Doris Lessing - Nobel 2007

Prêmio NobelA escritora britânica Doris Lessing tornou-se a 11ª mulher a receber o Nobel de Literatura desde o início da premiação em 1901 (ver relação completa de laureados por nacionalidade).

Nascida no território da Pérsia, atualmente Irã, em 1919, quando seu pai era capitão do Exército britânico, Doris May Taylor viveu parte da juventude na então Rodésia (atual Zimbábue), o que marcou sua obra. Muitos dos livros de Doris Lessing abordam temas controversos como a divisão entre negros e brancos, o colonialismo, o racismo, as questões feministas e a violência contra crianças.

Ex-membro do Partido Comunista britânico, do qual se afastou em 1956 após a repressão soviética à revolução húngara, é comparada com a francesa Simone de Beauvoir por suas idéias feministas. José Castello definiu muito bem a escritora: "Lessing é uma rebelde, muitas vezes intransigente, mas que aprendeu a desconfiar dos rebeldes. Uma fantasista que suspeita das fantasias. Mitos modernos como o socialismo, o feminismo, os movimentos pela paz, embora ainda a seduzam, já não a convencem."

O resultado acabou surpreendendo a própria autora que ficou sabendo ser ganhadora do prêmio de aproximadamente 1,6 milhão de dólares, através dos repórteres da agência Reuters, quando voltava de um passeio. A lista de favoritos deste ano, nas casas de apostas, contava com o romancista e ensaísta italiano Claudio Magris, o romancista americano Philip Roth , além de nomes mais badalados como o romancista peruano Mario Vargas Llosa e ainda o polêmico Salman Rushdie.

Segundo José Saramago, único escritor em língua portuguesa agraciado por um Nobel em 1998, o prêmio para Doris Lessing é "mais do que merecido". Ainda segundo Saramago, Lessing "é uma pessoa preocupada com o mundo e com idéias claras".

A escolha da academia sueca, como sempre, não é unanimidade nos meios literários internacionais. Segundo declaração do conceituado crítico Harold Bloom à Associated Press a decisão corresponde a "pura correção política" . "Acho a sua obra dos últimos 15 anos ilegível", comentou, qualificando-a de "ficção científica de 4ª classe".

Doris Lessing, com todo o seu legado literário, não será mais uma escritora injustiçada por não ter sido premiada, como Virginia Wolf, Sylvia Plath e Marguerite Yourcenar que morreram sem ter tido esta, talvez dispensável, porém merecida distinção.

Comentários

Leila Silva disse…
Eu não sei julgar, conheço muito pouco dela. Acho que o grande esperado era mesmo Philip Roth. Esse eu conheço melhor, gosto muito.
abraços
Alexandre Kovacs disse…
Leila, os livros da Doris Lessing andavam desaparecidos do mercado editorial. Agora, após a premiação, certamente teremos mais oportunidades de encontrá-los. Quanto a Philip Roth, quem sabe no próximo ano...
Anônimo disse…
Olá, Kovacs!
Espero um dia encontrar-me com essa senhora. Anotei o nome de dois livros dela, que o Piza citou ontem no Estadão.
A minha lista de livros para ler só faz aumentar, enquanto a dos lido caminha lentamente. Sem contar que muitos deles pedem releituras.

Abçs,
Lilian
Alexandre Kovacs disse…
Lilian, concordo com você sobre a necessidade das releituras que são tão ou mais importantes que as leituras.

Sobre a famosa "lista" de leituras vale a citação de Almada Negreiros que adicionei nesta semana:

"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve haver certamente outra maneira de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido."
Dos livros de Doris Lessing um dos que mais gostei, embora me tenha causado grande desconforto, foi "O quarto 19". Excelente autora, mas que quer apenas passa-tempo e diversão que fique longe. Outro livro terrível dela (cujo título não lembro agora e estou com preguiça de procurar na estante) lidava com o envelhecimento degradante - assustador para quem tem minha idade, mas impossível interromper a leitura fascinante.
Lady Cronopio disse…
Gosto daqui!
Também te encontrei através do Alessandro.
Já estás nos favoritos há tempos.
Gratíssima.
Quanto à Doris... hum... concordo com ela quando diz que a premiaram antes que morresse, mas podia ter sido bem "antes" mesmo, né não?
Beijos e aquela coisa toda.
Aline Gallina disse…
Maravilha! Obrigada por me agraciar com esta breve biografia da Doris Lessing! Ainda não tinha lido muito a respeito desta importante senhora a qual torno-me fã. Nascida em 1919, viveu anos em épocas que as mulheres não deveriam trabalhar. Escreveu, relutou e venceu o preconceito. Hoje ganha um nobel!
Beijos.
Anônimo disse…
bela citação, Kovacs!

Lilian
Alexandre Kovacs disse…
Sonia, no ano passado li "Amor, De Novo" de Doris Lessing (lançamento original de 1995), trata-se de um romance no qual a protagonista, de sessenta e cinco anos, se apaixona. Neste livro ela aborda o tema da dificuldade de se envelhecer com dignidade.
Alexandre Kovacs disse…
Lady Cronopio, obrigado pela visita e comentário! Concordo, bem que Doris Lessing podia ter sido lembrada para o Nobel já nos distantes anos setenta...
Alexandre Kovacs disse…
Aline, acho que a escolha de Doris Lessing pela academia sueca tem um pouco de politicamente correta, uma dívida com as mulheres, talvez para compensar alguns esquecimentos do passado (Virginia Woolf, Sylvia Plath e Marguerite Yourcenar, como citei no texto).
Alexandre Kovacs disse…
Lilian, é uma citação bela sem dúvida. Almada Negreiros conviveu com Fernando Pessoa e Mario de Sá Carneiro durante o movimento modernista português, acho que esta proximidade deve ter influenciado bastante a sua carreira, vida, alma e tudo o mais...
Anônimo disse…
O primeiro livro de Doris Lessing que li foi Memórias de um sobrevivente.
Ela merece!

Só passei pra dar um alô!

Beijos.
Alexandre Kovacs disse…
Daisy, obrigado pela visita amiga. Vou dar uma passada no seu blog. estou com saudade dos seus textos.
Anônimo disse…
Fiquei conhecendo seu blog porque você comenta no Alessandro Martins.
Adorei seu blog.E Doris Lessing também. O livro dela que li foi "Caderno de Anotação".Gostei muito
Alexandre Kovacs disse…
Anny, visitei o seu blog http://anny-linhaozzy.blogspot.com/ e achei muito bem escrito. Volte sempre!
Anônimo disse…
rapaz, o Bloom é fueda. meu objetivo é algum dia ter autoridade pra dizer coisas desse tipo hahahha
Alexandre Kovacs disse…
Rafael, acho que ele exagerou ao considerar apenas os últimos anos de produção da Doris Lessing. Obrigado pela visita!

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