Orhan Pamuk - Literatura e Solidão
O escritor turco Orhan Pamuk, 55 anos, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2006 lançou o livro "A maleta de meu pai", com três ensaios, sendo que um deles é o discurso de agradecimento à Academia Sueca. Este discurso pode ser consultado na versão completa em tradução para inglês na página da Fundação Nobel. Trata-se de um texto maravilhoso, melhor do que muitos romances que li nos últimos anos.
"A maleta de meu pai" foi o título que o escritor turco deu ao discurso, trata-se de uma maleta com textos que o pai lhe entregou dois anos antes de morrer. Pamuk explica que poderia acontecer do conteúdo da maleta não ser de seu agrado, mas também que ele descobrisse que seu pai havia sido um bom escritor. A partir desse gancho ele disserta sobre o processo de criação literária:
"Depois de muitos anos de trabalho, creio que ser escritor significa descobrir a pessoa secreta que abrigamos e o mundo interno que torna possível essa pessoa. A literatura não evoca em mim inicialmente nem romance nem poesia, mas uma pessoa que na solidão de seu quarto empreende a tarefa de reconstruir seu mundo interior com palavras, e que pretende torná-lo visível para os outros."
Em entrevista à correspondente de Nova York do Globo, Marília Martins, matéria de hoje no caderno Prosa e Verso, Orhan Pamuk, descreveu com muita sensibilidade qual deveria ser o papel do escritor e da literatura:
"Se um escritor quiser contar sua própria história - contá-la devagar, como se fosse uma história sobre outras pessoas - primeiro precisa sentir a força da história acumular dentro de si. Se decide sentar-se diante da mesa e entregar-se com paciência à sua arte, precisa primeiro ganhar alguma esperança. Quando penso nos livros a que dediquei minha vida, o que mais me surpreende são esses momentos em que eu sentia que as frases, os sonhos e as páginas que me deixavam tão arrebatado de felicidade não vinham da minha imaginação, que era outro poder que as encontrava e, generoso, me presenteava com elas. Meu pai jamais teria suportado as dificuldades que eu suportei, o que ele amava não era a solidão, mas o contato com os amigos, salões, piadas, companhia. O escritor que se recolhe e antes de mais nada empreende uma viagem para dentro de si mesmo haverá de descobrir ao longo dos anos a regra eterna da literatura: é preciso ter o talento de contar as próprias histórias como se fossem histórias dos outros, e contar as histórias dos outros como se fossem suas, porque é isso a literatura. Mas antes é preciso viajar por histórias e livros de outros. Quando o escritor passa anos recolhido para aprimorar seu domínio do ofício, para criar um mundo, se ele usa as suas feridas secretas como ponto de partida, consciente disso ou não, está depositando grande fé na Humanidade. Minha confiança vem da convicção de que todos os seres humanos são parecidos, de que os outros carregam feridas como as minhas e que portanto haverão de entender. Toda verdadeira literatura vem dessa certeza infantil e otimista de que as pessoas são parecidas. Quando um escritor se recolhe por anos a fio, com esse gesto sugere uma Humanidade única, um mundo sem centro."
"A maleta de meu pai" foi o título que o escritor turco deu ao discurso, trata-se de uma maleta com textos que o pai lhe entregou dois anos antes de morrer. Pamuk explica que poderia acontecer do conteúdo da maleta não ser de seu agrado, mas também que ele descobrisse que seu pai havia sido um bom escritor. A partir desse gancho ele disserta sobre o processo de criação literária:
"Depois de muitos anos de trabalho, creio que ser escritor significa descobrir a pessoa secreta que abrigamos e o mundo interno que torna possível essa pessoa. A literatura não evoca em mim inicialmente nem romance nem poesia, mas uma pessoa que na solidão de seu quarto empreende a tarefa de reconstruir seu mundo interior com palavras, e que pretende torná-lo visível para os outros."
Em entrevista à correspondente de Nova York do Globo, Marília Martins, matéria de hoje no caderno Prosa e Verso, Orhan Pamuk, descreveu com muita sensibilidade qual deveria ser o papel do escritor e da literatura:
"Se um escritor quiser contar sua própria história - contá-la devagar, como se fosse uma história sobre outras pessoas - primeiro precisa sentir a força da história acumular dentro de si. Se decide sentar-se diante da mesa e entregar-se com paciência à sua arte, precisa primeiro ganhar alguma esperança. Quando penso nos livros a que dediquei minha vida, o que mais me surpreende são esses momentos em que eu sentia que as frases, os sonhos e as páginas que me deixavam tão arrebatado de felicidade não vinham da minha imaginação, que era outro poder que as encontrava e, generoso, me presenteava com elas. Meu pai jamais teria suportado as dificuldades que eu suportei, o que ele amava não era a solidão, mas o contato com os amigos, salões, piadas, companhia. O escritor que se recolhe e antes de mais nada empreende uma viagem para dentro de si mesmo haverá de descobrir ao longo dos anos a regra eterna da literatura: é preciso ter o talento de contar as próprias histórias como se fossem histórias dos outros, e contar as histórias dos outros como se fossem suas, porque é isso a literatura. Mas antes é preciso viajar por histórias e livros de outros. Quando o escritor passa anos recolhido para aprimorar seu domínio do ofício, para criar um mundo, se ele usa as suas feridas secretas como ponto de partida, consciente disso ou não, está depositando grande fé na Humanidade. Minha confiança vem da convicção de que todos os seres humanos são parecidos, de que os outros carregam feridas como as minhas e que portanto haverão de entender. Toda verdadeira literatura vem dessa certeza infantil e otimista de que as pessoas são parecidas. Quando um escritor se recolhe por anos a fio, com esse gesto sugere uma Humanidade única, um mundo sem centro."
Comentários
um abraço,
clara lopez
Se não for causar-lhe transtorno, poderia avaliar meu post sobre 'cornos'?
Mas não sinta-se obrigado. Vá com sua cabeça leve.
Beijos.
Considerei um presente de Natal antecipado.
Outro dia fui indelicada lá no Lendo.org e empolgada quando disse que o André era, em minha opinião, o mais sério blogueiro. Leviandade de minha parte, já que há muitos mais e vc, amigo, certamente é um dos que encabeçam esta lista.
Um beijo respeitoso e parabéns mesmo, pelo excelente texto ;)
Sua sempre amiga, Dai :)
http://www.nadadeordinario.blogspot.com
Sei que n é boato por causa de Sandra do Indiagestão ... tristeza, até discuti isso em sala na aula de literatura brasileira com o professor que está tratando dos romances policiais de Rubem Fonseca e seus psicopatas.
http://elperritovive.blogspot.com/
Fico impressionada com a quantidade de candidatos a autor que me escrevem, pedindo que "dê uma olhada" num texto anexo de 2 ou 3 centenas de laudas e que lhes arranje um editor, pois crêem que se trata de um possível best-seller. E confessam candidamente que nunca pensaram em escrever, que essa é sua primiera tentativa, e que eu releve os erros de português, pois não são muito bons "nessa coisa de gramática e ortografia". Dá para saber imediatamente que lhes falta a alma de escritor. Ah se soubessem que escrever não é apenas alinhar palavras.
é preciso ter o talento de contar as próprias histórias como se fossem histórias dos outros, e contar as histórias dos outros como se fossem suas, porque é isso a literatura... Sim, porque o autor está um pouco presente em cada umde seus pesonagens.
Gostaria mesmo é de aprender turco para ler os originais :)
Abraços