Nicanor Parra (1914-2018)

Poesia
Morreu, aos 103 anos, o chileno Nicanor Parra (1914-2018), "antipoeta" como ele mesmo se definia, foi também físico e matemático. Seu livro mais famoso, Poemas e Antipoemas (1954), se tornou um clássico da literatura latino-americana. Ele foi vencedor do Prêmio Cervantes de Literatura 2011 e considerado um dos maiores poetas chilenos, ao lado de Pablo Neruda, Gabriela Mistral e Vicente Huidobro. 

Segundo Carlos Nejar, escreveu no excelente artigo: "Nicanor Parra e Vinícius de Moraes", publicado em edição bilingue pela Academia Brasileira de Letras e Academia Chilena de la Lengua: "Nicanor Parra, rebelde, contrário ao sistema que impõe suas regras, às vezes estranho, fantástico, antissentimental, forjou seus antipoemas, ainda que 'com odor delicado de violetas', para expressar seu descontentamento com o rumo da literatura tradicional, operando com força desmistificadora. (...) o antipoema abriga a poesia ao avesso, poesia integralmente, sem rasuras, caminhando contra a maré das leis canônicas de uma criação estética bem comportada, em geral modulando a técnica do ritmo, sem o estuário das rimas (o que não quer dizer que não as use, episodicamente) que singularizam a lira tradicional."
MULHERES
(Nicanor Parra)

A mulher impossível,
a mulher de dois metros de estatura,
a senhora de mármore de Carrara
que não fuma nem bebe,
a mulher que não fica nua
por temor de engravidar
a vestal intocável
que não quer ser mãe de família,
a mulher que respira pela boca,
a mulher que caminha
virgem para a câmara nupcial
porém que reage como homem,
a que se desnudou por simpatia
por encantar-se com musica clássica,
a ruiva que ficou de bruços,
a que só se entrega por amor,
a donzela que enxerga com um só olho,
a que apenas se deixa possuir
no divã, à borda do abismo,
a que odeia os órgãos sexuais,
a que casa somente com um cão,
a mulher que se faz de adormecida
(o marido a ilumina com um fósforo),
a mulher que se entrega porque sim

porque a solidão, porque o esquecimento...
a que chegou moça à velhice,
a professora míope,
a secretária de óculos escuros,
a senhorita pálida de lentes
(ela não quer nada com o falo),
todas estas valkírias
todas estas matronas respeitáveis
com seus lábios maiores ou menores
terminarão tirando-me do juízo.

Comentários

Mariana disse…
Excelente lembrança, deste poeta, e o link, de fato, imperdível. Obrigada!
Alexandre Kovacs disse…
Lígia, fico feliz que tenha gostado!
Alexandre Kovacs disse…
Mariana, muito boa lembrança lá no seu blog de Neil Young também!

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