Ian McEwan - Na praia

Literatura inglesa contemporânea
Ian McEwan - Na praia - Editora Companhia das Letras - 128 páginas - publicação 2007 - Tradução de Bernardo Carvalho.

Este romance compacto, ou novela, de Ian McEwan, finalista da edição deste ano do Booker Prize (ver shortlist 2007), conta a história tragicômica da fracassada noite de núpcias de Edward e Florence em um hotel na praia de Chesil no início dos anos sessenta, uma das décadas mais revolucionárias em termos de comportamento da história da humanidade. No entanto, nesta noite, o casal ainda representa o que persistiu de mais conservador e moralista da era vitoriana inglesa. McEwan deixa claro, logo no primeiro parágrafo do livro, o tema que será desenvolvido:

"Eram jovens, educados e ambos virgens nessa noite, sua noite de núpcias, e viviam num tempo em que conversar sobre as dificuldades sexuais era completamente impossível."

Ao longo da narrativa, em terceira pessoa, ficamos conhecendo alternadamente as expectativas de Edward e Florence com relação à noite de núpcias. As expectativas, diga-se de passagem, são completamente distintas, uma vez que Edward sonha com sua primeira noite por tanto tempo adiada e Florence tem a sensação de "repulsa física", "um horror visceral" e uma "náusea irremediável, tão palpável quanto um enjôo no mar" no que se refere ao sexo.

O maior mérito do livro é o envolvimento que McEwan consegue passar através de um clima de ansiedade crescente, onde o leitor se sente um espectador privilegiado à medida que a noite avança para o seu desfecho inevitável. Assim é que presenciamos a falta de assunto do casal durante o jantar constrangedor, já na suite nupcial, acompanhados pelos dois garçons, ou as estratégias de Edward para alcançar seu objetivo em confronto com as táticas de Florence para adiar ao máximo este mesmo objetivo.

Ian McEwan conseguiu alcançar mais uma vez um sucesso surpreendente com este romance ao descrever, com originalidade, o tema já tantas vezes abordado da perda da inocência na literatura e também o tema recorrente em sua obra (ver "Reparação") das consequências de nossos atos e opções, consequências que podem ter uma influência devastadora em todo o restante de nossas vidas.

Comentários

Já li - e gostei - dois livros do Mc Ewan. Mas este Na praia três pessoas cuja opinião prezo muito acharam chatíssimo. E como atualmente não posso comprar livros, só leio emprestados, não vou pedir logo esse.
Anônimo disse…
Ouvi dizer que este livro é muito interessante, quero lê-lo.
Alexandre Kovacs disse…
Sonia, garanto que este livro não é nada chato. Obviamente ainda não foi desta vez que McEwan conseguiu superar o seu trabalho com o romance "Reparação". Também não é o caso de compará-lo com romancistas do século XIX, mas McEwan é sem dúvida um dos melhores autores contemporâneos de literatura inglesa.
Alexandre Kovacs disse…
Eduardo é um livro que vale o investimento, boa leitura e obigado pela visita!
Anônimo disse…
Bom, como já comentei em outro postseu dizendo que não gosto muito do McEwan (prefiro Graham Swift), venho aqui só para desejar-lhe boa leitura com "El túnel". Sabato é, de fato, um escritor esplêndido. Depois me conta o que achou.
Alexandre Kovacs disse…
Daniel, realmente os comentários, por enquanto, não estão sendo favoráveis a McEwan. Quanto ao argentino Ernesto Sabato, conforme comentei no seu blog, é simplesmente sensacional, no mesmo nível de Borges e Cortázar.
Anônimo disse…
Vou ler. O tema me interessa porque levanto pesquisas sobre comportamentos na década de sessenta para um (talvez) projeto.
Valeu a dica!
Vou comprar.

Bom final de semana, Alexandre.
Beijo! :)
Alexandre Kovacs disse…
Daisy, gostei muito da postagem sobre Oscar Wilde lá no seu blog: http://dai.lendo.org/quem-me-influencia-serie-4/.

