Bertolt Brecht - Poemas 1913-1956

PoesiaBertolt Brecht - Poemas 1913-1956 - Editora Brasiliense, 1986 - Antologia - 329 páginas - Seleção, Tradução e Posfácio de Paulo Cesar Souza (fora de catálogo)

Bertolt Brecht (1898-1956), poeta, dramaturgo, novelista e crítico de arte alemão, viveu como poucos artistas os maiores movimentos políticos e sociais do século XX. Quando a Alemanha foi dominada por Hitler, Brecht partiu para o exílio, pois sua obra moderna, na poesia e no teatro, não combinava com o regime nazista. Durante a Segunda Guerra Mundial, depois da ocupação da Dinamarca, estabeleceu-se nos EUA para ser posteriormente perseguido pelo regime de "caça as bruxas" macartista. Retornou para a Alemanha Oriental, pois acreditava na filosofia marxista como solução humanista para a sociedade.

Este livro apresenta uma seleção de 270 poemas onde, segundo o tradutor Paulo Cesar Souza, buscou-se recriar os ritmos dos originais. Isto vai de encontro à concepção que o próprio Brecht tinha da questão: "Na tradução para uma outra língua, os poemas são prejudicados sobretudo pelo fato de se tentar traduzir demais. Deveríamos talvez contentar-nos com a tradução das idéias e da atitude do autor. Aquilo que no original for um elemento da atitude de quem escreve, deveríamos tentar traduzir; não mais do que isso." (Gesammelte Werke, Bd. 19, Schrifen zur Kunst und Literatur 2 [Escritos sobre Arte e Literatura 2], p. 404).

Cantar de mãe alemã
(1941-1947)


Meu filho, esse par de botas
E essa camisa marrom eu te dei
Mas teria antes me matado
Se soubesse o que hoje sei.

Meu filho, ao te ver erguer
A mão para Hitler em saudação
Não sabia que o teu destino
Seria a própria danação.

Meu filho, ao te ouvir falar
De uma grande raça de heróis
Não sabia, não via nem pressentia
Que eras mais um algoz.

Meu filho, ao te ver marchar
Atrás de Hitler em corte
Não sabia que quem com ele partia
Nada acharia senão a morte.

Meu filho, tu dizias: a Alemanha
Em breve será motivo de assombro.
Eu não sabia que ela se tornaria
Um monte de cinzas e escombros.

Vi a camisa marrom te vestir
Não me opor foi minha falha
Pois não sabia o que hoje sei:
Que ela era a tua mortalha.



A troca da roda
(1947-1956)


Estou sentado à beira da estrada,
o condutor muda a roda.
Não me agrada o lugar de onde venho.
Não me agrada o lugar para onde vou.
Por que olho a troca da roda
com impaciência?



Se fossemos infinitos
(1947-1956)


Fossemos infinitos
Tudo mudaria
Como somos finitos
Muito permanece.

Comentários

Selena Sartorelo disse…
Olá Kovazc...Excelente postagem e escolha dos poemas, parecem mesmo terem sido escritos para os dias de hoje. Nota-se na posição de cada palavra a fidelidade ao pensamento do poeta. Fez um belo trabalho o tradutor Paulo Cesar Souza...dar legitimidade as culturas e pensamentos sem a interferência na tradução.

beijos
Blog Dri Viaro disse…
Oi, vim conhecer seu blog e desejar um bom dia
bjsss

aguardo sua visita :)
Maria Augusta disse…
Kovacs, ele viveu uma fase negra da história alemã e buscou uma coerência entre suas ações e suas idéias. Estes versos dele que você nos trouxe forma muito bem escolhidos e a tradução esta ótima. Realmente traduzir poesia e humor são coisas muito difíceis.
Parabéns pelo post.
Um grande abraço.
Bento Moura disse…
Olá Kovacs,
Desejo convidá-lo e também aos leitores, para minha nova exposição de pinturas e objetos.

Casa da Xiclet Galeria
R Fradique Coutinho, 1855 - SP/SP
De 7 a 31 de Agosto

www.bentomoura.net
Barros (RBA) disse…
Realmente, traduzir prosa já acho difícil, quanto mais poesias. É necessário conhecer muito bem quem se quer traduzir para atingir perfeita sintonia de pensamentos, ritmos e até de ouvido. Certamente Paulo Cesar Souza deve ter feito um bom trabalho. Ele também é tradutor das obras de Nietzsche (vide meu post sobre Ecce Homo, em que faço elogios ao seu posfácio)
Parabéns pelo post!
Alexandre Kovacs disse…
Selena, atual sem dúvida e não há como imaginar que um poema assim poderia ficar fora de moda:

Fossemos infinitos
Tudo mudaria
Como somos finitos
Muito permanece.
Alexandre Kovacs disse…
Dri, obrigado pela visita e seja muito bem-vinda por aqui. Vou lá conhecer o seu blog.
Alexandre Kovacs disse…
Maria Augusta, Brecht viveu as maiores transformações do século XX e sempre questionador.

Traduzir poesia é uma tarefa praticamente impossível. Por vezes a tradução fica melhor que o original, na maioria das vezes pior, mas nunca exatamente igual.
Alexandre Kovacs disse…
Bento, muito bonito o seu site (www.bentomoura.net)
e também os trabalhos.

Está dado o recado para o pessoal de São Paulo.
Alexandre Kovacs disse…
Barros, conforme comentei com a Maria Augusta, traduzir poesia é um desafio. Por isso faço sempre questão de destacar o nome dos tradutores. Obrigado pelo comentário.
Anônimo disse…
Kovacs, de volta. Concordo que traduzir poesia é algo dificílimo pois acaba sendo um trabalho interminável. Ou seja, o tradutor é um Sísifo mortal que arrega pedras eternas.

A tua seleção de poemas também é algo à parte. Grande abraco, Chico
Alexandre Kovacs disse…
Chico, muitíssimo bem-vindo de volta. Essa sua comparação é mesmo incrível: "O tradutor é um Sísifo mortal que carrega pedras eternas", muito bom mesmo!
nostodoslemos disse…
Kovacs,

Posso guardar um pequeno texto por aqui...?

http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADsifo

:)
nostodoslemos disse…
Kovacs,

Vivendo e aprendendo...Só mais este...:

http://translate.google.com/translate_t?hl=pt-br#

Interessante, não conhecia...

Boa semana!
nostodoslemos disse…
Nossa!!!!

Sisyphus
Sísifo
Σίσυφος
Sisyphos
Sisifo

Legal!
Alexandre Kovacs disse…
Lígia, dois links muito interessantes sem dúvida e ainda com o recurso do "google translate" parece que não temos mais limites ou barreiras para o conhecimento. Muito boa a brincadeira com "Sísifo"!
Ana R. disse…
Esse livro tem carinha de bons tempos pra mim...Saudades da PUC. Tá aqui na estante, me acompanhando há alguns anos....Bom demais!
Grande autor, grande seleção de textos, grandes comentários sobre tradução/Sísifo... grande Blog!
Bjs!
Alexandre Kovacs disse…
Ana R., esta edição da Brasiliense pertence aos bons anos oitenta que não voltam mais. Uma década com boas publicações sobre poesia (a maioria fora de catálogo). Fico feliz que tenha gostado.
Alexandre Kovacs disse…
Christina, obrigado pelo comentário gentil. A citação sobre Sísifo X tradução foi mesmo ótima. Acho que a seção de comentários é a melhor parte deste blog.

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