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Mostrando postagens de março, 2023

Paulo Mendes Campos - Poesia

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Paulo Mendes Campos - Poesia - Editora Companhia das Letras - 512 Páginas - Posfácio de Luciano Rosa - Capa: Alceu Chiesorin Nunes - Lançamento: 2022. O brasileiro é um mestre na arte de escrever crônicas que, em última análise, representam o inusitado casamento do jornalismo com a literatura, estilo que não consigo identificar em outros países. Seria difícil resumir aqui os inúmeros escritores que se consagraram ao longo do tempo com esses textos, normalmente leves e bem-humorados. Contudo, destaca-se o quarteto de escritores mineiros, batizado como “os quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse” , constituído por: Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino. Este lançamento pretende divulgar a poesia completa de Paulo Mendes Campos, editada em livros e outros veículos (jornais, revistas e coletâneas), assim como poemas inéditos selecionados pelo pesquisador Luciano Rosa do acervo do autor, depositado no Instituto Moreira Salles (IMS). Esta edição apresen

Kenzaburo Oe - Adeus, meu livro!

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Kenzaburo Oe - Adeus, meu livro! - Editora Estação Liberdade - 448 Páginas - Tradução de Jefferson José Teixeira - Fotografia de capa: Grande reservatório subterrâneo, Saitama (Tóquio), foto de Akira Kii - Lançamento: 2023. Kogito Choko, alter ego do próprio Kenzaburo Oe (1935-2023), está de volta neste romance, que faz parte da trilogia iniciada com a publicação de A substituição ou As regras do Tagame , livros  marcados por elementos autobiográficos e engajamento político sobre questões polêmicas do Japão moderno, como o ativismo antinuclear e pacifista, no estilo inconfundível do autor.  Contudo, em  Adeus, meu livro! , a grande ironia é que Kogito Choko  é envolvido por um amigo de infância, Shigeru Tsubaki em um projeto b astante ambicioso, "a grande empreitada" como ele chama, um evento inspirado nos ataques de 11 de setembro ao World Trade Center de Nova York e que pretende a absurda destruição de um arranha-céu de Tóquio, com o objetivo de motivar toda uma onda de vio

Lilian Aquino - Nunca estive em Tübingen

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Lilian Aquino - Nunca estive em Tübingen - Editora Patuá - 64 Páginas - Capa e projeto gráfico: Roseli Vaz - Lançamento: 2021. Os poemas de Lilian Aquino refletem sobre espaços inusitados, lugares de passagem, cidades estrangeiras nas quais nunca estivemos, o desconforto de se achar subitamente em um desses "não lugares" ( Já me transportaram / como oposto / me arrancaram do / futuro me fechando / em um porta-malas // Dias e dias de estrada / e as noites todas elas / longe de casa ). A poeta fala sobre os muros, os impasses, as escolhas ao longo do caminho. Tudo aquilo que nos leva ao  estranho processo diário de se extraviar e se encontrar, procurando por possíveis "Desvios" ( teria o poema / um trajeto? / um mapa / com alfinetes / a me espetar / os pés? // o que pode / fazer um poema / atarracado / no meio da passagem / qual um cobrador / de ônibus / fazendo girar / catracas / a não ser me deixar / passar / por baixo? ).  Embora não ocorram referências diretas à p

Paulo Abe - O livro dos tradutores

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Paulo Abe - O livro dos tradutores - Editora Penalux - 98 Páginas - Editoração eletrônica e capa: Karina Tenório - Lançamento: 2022. Os contos de Paulo Abe têm inspiração no estilo refinado de Italo Calvino, Jorge Luis Borges e Umberto Eco, autores que souberam criar narrativas nas quais a própria literatura é um tema recorrente, assim como a utilização de uma atmosfera mágica que mistura sonho e realidade. De fato, já no conto de abertura, que empresta o título ao livro, nos deparamos com uma fábula sobre a leitura e o infinito e impossível ofício dos tradutores: "Akira Kageyama não foi o primeiro e tampouco o último a traduzir as grandes obras de Gastón de la Vega." Um texto que, ao descrever as  múltiplas traduções de um mesmo clássico, em uma espécie de "Babel de um único escritor" ,  representa uma homenagem a Borges,  leitor extraordinário e compulsivo. Já em O livro da guerra são os ecos de Calvino que prevalecem ao longo da narrativa de um general chinês q

