Neve - Orhan Pamuk

Prêmio Nobel
Orhan Pamuk - Neve - Editora Companhia das Letras, 487 páginas, lançamento 17/10/2006. Tradução feita com base na tradução inglesa, "Snow" de Maureen Freely.

A narrativa complexa e ao mesmo tempo elegante de Orhan Pamuk, ganhador do prêmio Nobel de Literatura 2006, descreve o choque entre o radicalismo islâmico e as influências da cultura ocidental na Turquia moderna, demonstrando intolerâncias e incoerências de ambas as correntes.

Kerim Alakusoglu, poeta turco conhecido por seu apelido ocidentalizado Ka, retorna a Istambul após 12 anos de exílio na Alemanha para o enterro de sua mãe, mas é na pequena cidade de Kars onde quase toda a narrativa é concentrada no período de três dias em que a cidade fica isolada por uma tempestade de neve.

Neste período, Ka prepara uma reportagem sobre a onda de suicídios de jovens muçulmanas que se recusam a abandonar o véu exigido pelo Corão e proibido nas escolas pelo governo turco e acaba participando involuntariamente de um golpe político local resultante dos conflitos raciais, políticos e étnicos da Turquia.

O texto abaixo extraído do diálogo entre Ka e o jovem fundamentalista Necip, atormentado pelo questionamento da própria fé (capítulo 16 - "Onde Deus não existe") é um bom exemplo do lirismo amargurado de Pamuk.
"Dentro de vinte anos — em outras palavras, quando você tiver trinta e sete anos - você finalmente terá entendido que o mal do mundo — isto é, a pobreza e a ignorância dos pobres e a esperteza e dissipação dos ricos — e toda a vulgaridade do mundo, toda a violência, toda a brutalidade — isto é, todas as coisas que nos enchem de culpa e nos fazem pensar em suicídio — decorrem do fato de todo mundo pensar igual"
Pamuk questiona a relação entre fé e religiosidade, ingredientes perigosos para um escritor no mundo muçulmano. Impossível não pensar em Salman Rushdie que foi condenado à morte pelo aiatolá Khomeini por seu excelente romance de 1988 "Os Versos Satânicos".

Comentários

Anônimo disse…
Kovacs,
Li sua conclusão, mas o livro não tive oportunidade para comprar.
Você me animou.
Alexandre Kovacs disse…
Querida amiga Olga, se consegui te animar já valeu o tempo perdido.
Barros (RBA) disse…
Parabéns pela iniciativa do Blog.Finalmente consegui ter tempo de escrever algo.
Não sei como vc consegue ter tempo de trabalhar na Kromav, ser pai do Gustavo, ler tantos livros e ainda editar um blog.
Quanto a este livro e seu autor, é uma excelente escolha, porem fico intrigado com o seguinte:
Por que só depois de ganhar o premio Nobel em 2006 se tornou um best-seller? Até então, era completamente desconhecido do publico em geral, seus trabalhos não eram mencionados na mídia, e as editoras quase não o publicavam no Brasil.
Alexandre Kovacs disse…
Querido amigo Barros,
Entendo que este livro se tornou um best-seller devido às pessoas pensarem se tratar de algo como "o livreiro de kabul" ou "o caçador de pipas" ou qualquer coisa semelhante na onda de lançamentos sobre islamismo e oriente. A capa sem dúvida ajudou muito, assim como a premiação Nobel de 2006. Enfim, este livro se tornou um best-seller por vários motivos, menos o que deveria ser o principal: trata-se de uma obra de valor literário indiscutível.
Barros (RBA) disse…
Concordo com você, mas quando coloquei a questão tinha uma intenção um pouco mais ampla para provocar a discussão.
Isto aqui não é uma lista de discussão, mas não posso deixar de aproveitar para colocar mais polêmica e agitação no seu Blog (ou quem sabe, podemos abrir um outro Blog para discussões de temas interessantes). Então ai vai:
Podemos fazer uma analogia com a premiação do Oscar no Cinema e pensar se não seria interessante que a premiação adotasse alguns procedimentos similares como p/ex:
- premiação dividida por categorias (ficção, não ficção, poesia, humor, infanto-juvenil, biografia, autor revelação, etc., e ainda, o melhor dos melhores de todas as categorias)
- Divulgar os 5 que foram indicados pela pré-seleção do comitê (pela regra atual os indicados só podem ser divulgados após 50 anos!)
Acho que isso abriria as informações e opções para o publico em geral, servindo para ampliar a discussão, a promoção dos indicados, aumentar suas vendas e por ai vai. Poderíamos como acontece no cinema, descobrir alguns indicados que não ganharam prêmios até melhores ou mais interessantes do que os que ganharam. Notaríamos também os interesses políticos e econômicos na escolha dos premiados a exemplo do que acontece no cinema.
Em fim, acho que o processo “Sueco” do premio Nobel coloca todas as fichas num só quando poderia ampliar seu alcance e ajudar a promover a literatura de forma melhor.
Alexandre Kovacs disse…
Seu comentário foi tão interessante que publiquei uma postagem sobre o tema: "Prêmio Nobel de Literatura". Obrigado e espero contar sempre com a sua participação.
Barros (RBA) disse…
E como você citou Salman Rushdie em seu texto sobre Orhan Pamuk, não posso deixar de mencionar seu livro "Os filhos da meia-noite". Alem deste livro de ter conquistado o Booker Prize em 1981, também ganhou em 1993 o Booker of Bookers Prize, conferido ao melhor livro dos primeiros 25 premiados por esta instituição.
Uma premiação muito justa para uma verdadeira obra-prima. Leitura imperdível!
Alexandre Kovacs disse…
Preciso ler "Os filhos da meia-noite" urgentemente, está na minha lista de prioridades. De Salman Rushdie só li até hoje "Os Versos Satânicos" e "O Último Suspiro do Mouro".
Márcia Nogueira disse…
Oi, gente! Que bom que encontrei um "lugar" como esse aqui. Eu estava mesmo procurando informações sobre o Neve e encontrei mais que isso. Encontrei gente que ama literatura... como eu.
Amanhã, compro o Neve. E vou dar uma pausa na minha obsessão de ler toda a obra do Saramago.
Enquanto eu estiver lendo, comento mais por aqui.
Kovacs, o que vc me diz de Saramago? É difícil encontrar pessoas que falem sobre isso. A maioria não consegue passar do segundo capítulo... heheheheh...
Tenho apresentado seus livros a jovens com quem eu trabalho e o resultado tem sido ótimo. Quanto mais cedo os garotos conhecem a boa literatura, mais cedo se livram do que tenham fazê-los acreditar que é bom...
Gostei de conhecer você!
Até breve.
Márcia
Alexandre Kovacs disse…
Márcia, fiquei contente com sua visita e comentário e ainda mais feliz por você se declarar leitora compulsiva do Saramago (assim como eu). Você será sempre muito bem vinda por aqui.

