos bárbaros: 9 de agosto de 378; Dizionario del Medioevo e Medioevo: Storia di voci, racconto di immagini, ambos com Chiara Frugoni; e Donne, Madonne, mercanti e cavalieri: Sei storie medievali.

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