Juan Carlos Onetti - A vida breve
Juan Carlos Onetti - A vida breve - Editora Planeta - 360 páginas - Publicação 2009 - Tradução de Josely Vianna Baptista.
Realidade e ficção se confundem na prosa dolorosa, amarga e desesperançada do uruguaio Juan Carlos Onetti (1909-1994), referência e influência na literatura moderna latino-americana em obras de escritores como Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa. O argentino Julio Cortázar (1914-1984) outro escritor difícil e original, apontava Onetti como "o maior romancista latino-americano".
Em "A vida breve", considerado pelo próprio Onetti como seu melhor romance e publicado originalmente em 1950, o publicitário fracassado Juan María Brausen, está obcecado pela intervenção cirúrgica que sua mulher sofrerá para retirada de um seio, como Onetti descreve pela ausência no seguinte trecho:
"Então terá chegado a hora de minha mão direita, a hora da farsa de apertar no ar, exatamente, uma forma e uma resistência que já não existiam e que ainda não tinham sido esquecidas por meus dedos. Minha mão terá medo de tornar-se exageradamente côncava, meus dedos terão de roçar a superfície áspera ou escorregadia, desconhecida e sem promessa de intimidade, da cicatriz redonda."
É um tema frio e incômodo, originando um processo contínuo de fuga da realidade, baseado na desintegração progressiva da personalidade de Juan María Brausen que passa a escutar, através da parede de seu apartamento, as conversas e encontros da prostituta Queca e acaba se envolvendo com ela, transformando-se, para esta finalidade, no cafetão Juan María Acer. Este relacionamento, cada vez mais violento, acentua o caráter decadente da narrativa que acelera vertiginosamente quando Brausen-Acer acaba abandonado pela esposa e se envolvendo também com a cunhada Raquel.
Paralelamente à narrativa "real", Brausen escreve um roteiro para cinema, cujo personagem principal, o médico Días Grey, vende receitas de ampolas de morfina para a bela e sedutora Elena Sala. O roteiro é ambientado na cidade fictícia de Santa María, cenário de outros romances de Onetti. Esta cidade é bem diferente da Macondo, imaginada por Garcia Marquez em "Cem Anos de Solidão". Em Santa Maria não há espaço para o sonho, apenas o fracasso da aventura humana vivenciado por Brausen, Acer ou Dias Grey.
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Comentários
Digito mal e sou disléxica, mas desa vez havia exagerado, então deletei e reescrevi - espero que com menos erros.
E a forma como você analisa é meio caminho andado para compreensão da obra e da mensagem proposta pelo artista.
Parabéns. É sempre um prazer passar por aqui, meu amigo!
Bons dias, boa semana!
Beijo da Dai.
Onetti... Não o conhecia, mas sua reflexão sobre o livro faz-nos querer&querer ler&conhecer. Interessante como temos uma riqueza de talentos nesta Latino-America, não é mesmo? E nem sempre estamos atentos... Mas é mesmo como disse a Sonia: por mais que a gente viva não lê tudo que deve ou gostaria. Esta ansiedade já me tirou muitas horas de sono, mas resolvi adotar o jeito egípcio de passar desta pra melhor e já selecionei alguns livros que serão colocados no meu sarcófago. Ah, naturalmente, este será renovado anualmente...
Mas, brincadeiras à parte,vir aqui, saborear aos poucos estes seus petiscos literários, definitivamente não tem preço.
Beijos e aquela coisa toda.
Obrigado pela visita sempre bem vinda.