Aqui neste mundo comentei pouco sobre Saramago, pois já havia lido seus livros há algum tempo (este espaço foi criado em janeiro 2007).

Mais uma vez obrigado pela visita e parabéns pelo bom gosto.
Márcia Nogueira disse…
Se não lê Saramago há muito tempo, anota aí!!! O Homem Duplicado, lançamento do ano passado, é imperdível!!!
Poderíamos fazer uma troca... enquanto eu leio o Neve, vc lê O Homem Duplicado e a gente vai comentando!
Eu que o parabenizo pela iniciativa desse blog.
Beijos.
Alexandre Kovacs disse…
Márcia, li sim "O homem duplicado" que, na verdade, é de 2002. O problema com Saramago é que é muito difícil controlar a ansiedade aguardando cada novo lançamento que nem sempre consegue manter o altíssimo nível de obras anteriores como "Ensaio sobre a Cegueira".

É o caso de "O Homem Duplicado". Um livro excepcional se não considerarmos que é de Saramago. Caso contrário, acabamos um pouco decepcionados.
Anônimo disse…
Estou com o livro na prateleira faz tempo e ainda não comecei a ler! Deu texto me deu um up...certeza que vou começar hoje!
Valeu!
Alexandre Kovacs disse…
Fabiana, você não vai se arrepender, posso garantir. Aproveite e leia também "Meu Nome é Vermelho" de Orhan Pamuk.
Anônimo disse…
Engraçado desse livro é que peguei muitas citações, mas não consegui terminar de ler o livro. Achei que o autor enrolou demais e se perdeu nos questionamentos de "ateísmo" que li quando indicaram o livro.
Alexandre Kovacs disse…
Poetriz, acho que vale começar com Pamuk pelo seu romance "Meu Nome é Vermelho". Você vai gostar, posso garantir. Depois acabará dando uma nova chance a "Neve".
nostodoslemos disse…
Querido amigo K,

Interessante.
Ainda não tinha lido.
Sds,
Alexandre Kovacs disse…
Cara Lígia, Orhan Pamuk é um autor fantástico, vale a pena conhecer.
Wagner (warodrig@terra.com.br) disse…
Eu acabei de ler Neve e adorei, chegando até a me empolgar com as últimas páginas e o distanciamento que o autor propõe nas palavras de um dos personagens. Queria saber se existe alguma base história à narrativa, em relação ao golpe que ocorre na cidade de Kars e direciona todo o romance. Recomendo e estou indo comprar O Livro Negro...
Anônimo disse…
Olá, meu nome é Aryane e eu tenho 16 anos. Onde eu moro só tem 2 bibliotecas e todas elas ficam a 30min. da minha casa, se for de carro, por isso, só posso ir em uma de 2 em 2 semanas. Ontem fui em uma delas e achei esse livro em uma das ultimas prateleiras, estava meio empoeirado e tenho quase certeza que fui uma das primeiras garotas a pega-lo. Antes de começar a lê-lo, queria saber um pouco mais, pois não gosto de abandonar um livro pela metade. Muito obrigada, você me deixou com vontade de lê e descobrir um pouco mais sobre esta história. Assim que terminar, venho aqui deixa o meu comentario sobre o que eu achei.

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