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Mostrando postagens de março, 2021

Milton Coutinho - No domínio de Suã

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Milton Coutinho - No domínio de Suã - Editora 7Letras - 324 Páginas - Ilustração de capa: Heitor dos Prazeres, Morro da Mangueir a [óleo sobre tela, 1965] - Lançamento: 2021. Milton Coutinho demonstra domínio da linguagem e segurança narrativa em seu mais recente lançamento ao  confundir os limites entre ficção e realidade em um exercício constante de  metaficção e intertextualidade  no melhor estilo de escritores como Italo Calvino e  Enrique Vila-Matas, sem contudo deixar de flertar com a técnica e ironia machadianas como, por exemplo, no clássico romance Memórias Póstumas de Brás Cubas . Trata-se, portanto,  de uma obra na qual as memórias literárias e artísticas do autor assumem um papel central no contexto narrativo. O tom irônico e provocativo  está presente logo no  título, uma referência ao primeiro volume –  No caminho de Swann  – de  Em busca do tempo perdido  de Marcel Proust, de caráter memorialístico, contrastando com a autobiografia do  personagem-narrador Marcel Celano à

Lucas Verzola - A última cabra

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Lucas Verzola - A última cabra - Editora Reformatório - 133 Páginas - Imagem de capa: Joel Sartore, Mountain goat - Design e editoração eletrônica: Negrito Produção Editorial - Lançamento: 2019. Nos dez contos de A última cabra , os protagonistas são confrontados em situações de aparente normalidade que testam os seus limites éticos, morais e psíquicos, seja nas relações artificiais do ambiente de trabalho, na intimidade do lar ou até mesmo na simples rotina de levar os filhos na barbearia, algo desagradável está sempre prestes a ocorrer com esses personagens sem esperança e envolvidos por um ambiente de violência e solidão, típico dos grandes centros urbanos. As epígrafes do livro são muito bem selecionadas e oferecem uma pista das referências que inspiraram a composição e seleção de cada um dos contos, gêneros que variam do realismo brutal (Roberto Bolaño, Raduan Nassar e Rubem Fonseca) até a literatura fantástica (Jorge Luis Borges e Murilo Rubião), resultando em estilo próprio que

João Paulo Parisio - Retrocausalidade

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João Paulo Parisio - Retrocausalidade - Cepe Editora - 428 Páginas - Projeto gráfico e capa de Luiz Arrais - Lançamento: 2020. Vencedor do 6º Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura (antigo Prêmio Pernambuco de Literatura), representando a Região Metropolitana do Recife, o romance de João Paulo Parisio consolida o nome do autor no cenário da nova literatura brasileira, um destaque merecido depois do seu elogiado livro de contos Homens e outros animais fabulosos de 2018. O conceito de retrocausalidade, associado à física quântica e à filosofia, inverte a causalidade, ou seja, considera que um efeito possa preceder a sua causa, fazendo com que passado, presente e futuro percam a sua relação de precedência, imaginem as inúmeras possibilidades deste conceito no campo da literatura. Na verdade, Retrocausalidade não se enquadra no formato tradicional de um romance e é composto, em suas mais de quatrocentas páginas, por uma variedade de gêneros: novelas, contos, fragmentos e ensaios, fazen

Mariana Basílio - Mácula

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Mariana Basílio - Mácula - Editora Patuá - 208 Páginas Capa, projeto gráfico e diagramação de Alessandro Romio - Lançamento: 2020. Mácula é o mais recente livro de poesia de Mariana Basílio, um corajoso projeto que demonstra lucidez e engajamento político ao registrar o maldito ano de 2020, "o ano que durou dez anos" – e as consequências da pandemia de COVID-19 em nosso cotidiano – a partir de 50 poemas que tiveram os seus títulos selecionados em uma pesquisa que consultou 266 participantes nas redes sociais, sobre qual seria a palavra da vida das pessoas naquele dia 9 de junho de 2020, quando imaginávamos estar passando pelo auge da transmissão do vírus, triste esperança como sabemos hoje. A obra pretende ser, portanto, uma representação da sociedade brasleira neste período histórico, refletindo sobre os dramas individuais e coletivos. A epígrafe de Carlos Drummond de Andrade, referência constante nos versos de Mariana Basílio, nos alerta para o protagonismo da dor nesta o

Jung Chang - Três irmãs

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Jung Chang - Três irmãs: As mulheres que definiram a China moderna - Editora Companhia das Letras - 392 Páginas - Tradução de Odorico Leal - Capa de Claudia Espínola de Carvalho - Lançamento: 2021. O mais recente lançamento da escritora chinesa, radicada em Londres, Jung Chang, autora de Cisnes selvagens , é uma biografia que mais parece um romance ao descrever em detalhes os bastidores das grandes reviravoltas políticas da China ao longo de todo o século XX, tais como: a queda da Monarquia da Dinastia Qing provocada pelo revolucionário Sun Yat-Sen em 1911, a ascensão do movimento nacionalista liderado por  Chiang Kai-Shek em 1928, a luta contra a invasão do Japão no período da Segunda Grande Guerra, o governo comunista e totalitário de Mao Tsé-tung que controlou o país de 1945 a 1976, chegando finalmente ao regime de transição para o sistema de economia de mercado com Deng Xiaoping nos anos noventa. Sempre atuantes em todas essas etapas da história chinesa e global estavam as três irm

Whisner Fraga - O que devíamos ter feito

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Whisner Fraga - O que devíamos ter feito - 164 Páginas - Editora Patuá - Ilustração, Projeto gráfico e Diagramação de Leonardo Mathias - Lançamento: 2020. O mais recente livro de Whisner Fraga marca o seu retorno às narrativas curtas – depois do romance O privilégio dos mortos  –  com uma antologia de contos que demonstra o amadurecimento de uma técnica refinada e original, tanto na forma quanto no conteúdo dos textos, construídos com base em uma prosa poética e  reflexões instigantes dos personagens ao serem confrontados com os impasses existenciais, morais e políticos da atualidade, fazendo pensar em nossas próprias escolhas ao longo da vida, principalmente se considerarmos o título como um questionamento, ainda que possa ser interpretado também como afirmação. Contudo, em ambos os casos, a sensação é de um amargo arrependimento. Whisner lança mão de  um procedimento já utilizado no seu romance anterior, espécie de falso diálogo entre o narrador-personagem e uma misteriosa e constant