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Mostrando postagens de outubro, 2018

Gilles Deleuze - Diferença e Repetição

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Gilles Deleuze - Diferença e Repetição - Editora Paz e Terra - 420 Páginas - Tradução de Luiz Orlandi e Roberto Machado - Capa: Victor Burton - Lançamento: 24/09/2018. O francês Gilles Deleuze (1925-1995) é um dos pensadores mais importantes do século XX e este livro, publicado originalmente em 1968, como tese de doutorado, tornou-se uma obra indispensável para o estudo da filosofia contemporânea, o que justifica o seu relançamento agora pela Editora Paz e Terra em comemoração ao 50º aniversário da primeira edição. No entanto, não é uma obra de fácil entendimento para os leitores não familiarizados com textos da área de filosofia, notadamente de autores como: Espinosa, Kant, Hegel, Heidegger e Nietzsche, para citar apenas alguns. Acompanhar o raciocínio de Deleuze, portanto, exige alguma bagagem prévia nesta área, assim como atenção redobrada do leitor devido à subjetividade dos conceitos. Afinal, como o próprio autor declara no prólogo ao livro: "Como escrever senão sob

Finalistas do Prêmio Oceanos 2018

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Divulgados os dez finalistas do Prêmio Oceanos de Literatura, versão 2018. Dentro da proposta de configurar um instantâneo da produção literária em língua portuguesa nos diferentes gêneros e representando diferentes países, classificaram-se quatro romances (dois de autores brasileiros e dois de autores portugueses), um livro de contos e cinco livros de poesia (sendo dois deles de autoria de poetas moçambicanos). A partir de 2015 o Prêmio Portugal Telecom de Literatura foi cancelado pelos antigos patrocinadores, passando a ser chamado de Oceanos - Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa e patrocinado pelo Itaú Cultural. Segundo informações da organização, a edição de 2018 assinalou um recorde de livros concorrentes: 1.364 obras tiveram inscrição validada pela Curadoria do prêmio, ultrapassando assim o número de 1.215 livros inscritos na edição de 2017. Entre favoritos como Milton Hatoum e Sergio Sant'Anna, a surpresa vai para os dois poetas moçambicanos publicados por u

André Nigri - Paralisia

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André Nigri - Paralisia - Editora Reformatório - 184 Páginas - Design e editoração eletrônica: Negrito Produção Editorial - Lançamento: 2018 O escritor e jornalista mineiro André Nigri marca a sua estreia na literatura com Paralisia , um romance forte, com múltiplas técnicas narrativas e um texto que vai direto ao ponto, sem retoques. Solidão e sofrimento são as matérias-primas trabalhadas pelo autor a partir da história de vida do protagonista  Jofre Monteiro, que chega à meia  idade com contradições e fragilidades, acumulando fracassos e casamentos, em um estado permanente de paralisia moral.  Filho único de um advogado de forte personalidade, que fez fortuna ao defender políticos e empresários corruptos, e uma mãe ausente, Jofre, desde cedo, aprendeu a conviver com a infelicidade matrimonial dos pais e herdou uma fortuna que o ajudou a manter a sua postura de imobilidade, uma pessoa que se deixou levar pela vida, sem dar continuidade a qualquer projeto ou carreira profissio

Antoine Lilti - A invenção da celebridade

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Antoine Lilti - A invenção da celebridade (1750-1850) - Editora Civilização Brasileira - 452 Páginas - Imagem de capa: Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun, Marie-Antoinette (adaptado) - Tradução de Raquel Campos - Lançamento: 03/09/2018. O termo celebridade é associado normalmente aos fenômenos de cultura de massa desenvolvidos a partir do século XX, seja por meio do cinema, da televisão ou, mais recentemente, do uso compulsivo das redes sociais. No entanto,  segundo a tese do historiador francês Antoine Lilti, detalhada neste livro, alguns sinais  do culto à personalidade e suas consequências, como as conhecemos hoje, já existiam nas grandes metrópoles europeias desde o iluminismo do século XVIII, inclusive os primeiros questionamentos de valor, tão discutidos em nossa época, sendo a celebridade  ao mesmo tempo desejada e desdenhada, fonte de prestígio e de contestação, consistindo apenas em visibilidade social, nem sempre apoiada por méritos e decorrente apenas de um fenômeno mid

