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Mostrando postagens de julho, 2020

Cinthia Kriemler - O sêmen do rinoceronte branco

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Cinthia Kriemler - O sêmen do rinoceronte branco - Editora Patuá - 128 Páginas - Ilustração, Projeto gráfico e Diagramação de Leonardo Mathias - Lançamento: 2020. O sêmen do rinoceronte branco é o título de um dos melhores contos na mais recente antologia de Cinthia Kriemler, inspirada por um fato verídico ocorrido em 2018, quando Sudan, o último rinoceronte-branco do norte, morreu no Quênia aos 45 anos, por meio de eutanásia, em um  santuário natural – nada mais do que "um cativeiro cercado de boas intenções" – e o seu material genético foi congelado para o futuro. O conceito de extermínio é ampliado do s caçadores no Quênia – que promoveram a extinção desta majestosa subespécie – até os estupradores do Boko Haram na Nigéria, passando pela destruição na Síria, que gera refugiados como o pequeno Aylan Kurdi de apenas três anos, encontrado morto em uma praia na costa da Turquia, até os constantes assassinatos por "balas perdidas" no Morro do Alemão, Rio de Janeiro,

Diego Vinhas - Corvos contra a noite

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Diego Vinhas - Corvos contra a noite - Editora 7 Letras - 116 Páginas - Capa de Bruno Brum sobre mural Rage against the machine (Lisboa, 2012) de Daniel Eime - Lançamento: 2020. É preciso esperança e paciência para chegarmos ao final deste maldito ano de 2020, mas alerto que neste livro você não encontrará subterfúgio ou qualquer tipo de fuga da realidade, pelo contrário, aqui a poesia de Diego Vinhas não se conforma e avança contra as trevas, lançando um necessário grito de ódio contra a injustiça e arbitrariedade de um sistema cruel,  como no profético poema Ano do cachorro  que nos lembra o "peso faminto do real" tão presente em nosso tempo, particularmente neste "ano manco". Na apresentação de Tarso de Melo encontramos uma oportuna lembrança: "a poesia não é uma forma de fugir do mundo, mas sim de invadi-lo, de atacá-lo", particularmente em nosso caso – vivendo em u ma sociedade que normalmente prefere ignorar a realidade – torna-se ainda mais importa

Zeka Sixx - Tudo o que poderíamos ter sido

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Zeka Sixx - Tudo o que poderíamos ter sido - Editora Coralina - 216 Páginas - Diagramação, projeto gráfico e capa: Angel Cabeza - Lançamento: 2020. Na cidade de Porto Alegre, em 2016, assim como em todo o país, ocorre um fenômeno de polarização política decorrente do processo de  impeachment de Dilma Rousseff com reações na sociedade brasileira oscilando entre a alienação e o ódio. É este o cenário no qual Zeka Sixx posiciona seus personagens, representantes de uma classe média sem esperanças e  vivendo em um eterno tempo presente de sexo, drogas e Rock'n Roll. O autor utiliza os recursos de uma linguagem coloquial e explícita, capturando a atenção do leitor com um estilo cinematográfico de alta velocidade narrativa, lembrando os textos de Clara Averbuck e a energia de Charles Bukowski. Cada capítulo é conduzido em primeira pessoa, alternando vozes femininas e masculinas e pode ser lido de forma independente como se fosse um conto mas, aos poucos, as relações entre os personagens s

calí boreaz - tesserato

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calí boreaz - tesserato - Editora Caos e Letras - 108 Páginas - Projeto Gráfico: Cristiano Silva - Arte de Capa: Eduardo Sabino - Lançamento: 2019. Para tentar explicar o efeito de uma quarta dimensão, além do universo tridimensional conhecido, formado por largura, comprimento e profundidade, utiliza-se o efeito de uma figura geométrica que não existe na realidade, chamada de tesserato ou hipercubo. O conceito básico parte do princípio de que, assim como o quadrado é formado por linhas perpendiculares e o cubo é constituído por quadrados perpendiculares, o tessarato é gerado por cubos perpendiculares em uma suposta quarta dimensão, simultaneamente perpendicular às outras três. Uma interessante característica do  tesserato é que, apesar de não mudar de forma, podemos vê-lo de maneiras diferentes, segundo nosso ponto de vista. Assim, começa a fazer sentido a relação dessa curiosa abstração geométrica com a poesia de calí boreaz que também parte de elementos básicos, transformando os conc

Jorge Sá Earp - As amarras

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J orge Sá Earp - As amarras - Editora 7 Letras - 176 Páginas - Foto de capa Nathan Dumlao / Unsplash - Lançamento: 26/03/2020. Eusébio é um arquiteto insatisfeito com a profissão e o casamento com Aglaia, antiga amiga de infância; uma união que foi resultante apenas das pressões familiares e sociais para manter os padrões de comportamento supostamente normais de um a classe média tradicional. Afinal, apesar dos avanços na área do reconhecimento da divesidade sexual, ainda existe o preconceito contra a comunidade LGBT, o que provoca relações artificiais como a descrita aqui. As amarras que impedem a felicidade de Eusébio bem pod eriam levar o romance para um caminho trágico, mas a condução da  narrativa de forma bem-humorada e em primeira pessoa, torna a leitura leve e divertida ao acompanharmos os erros e acertos do protagonista para realizar os  seus desejos reprimidos. Ao começar a escrever peças de teatro, ele conhece Fabiano, um jovem ator por quem se apaixona, e acaba descobrindo