Yukio Mishima - O Pavilhão Dourado

Literatura japonesa
Yukio Mishima - O Pavilhão Dourado - Editora Companhia das Letras - 279 páginas - Tradução direta do japonês de Shintaro Hayashi - Lançamento no Brasil em 23/06/2010 (Lançamento original em 1956).

Yukio Mishima (1925-1970) levou ao limite a relação entre literatura e realidade, tendo cometido o suicídio ritual dos samurais, seppuku, conhecido vulgarmente no ocidente como harakiri em uma cerimônia completa que foi concluída com a sua decapitação por um assistente. Ele é consideradojuntamente com Yasunari Kawabata (prêmio Nobel de 1968) e Junichiro Tanizaki, um dos grandes nomes da literatura japonesa moderna. O primeiro sucesso de Yukio Mishima foi "Confissões de uma Máscara", lançado em 1949, romance de teor autobiográfico no qual um jovem homossexual tenta se convencer de que pode mudar as suas opções sexuais e a própria essência para atender aos padrões de comportamento da rígida sociedade japonesa.

O romance "O Pavilhão Dourado" é ambientado na região de Quioto, final da Segunda Guerra Mundial, sendo o Japão da época um país destruído, invadido e derrotado. Este sentimento de fracasso norteia o romance, narrado em primeira pessoa pelo jovem Mizoguchi, órfão de pai e aprendiz de sacerdote, que sofre um complexo de inferioridade insuperável devido à sua fragilidade física e, sobretudo, por ser tímido e gago. Solidão e incompreensão, portanto, marcaram a formação de Mizoguchi, como fica claro no trecho abaixo:
"Ser incompreendido se tornara meu único motivo de orgulho, portanto não me via compelido a desenvolver esforços para ser compreendido. A fatalidade me negara atributos visíveis — eu assim acreditava. Minha solidão engordava dia a dia. Como porco."
Mizoguchi é admitido como ajudante no templo zen Pavilhão Dourado sonhando em um dia tornar-se sacerdote. A admiração que ele sente pela beleza do templo em confronto com os seus próprios defeitos e frustrações, é a porta de entrada do mal em seu coração. Dois personagens incorporam esses extremos em sua formação. O primeiro amigo, Tsurukawa, é honesto, sensível e alegre, representando a beleza da vida. Em contrapartida, o outro amigo, Kashiwagi, é a própria personificação do mal, manco e perverso, se aproxima de Mizoguchi, compartilhando sua filosofia negativa, assim como experiências do mundo material. Mas, é a deficiência que os acaba aproximando:
"Chamava-se Kashiwagi, eu sabia. A característica mais notável de seu aspecto físico eram os pés, retorcidos, voltados para dentro. Tinha um andar elaborado: parecia caminhar eternamente no meio de um lodaçal — trabalhava para soltar um dos pés da lama e o outro se afundava nela. Com isso, o corpo inteiro saltitava, o andar se transformava em uma espécie de dança espalhafatosa e inusitada.

Há uma razão para eu me ter interessado por Kashiwagi desde os primeiros dias na universidade. Sua malformação física me tranquilizava. Desde o início, seus pés tortos manifestavam apoio à minha deficiência."
Um estranho romance psicológico onde a relação não convencional entre beleza e maldade forja o amadurecimento do protagonista que, solitário em seu sofrimento, não consegue evitar o caminho para a própria destruição.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As 20 obras mais importantes da literatura japonesa

As 20 obras mais importantes da literatura francesa

20 grandes escritoras brasileiras

As 20 obras mais importantes da literatura brasileira

As 20 obras mais importantes da literatura dos Estados Unidos

As 20 obras mais importantes da literatura portuguesa