Pode comprar este romance do McEwan sem medo que eu garanto.
vera maria disse…
Gostei do post sobre o Na praia, Kovacs, você consegue dizer o que o livro é de forma muito clara e concisa, eu amei esse livro. Fui lá olhar o que vc escreveu sobre o Reparação e também gostei muito, comecei a ler esse último e sei que vou gostar também.
Um abraço,
clara lopez
Anônimo disse…
Você é meu 'selo de qualidade', Alexandre.
No outro artigo do Charles Chaplin, o roteirista Kito Mello foi lá dar seu parecer subversivo e algo rascante sobre uma Nova Era na arte audiovisual. Te mandei um convite especial para analisar os (não) conceitos do produtor autor roteirista acadêmico porque confio em tua erudição e cultura amplas para dissertar, da literatura ao cinema.
Será um prazer 'ouvirmos' seu parecer.

Beijos.
Anônimo disse…
Em tempo: pretendo ir inserindo a continuação da série 'quem me influencia', navegando por todos os mares de poetas viscerais. Desde já é convidado tbm a participar desta corrente poética.
Breve farei um meme sobre.
Mais beijos. :)

(um especial no lindo cãozinho, pura poesia rs)
Anônimo disse…
Pingos da chuva na língua rosada
Da baba carinho em beijo de amigo
Patas são mãos e pelos coberta
Amigo que aquece e descansa no afago.
Pingo de gente sim gente sim por que não?
Um pelo tão alvo como alva é a alma
Sim alma sim por que não?
Se não chora e ri
junto com o dono?
Então não é pingo de gente,
é Pingo, um mellhor amigo de alguém...

(Não resisti, ele é lindo hehe)
Alexandre Kovacs disse…
Clara, obrigado pelo comentário e mais um voto a favor do McEwan. depois me conta o que você achou de "Reparação".
Alexandre Kovacs disse…
Daisy, obrigado pelo conceito de "selo de qualidade", mas você sabe que na literatura as interpretações e experiências são sempre muito particulares, como ficou constatado nesta postagem dividida, com opiniões a favor e contra o McEwan.
Alexandre Kovacs disse…
Daisy, obrigado pela ótima e carinhosa poesia sobre o Pingo. Acho que, mais uma vez neste blog, os comentários ficaram melhores que a postagem.
Anônimo disse…
Quando digo selo de qualidade, é sobre meu árduo e amador trabalho em meu blog. Para mim sua presença é fundamental.
Quanto ao Pingo, beije-o por mim (e peça desculpa pela poesia de momento).

E, querido, o que faz um bom comentário é um excelente mantenedor de blog nos receber. ;)

Beijo.


(obrigada pela força no Chaplin)
Anônimo disse…
Na praia..
Incrivel como McEwan aborda a educacao e cultura da epoca.A preocupacao sempre com o que a sociedade pode pensar.
E parabens pela abordagem, em muitas linhas, erotica...porem nao vulgar!
Alexandre Kovacs disse…
minho-band, tem toda razão, o tratamento das questões da época é um ponto marcante neste romance. Obrigado pela visita e comentário. Volte sempre.
Raquel disse…
Adorei o livro. Não entendo por que é uma novela e não um romance. Você pode me explicar? O conceito de novela que eu tinha era o de vários núcleos dramáticos que se sucedem, e como não é isso que ocorre no livro, estou perdida :o)

Queria também perguntar outra coisa sobre a qual não vi ainda comentário algum. Vc percebeu indícios de uma relação incestuosa entre Florence e o pai? Em determinado momento, ela pensa em memórias que ela prefere ter como não sendo suas; há a verdadeira repugnância que sente por ele; e há ainda um trecho em que ela lembra estar a sós com ele no barco, fingindo dormir como sempre dormia...
Alexandre Kovacs disse…
Raquel, primeiramente obrigado pela visita e comentário. O enquadramento entre conto, novela e romance é de difícl definição. A novela seria um romance de estrutura narrativa mais simples. Como exemplo teríamos "O Alienista" de Machado de Assis, ou o último lançamento de José Saramago, "A Viagem do Elefante". Em ambos os casos temos uma estrutura um pouco mais complexa que a utilizada em contos, porém menos detalhada que no gênero romance. O próprio Saramago define o seu último trabalho como conto.

Com relação à personagem Florence é bem possível que a aversão sexual tenha um fundo de origem em relação de abuso sexual ou incesto como você bem comentou.

Mais uma vez obrigado pela presença e volte sempre.

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