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Mostrando postagens de junho, 2025

André Giusti - Só vale a pena se houver encanto

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André Giusti - Só vale a pena se houver encanto - Editora Caos & Letras - 360 Páginas - Projeto gráfico: Cristiano Silva - Capa: Eduardo Sabino - Lançamento: 2025. Depois da excelente coletânea de contos As filhas moravam com ele , André Giusti estreia no romance com um protagonista que carrega muito de si: Alessandro Romani, jornalista e escritor, um sobrevivente de classe média e meia-idade, apaixonado por rock, blues e bons vinhos. Traz nas costas o peso de demissões, amores fracassados, conflitos pessoais e familiares, além de uma consciência política incômoda nas redações e assessorias de imprensa de Brasília entre 2002 e 2016. É provável que, como eu, o leitor se identifique com algumas das desventuras e conquistas desse anti-herói que tenta preservar sua integridade — e o vínculo com as três filhas — enquanto a sociedade restringe suas opções e o afasta dos sonhos da juventude. Alguns eventos recentes da política nacional são retratados como pano de fundo da trajetória pess...

Han Kang - Sem despedidas

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Han Kang - Sem despedidas - Editora Todavia - 272 Páginas - Tradução de Natália T. M. Okabayashi Capa: Marcelo Delamanha - Lançamento: 2025. O lançamento mais recente da sul-coreana Han Kang, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2024, é um romance ainda mais complexo e desafiador do que o seu anterior  A vegetariana . Uma obra difícil de ler e ainda mais difícil de resenhar, na qual a autora confunde os limites entre sonho e realidade, passado e presente, vida e morte, ao explorar as dualidades da natureza humana. Fiel à tendência de suas obras anteriores, Han Kang incorpora à narrativa episódios marcantes da história recente da Coreia do Sul.  Após o final da Segunda Guerra Mundial, a península coreana foi dividido pela metade pelos Estados Unidos e então União Soviética, criando assim a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, divisão que originaria a Guerra da Coreia em 1950. Antes desse conflito, entre 1948 e 1949, a ilha vulcânica de Jeju foi palco de um massacre brutal, ...

Ricardo da Paz - Notas infames na cidade

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Ricardo da Paz - Notas infames na cidade - Editora Patuá - 108 Páginas -  Projeto gráfico: Henrique Lourenço - Lançamento: 2025. Os contos de Ricardo da Paz revelam com sensibilidade as desigualdades sociais na periferia de São Paulo nos anos 1990, seguindo a linha de autores como Luiz Ruffato, Marcelino Freire e, mais recentemente, Lilia Guerra. A obra proporciona ao leitor a oportunidade de se surpreender e emocionar diante de personagens invisíveis, mas profundamente reconhecíveis em nosso cotidiano, uma verdadeira legião de excluídos que sobrevivem nas comunidades carentes dos grandes centros urbanos brasileiros, enfrentando preconceito, aversão e, muitas vezes, indiferença, resultante das ações (ou omissões) do Estado e das instituições oficiais no acesso diferenciado aos serviços públicos básicos, tais como: segurança, saúde, educação e justiça. Já no forte conto de abertura, o narrador-protagonista não nomeado, que identificamos apenas como Raio , descreve a sua trajetória d...

Paulo Fraga-Queiroz - Pássaros de giz

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Paulo Fraga-Queiroz - Pássaros de giz - Editora 7Letras - 120 Páginas Capa: Gesse Colares - Desenho de capa: Sérvulo Esmeraldo O poeta sabe que a infinita luta com as palavras é a sua companheira das madrugadas, como dizia Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) no clássico O Lutador:   "Lutar com palavras / é a luta mais vã. / Entanto lutamos / mal rompe a manhã. [...]" E, de fato, nos versos de Paulo Fraga-Queiroz percebemos essa busca incansável pela palavra exata:  "à sua maneira / minera / a própria alma / entre a lama / e o suor / rompe a fronteira / nada lhe resta / além da eterna peneira [...]" - O poeta insone procura (p. 69). A poesia e os poetas são temas recorrentes neste livro, como em Drummond, em seu bronze habitual (p. 56), uma joia da metapoesia inspirada na estátua do nosso eterno e universal poeta que, por falta de definição melhor, chamamos de modernista. Escrever poemas é, de certa forma, flertar com a ilusão da eternidade, uma tarefa inútil ...