Junichiro Tanizaki - Diário de um velho louco

Literatura japonesa
Junichiro Tanizaki - Diário de um velho louco - Editora Estação Liberdade - 208 páginas - Tradução direta do japonês de Leiko Gotoda - Lançamento 2002 (lançamento original 1961).

O protagonista de 77 anos criado por Junichiro Tanizaki (1886-1965) é atormentado por um final de vida melancólico, acometido por uma série de enfermidades crônicas, tratamentos dolorosos e remédios, ele vê os seus últimos dias passarem sem momentos dignos de prazer, exceto quando está na presença da bela nora Satsuko, ex-dançarina de casas noturnas, que desperta os seus instintos sexuais ainda ativos, apesar das doenças e da crescente debilidade física. O comportamento me parece menos um sintoma de loucura e mais um desesperado apego à vida, como explicado pelo próprio protagonista nesta passagem: "Penso, antes, que o fenômeno tem a ver com a sexualidade de um velho impotente - pois alguma sexualidade existe, mesmo num velho impotente."

A perversão, infidelidade e o declínio físico do personagem não são temas de fácil desenvolvimento, mas Tanizaki conduz o fio narrativo com muita segurança, utilizando o recurso do diário em tom confessional. A jovem nora que não passa por momentos felizes no próprio casamento, diverte-se com o jogo de sedução proposto pelo velho patriarca da família, conseguindo favores e presentes caros em troca das migalhas de atenção que ela concede, não sem humilhá-lo constantemente. Na verdade, o desprezo da nora é mais um elemento que aumenta a excitação do pobre velho, como podemos comprovar no trecho abaixo:
Que quer, vovô?
Eu havia tocado de leve na porta, que mal balançara, mas Satsuko percebera. Apavorei-me. No momento seguinte, porém, tomei coragem e enfrentei a situação.
Resolvi verificar se era ou não verdade que você nunca trancava esta porta declarei, metendo eu também só a cabeça para dentro da sala de banhos. Seu corpo nu debaixo do chuveiro estava cercado pela cortina de plástico branco com listras verdes.
— Era mentira, por acaso?
— Não.
— E por que continua parado nesse lugar? Entre de uma vez!
— Posso?
— Quer entrar, não quer?
Embora não tenha nada a fazer...
Olhe aí, cuidado! Não se excite ou acabará levando um tombo! Calma, calma.
O tablado de madeira tinha sido erguido e o ladrilho estava molhado. Entro pisando cuidadosamente e fecho a porta às minhas costas. Ela exibe ora um ombro, ora um joelho ou um pé pela abertura da cortina.
Se não tem nada a fazer, vou lhe arrumar um serviço diz ela.
O chuveiro pára de correr. De costas para mim, ela expõe parte do dorso pela fresta da cortina.
Pegue essa toalha e me enxugue as costas, por favor. Cuidado com a água que vai escorrer da minha cabeça, ouviu?
Algumas gotas espirram em mim no momento em que ela remove a touca de banho.
Não enxugue com tanta delicadeza, ponha mais força nas mãos! Ah, sua esquerda não anda boa, esqueci-me. Use a direita, nesse caso, e esfregue a toalha com toda a força, vovô.
Num rápido movimento, agarro-lhe os ombros por cima da toalha, aplico os lábios na carne saliente do ombro direito e sorvo a água com a língua. No segundo seguinte, levo uma sonora bofetada.
Velhinho impertinente!
Mas eu estava certo de que isto, ao menos, me fosse permitido!
Pois errou! Não permito jamais! Vou contar para o Jokichi!
Perdão, perdão.
Saia já daqui! comandou ela, mas acrescentou: olhe aí, cuidado! Não perca a calma ou escorregará. Vá devagarinho.
Mais um romance de Junichiro Tanizaki que, ao revelar as pequenas tragédias humanas de maneira universal, merece ser incluído na relação de grandes clássicos da literatura de todos os tempos, assim como As irmãs Makioka e Voragem.

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