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Mostrando postagens de outubro, 2023

Ricardo Motomura - Seu jeito de soltar fumaça

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Ricardo Motomura - Seu jeito de soltar fumaça - Editora 7Letras - 220 Páginas - Arte de capa: Sérgio Motomura - Foto de capa: Camila Mendonça - Lançamento: 2023. O romance de estreia de Ricardo Motomura surpreende pela segurança narrativa ao conduzir toda a trama em primeira pessoa sem perder a fluência e comprometer o ritmo da leitura. De fato, o desenvolvimento da ação é impulsionado por capítulos curtos que alternam passado e presente com base nas memórias do  seu solitário narrador-protagonista , assim como diálogos precisos que orientam o leitor quanto  às verdadeiras motivações dos outros personagens. O resultado é um livro que desperta empatia no leitor e se torna difícil de abandonar do início ao final, um dos objetivos principais de toda obra de ficção. Podemos dizer que Ângelo, apesar da simpatia que desperta, é um protagonista politicamente incorreto, começando por sua atração compulsiva pelo álcool e cigarros, vícios que contribuem para a sua postura de perdedor ao longo da

Adriana Vieira Lomar - Ébano sobre os canaviais

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Adriana Vieira Lomar - Ébano sobre os canaviais Editora Record / José Olympio - 240 Páginas - Lançamento: 2023. Vencedor do Prêmio Kindle de Literatura 2022, Ébano sobre os canaviais é um romance histórico que demonstra o processo desumano da escravidão, origem do racismo estrutural e a consequente desigualdade social no Brasil. A obra retrata o final do século XIX, quando o tráfico negreiro já havia sido proibido em nosso país por meio da Lei Eusébio de Queirós de 1850, contudo a entrada de cativos africanos continuava ocorrendo de forma ilegal, mesmo com a pressão da campanha abolicionista por parte da sociedade na época. Na ficção de Adriana Vieira Lomar, Ébano é uma mulher negra alforriada que luta contra os preconceitos para ficar com José, imigrante português em busca de melhores condições de vida em nosso país. A autora conduz a narrativa de forma dinâmica, mantendo o interesse do leitor do início ao final da obra ao alternar o protagonismo entre os personagens principais: José

André Kondo - No meio do mundo

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André Kondo - No meio do mundo - Telucazu Edições - 448 Páginas - Design de capa: Lilian Souza de Araújo - Ilustrações de capa: Alessandro Fonseca - Lançamento: 2023. Um livro de viagem bem diferente que, segundo o autor, demorou praticamente  vinte anos para ser escrito. De fato, trata-se de uma obra de fôlego  se considerarmos a abrangência dos locais visitados em várias partes do mundo, incluindo algumas regiões normalmente ignoradas pelos roteiros turísticos tradicionais, contudo também sem esquecer daquelas mais conhecidas. André Kondo não se limitou a uma descrição das belezas naturais, construções e atrações culturais, mas incluiu também informações sobre o contexto histórico, as crenças religiosas e ideologias filosóficas ao longo do tempo em cada um dos países visitados, sem cair na armadilha do texto enciclopédico, o que poderia comprometer o ritmo da leitura com uma infinidade de notas. Para manter o interesse do leitor, André utilizou uma linguagem simples na forma de diálo

Leonardo Valente - Relicário de cuspes

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Leonardo Valente - Relicário de cuspes - Editora Besouros Abstêmios - 176 Páginas Capa e projeto gráfico de Roseli Vaz - Lançamento: 2023. O mais recente lançamento de Leonardo Valente é uma obra ainda mais experimental e desafiadora do que seu livro anterior, criogenia de D. ou manifesto pelos prazeres perdidos , se é que tal coisa é possível. A frase de abertura do autor, na forma de epígrafe, nos dá uma pista da estratégia que será desenvolvida: "Neste livro, interessa menos o que a palavra diz e muito mais o quanto machuca."  De fato, as palavras são utilizadas como signos, em um contexto surrealista, provocando sensações decorrentes das emoções de um protagonista  atormentado por seus traumas de infância.  Com base em uma polifonia narrativa não linear no tempo, este homem-menino precisa mergullhar no seu mar interior para resgatar as palavras escondidas. Neste verdadeiro quebra-cabeça literário, o leitor precisará confiar mais nas próprias emoções e menos na racionalida