Anna Burns - Man Booker Prize 2018

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Provavelmente você nunca ouviu falar de Anna Burns, vencedora do Man Booker Prize 2018 com o romance Milkman , mas certamente esta premiação irá ajudar muito na divulgação e publicação da autora irlandesa de 56 anos em todo o mundo. O tema é o assédio sexual, narrado do ponto de vista de uma adolescente de 18 anos que é perseguida por um homem mais velho. A declaração de um dos juízes, o filósofo Kwame Anthony Appiah, citada no tradicional jornal inglês Guardian , dá um sinal da prosa inovadora da escritora: “Nunca lemos nada do gênero, a voz totalmente característica de Anna Burns desafia o pensamento e forma convencionais com uma prosa surpreendente e imersiva. É uma história de brutalidade, de assédio sexual e resistência, à qual se junta um humor mordaz.”   Ano passado George Saunders foi o vencedor do Booker Prize com o excepcional romance Lincoln no Limbo , publicado este ano pela Companhia das Letras ( Ler aqui resenha do Mundo de K).  Anna Burns leva as 50 mil libras do

Nuno Rau - Mecânica Aplicada

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Nuno Rau - Mecânica Aplicada - Editora Patuá - 150 Páginas - Projeto Gráfico, capa e design: Pepe Donato e Italo Freitas - Lançamento: 2017. O carioca Nuno Rau é um dos finalistas do Prêmio Jabuti 2018, categoria Poesia, com esta coletânea de poemas, Mecânica Aplicada , que insinua no título e na capa uma improvável conexão entre a cultura e a máquina. Bem, posso garantir, por experiência própria, que engenheiros e arquitetos não são insensíveis ao apelo da arte e que também ocorre muitas vezes da poesia se inspirar nas ciências exatas, mesmo que seja para subverter os mecanismos da realidade e encontrar um sentido – por meio da subjetividade da palavra – que justifique a existência do homem no mundo. Como Nuno Rau destaca na sua apresentação e nas epígrafes, o grande tema da Máquina do Mundo é recorrente em muitas obras na literatura, de Luís Vaz de Camões até Carlos Drummond de Andrade e, continuando de forma despretensiosa (como bom poeta), o autor explica o seu falso m

Rita Balduino - O feito afaga o gesto

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Rita Balduino - O feito afaga o gesto - Editora Patuá - design gráfico: Ruth Klotzel - revisão: Wagner Clini - produção executiva do projeto: Célia Barros - Lançamento: junho/2018 A forma e o conteúdo são partes inseparáveis neste livro da artista visual e poeta Rita Balduino. Um conjunto composto por sete livretos independentes que exploram a relação das palavras não somente com a diagramação na página, mas também com a gramatura da folha ou a transparência do papel, conforme o efeito desejado pelo poema. Um projeto de extrema sensibilidade da autora e executado com muita atenção pela Editora Patuá. Cada livreto guarda um conceito próprio a ser explorado pelo leitor por meio dos estímulos visuais. Destaquei alguns poemas e a descrição de cada parte feita pela própria autora. Infelizmente não é possível reproduzir em uma resenha a experiência sensorial, o que só é viável com as imagens e palavras juntas, ou seja com o "box" do livro em mãos. No entanto, os poemas

