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Mostrando postagens de maio, 2021

Haruki Murakami - Sul da fronteira, oeste do sol

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Haruki Murakami - Sul da fronteira, oeste do sol - Editora Alfaguara - 176 Páginas - Tradução de Rita Kohl - Capa: Alceu Chiesorin Nunes - Imagem de capa: "Ancient Sea, Nautilus" de Mayumi Oda, 1986. Lançamento: 2021. Lançado originalmente em 1992, Sul da fronteira, oeste do sol é um romance  narrado em retrospectiva por Hajime, um protagonista que se aproxima da meia-idade com um casamento estável e duas filhas, tendo se tornado um bem-sucedido proprietário de dois bares de jazz em Tóquio. No entanto, depois de muitos anos, ao reencontrar e se apaixonar por Shimamoto, uma amiga de infância, enfrenta uma crise existencial e questiona a suposta felicidade de uma vida confortável e resolvida. Um enredo aparentemente simples, caso não estivésemos tratando de um livro de Haruki Murakami. Na primeira parte, Hajime descreve o período da sua infância em uma cidade do interior durante o período de pós-guerra no Japão no qual era comum as famílias terem duas ou três crianças como pa

Aline Bei - Pequena coreografia do adeus

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Aline Bei - Pequena coreografia do adeus - Editora Companhia das Letras - 264 Páginas - Capa: Julia Masagão - Imagem de capa: Louise Bourgeois, Etats modifiés , 1992 -  Lançamento: 2021. Aline Bei enfrenta o desafio de lançar o segundo livro depois do estrondoso sucesso de crítica e público de O peso do pássaro morto (2017), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, ou seja, vencer a síndrome do segundo romance que, nesses casos, se caracteriza pela própria expectativa em manter ou, de preferência, superar o nível de qualidade do primeiro lançamento. Em Pequena coreografia do adeus , a  autora consolida a sua criativa técnica de "romance-poema" ao incorporar elementos de prosa e poesia, assim como o efeito da distribuição das palavras na página impressa e diferentes tamanhos de fonte, conseguindo uma ferramenta inusitada de controle do ritmo narrativo. A jovem protagonista Júlia Terra precisou aprender a conviver desde muito cedo com a inadequação e a solidão decorrentes d

Michel de Oliveira - O amor são tontas coisas

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Michel de Oliveira - O amor são tontas coisas - Editora Moinhos - 72 Páginas - Capa: Sergio Ricardo - Projeto Gráfico e Diagramação: Luís Otávio Ferreira - Lançamento: 2021 O mais recente lançamento de Michel de Oliveira, após o livro de contos O sagrado coração do homem ,  finalista do Prêmio Açorianos em 2019, é   uma antologia de poemas e, quem diria, a poesia em tempos de pandemia ainda consegue falar de um amor sensual e sem pudores que, por vezes, me lembra os versos de Paulo Leminski (1944-1989): "que diferença faz / se por cima / ou por baixo / na frente / ou atrás / se cospe / ou me engole / o que importa / é mais" (p. 17) ou, em outras, o resgate do estilo bem-humarado e ingênuo de Cacaso (1944-1987): "tua solidão / é tão sozinha / que não consegue / encontrar a minha" (p. 47). Por sinal, Leminski e Cacaso fazem muita falta em tempos tão sombrios, dois poetas que nos deixaram muito cedo. Para tratar de um tema já tão explorado na poesia universal, o auto

Sonia Sant'Anna - Rondó

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Sonia Sant'Anna - Rondó - Editora Penalux - 138 Páginas - Capa: Guilherme Peres Imagem: Zdeněk Macháček (Unsplash) Lançamento: 2021. Sonia Sant`Anna já tem o seu nome consagrado no gênero romance histórico, mas surpreende agora com este mais recente lançamento que reúne dezoito contos e uma novela de cunho memorialista. Na verdade, o livro confirma a vocação literária de uma família de escritores, tão bem representada pelos seus irmãos Sergio Sant`Anna (1941-2020) e Ivan Sant'Anna, além do sobrinho André, filho do saudoso Sergio. Contudo, se, por um lado, esta proximidade com profissionais da literatura foi certamente positiva como influência; por outro, imagino que tenha gerado alguma ansiedade para atender às expectativas, assim como eventuais comparações. Seguramente  Rondó mantém a tradição de qualidade da família Sant'Anna nas letras; desenvolvendo um estilo que reflete um cuidado artesanal com o texto e uma escolha criteriosa da linguagem, a autora apresenta um delic

Enciclopédia negra: Biografias afro-brasileiras

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Enciclopédia negra: Biografias afro-brasileiras - Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz -  Editora Companhia das Letras - 720 Páginas - Projeto gráfico: Victor Burton - Lançamento: 2021. Este livro pretende dar visibilidade a uma grande parte da nossa história – normalmente ignorada nos registros oficiais – a partir de 417 verbetes individuais e coletivos sobre 550 personalidades negras, de sexo, gênero e orientação sexual distintos, resgatando as biografias de políticos, artistas, esportistas,  profissionais liberais e pessoas comuns, assim como de revolucionários e líderes religiosos que se tornaram lendas na luta contra a escravidão, desde meados do século XVI até o século XXI, em todas as regiões do Brasil. Na verdade, a carência de informações nos arquivos historiográficos sobre personagens afro-brasileiros é mais um reflexo do racismo estrutural que persiste em nossa sociedade até hoje, exigindo um esforço monumental dos autores para viabilizar esta Enci

Micheliny Verunschk - O som do rugido da onça

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Micheliny Verunschk - O som do rugido da onça - Editora Companhia das Letras - 168 Páginas - Capa: Alceu Chiesorin Nunes - Ilustração "O clã das onças" de Jaider Esbel - Lançamento: 2021. Um romance histórico bem diferente porque é narrado a partir do ponto de vista da cultura dos povos originários. Sabemos que a formação da nação brasileira não foi pacífica e a assimilação da cultura indígena ocorreu na forma de um verdadeiro genocídio, inicialmente como guerra bacteriológica entre as moléstias que o branco trazia e eram fatais para a população indígena e, posteriormente, pelas sucessivas tentativas de escravização dos nativos.  O  livro foi inspirado pelas litografias de duas crianças indígenas, nomedas como Miranha e Juri,  publicadas no album Viagens ao Brasil em 1823 pelo zoólogo Johann Baptist von Spix e  e o botânico  Carl Fiedrich von Martius. Como resultado da viagem ao interior do Brasil, iniciada no Rio de Janeiro em 1817, a menina e o adolescente foram capturados