Kwong Kuen Shan - As quatro estações do gato

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Kwong Kuen Shan - As quatro estações do gato - Editora Estação Liberdade - Tradução da edição francesa por Denise Bottmann - Lançamento: 2022. Esta é uma edição de excelente acabamento gráfico da Editora Estação Liberdade reunindo  40 aquarelas da pintora e escritora  Kwong Kuen Shan, que nasceu e cresceu em Hong Kong, residindo hoje na Grã-Bretanha. A obra apresenta, juntamente com as ilustrações, uma  seleção de citações da literatura clássica chinesa, de sua filosofia, principalmente do Taoismo, de poemas das dinastias antigas e provérbios. Os gatos – esses seres independentes e misteriosos que vivem segundo suas próprias regras – são o tema preferido das aquarelas que representam a simplicidade de saber viver em harmonia com o ritmo das estações do ano. Muito recomendado para presentear o(a) amigo(a) que aprendeu a conviver e admirar a sabedoria dos felinos, "mestres na arte da arrogância e da desobediência", mas que podem se tornar também grandes companheiros, como bem s

Marcelo Rubens Paiva - Do começo ao fim

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Marcelo Rubens Paiva - Do começo ao fim - Editora Alfaguara - 192 Páginas - Capa: Alceu Chiesorin Nunes - Lançamento: 2022. Não dá para ouvir falar de Marcelo Rubens Paiva e não lembrar de Feliz ano velho (1982), um romance que marcou a juventude de muita gente, inclusive a minha. É muito comum que escritores se sintam pressionados, após uma estreia literária de destaque, a manter o mesmo nível de qualidade e isso acaba afetando, de forma positiva ou negativa a sequência de suas carreiras. O fato é que, muitos livros e prêmios depois, algo no estilo de Marcelo Rubens Paiva, presente em seu livro de estreia, ainda permanece,  principalmente a sua habilidade em lidar com a autoficção de forma leve e bem-humorada, mesmo quando escreve sobre temas difíceis. A melhor definição para o seu mais recente lançamento, Do começo ao fim , está na abertura do próprio romance: "Esta é uma história de amor, cujo final não é feliz nem triste. Como muitas histórias verdadeiras de amor e de amor ve

Jorge Amado - A morte e a morte de Quincas Berro Dágua

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Jorge Amado - A morte e a morte de Quincas Berro Dágua - Editora Companhia das Letras - 144 Páginas - Capa e projeto gráfico: Kiko Farkas e Guilherme Dorneles / Máquina Estúdio - Lançamento: 2022. Os romances de Jorge Amado (1912-2001) nos ensinam que a universalidade das obras literárias não é incompatível com uma abordagem regionalista ou folclórica, muito pelo contrário, a mágica dos grandes autores faz com que, quanto mais restrito o cenário da narrativa, mais abrangente se torne a representatividade da essência humana, prova maior disso é o interesse renovado nas traduções do escritor que melhor soube representar a Bahia em vários países. Esta  edição especial, que conta com  prefácio de Itamar Vieira Jr., posfácio de Affonso Romano de Sant’Anna e ensaio do artista plástico Marepe, é  uma justa homenagem a uma das novelas mais perfeitas já escritas e que pode ser incluída sem prejuízo em qualquer antologia da literatura mundial, A morte e a morte de Quincas Berro Dágua , publicada

Hoffmann - Os elixires do Diabo

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Hoffmann - Os elixires do Diabo - Editora Estação Liberdade - 368 Páginas - Tradução de Maria Aparecida Barbosa - Ilustração de capa: Natanael Longo de Oliveira - Lançamento: 2022. Hoffmann (1776-1822) é considerado um precursor da literatura fantástica, tendo infuenciado  outros importantes escritores ao longo do tempo, tais como como Edgar Allan Poe (1809-1849), Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e Franz Kafka (1883-1924), para citar somente os principais. Hoffmann é dono de um estilo que vai muito além das limitações do romantismo alemão de sua época, revelando o que há de mais trágico e grotesco na natureza humana. A utilização do inconsciente como matéria-prima literária,  antes da psicanálise de Freud (1856-1939),  uma constante fragmentação da identidade do protagonista que leva ao tema do duplo, assim como um clima gótico, fantástico e detetivesco, são características do autor presentes nesta obra que a tornaram um clássico da literatura. O romance é narrado em primeira pessoa pel