Isabel Allende - Filha da fortuna

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Isabel Allende - Filha da fortuna - Editora Bertrand - 378 Páginas - Capa: Angelo Allevato Bottino - Tradução de Mario Pontes - Lançamento: 10/09/2018. Temos que aceitar o fato de que nem sempre o leitor está interessado em livros complexos e com técnicas literárias sofisticadas, tais como: múltiplas vozes narrativas , oscilações no tempo e no espaço, uso de metaficção, personagens com densidade psicológica e tantos outros recursos, experimentais ou não, que os críticos costumam associar à qualidade do texto. Na verdade, muitas vezes o leitor está buscando apenas um romance para ler nas férias, visando unicamente o entretenimento, se for este o caso recomendo Filha da fortuna de Isabel Allende, lançado originalmente em 1999 e relançado agora em 12ª edição pela Editora Bertrand. Filha da fortuna é um romance histórico ambientado na primeira metade do século XIX com uma trama novelesca cheia de reviravoltas, aventuras em quatro continentes e paixões de tirar o fôlego, tudo isso

Victor Heringer - Glória

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Victor Heringer - Glória - Editora Companhia das Letras - 296 Páginas - Capa: Mateus Valadares - Lançamento: 27/09/2018 A vida foi muito curta para o carioca Victor Heringer. O final precoce de uma carreira brilhante aos 29 anos, tanto na prosa quanto na poesia, deixou o meio literário nacional chocado quando, em março de 2018, veio a notícia absurda de sua morte.  O jovem escritor deixou uma bibliografia composta por: automatógrafo (poesia, 2011), Glória (romance, 2012 – vencedor do Prêmio Jabuti de 2013), Lígia (contos, 2014) e O amor dos homens avulsos (romance, 2016 – finalista dos prêmios Rio de Literatura, São Paulo de Literatura e Oceanos). Além de talentoso, Victor era muito querido pelos colegas. R ecomendo visitar esta página do IMS com depoimentos de escritores e profissionais da área, assim como trabalhos dele em vídeo. O romance Glória , publicado originalmente pela editora 7Letras e relançado agora pela Companhia das Letras, é uma ótima oportunidade para co

Finalistas do Prêmio Jabuti 2018

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Finalistas do Premio Jabuti 2018 , Categoria Romance Divulgados os finalistas de cada uma das categorias da 60° edição do Prêmio Jabuti. Os primeiros colocados receberão o troféu Jabuti e um prêmio bruto no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). A premiação "Livro do Ano" será concedida à obra com a maior média atribuída pelo corpo de jurados com o prêmio em dinheiro no valor bruto de R$ 100 mil. Este ano o mais tradicional prêmio literário do Brasil tem algumas novidades, a redução do número de categorias para um total de 18, que agora passarão a ser agrupadas em quatro eixos, uma nova categoria dedicada a ações de incentivo à leitura, inscrições diferenciadas para os autores independentes e mudança no valor dos prêmios. Os quatro eixos são os seguintes: Literatura (romance, poesia, conto, crônica, infantil e juvenil, tradução e HQ), Ensaio (biografia, humanidades, ciências artes e economia criativa), Livro (projeto gráfico, capa, ilustração e impressão) e Ino

Marcelino Freire - Bagageiro

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Marcelino Freire - Bagageiro - Editora José Olympio - 160 Páginas - Projeto gráfico e capa: Thereza Almeida - Lançamento: 24/09/2018. Com o pernambucano Marcelino Freire, a literatura se aproxima da linguagem das ruas e ganha ares de irreverência; normalmente o seu tom bem-humorado é um contraponto aos temas difíceis abordados em seus textos, que refletem a violência urbana e a injustiça social em um Brasil que muitas vezes não queremos ou fingimos não ver. Marcelino, já acostumado aos prêmios literários (Jabuti em 2006 com  Contos negreiros e Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional em 2014 para o seu primeiro romance Nossos ossos ), não abre mão da força e autenticidade do seu estilo, afastando-se da "palavra que põe gravata" , mas sempre com a poesia ao seu lado. Bagageiro  prende a atenção do leitor desde o texto de apresentação da orelha, escrita por ninguém menos do que... Marcelino Freire, o próprio! O autor já vai mostrando, antes mesmo do livro começar