Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2022

Fernando Pessoa - Poesia completa de Alberto Caeiro

Imagem
Fernando Pessoa - Poesia completa de Alberto Caeiro - Editora Companhia das Letras - 286 Páginas - Capa e projeto gráfico de Elaine Ramos e Julia Paccola - Lançamento: 2022. Fernando Pessoa, como bem sabemos, é um poeta plural, dono de múltiplas personalidades, não escrevendo apenas a partir de nomes fictícios, pois isso seria tão somente exercer o uso de pseudônimos, artifício comum na literatura; mas sim a partir de heterônimos com diferentes estilos e personalidades imaginárias, dotadas de vidas – e também mortes – próprias. Entre  os heterônimos mais conhecidos podemos destacar Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. Fernado Pessoa define algumas das características de cada uma das identidades: "pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida" . Já o guarda-livros Bernardo S

Jeferson Tenório - Estela sem Deus

Imagem
Jeferson Tenório - Estela sem Deus - Editora Companhia das Letras - 184 Páginas - Capa de Alceu Chiesorin Nunes - Imagem de capa: At the gates of paradise de Antonio Obá - Lançamento: 2022. Antes do seu premiado romance O avesso da pele , publicado em 2020 (vencedor do Jabuti 2021 e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura no mesmo ano), Jeferson Tenório já havia lançado  Estela sem Deus em 2018, prêmio Ages – Associação Gaúcha de Escritores – na categoria Narrativa longa e finalista do Prêmio Minuano de Literatura, na categoria Ficção/ Romance – Novela, ambos os prêmios em 2019. Agora temos uma boa oportunidade de conhecer  Estela sem Deus  que está sendo relançado pela Companhia das Letras. Os dois romances têm em comum a desigualdade social provocada pelo racismo em nossa sociedade, os traumas provocados nas relações familiares e na formação da identidade dos personagens. N o entanto, o modo de condução das narrativas é bem diferente, demonstrando a versatilidade estilística d

Lilian Sais - O funeral da baleia

Imagem
Lilian Sais - O funeral da baleia - Editora Patuá - 136 Páginas - Ilustrações de Paloma Franca Amorim - Capa, projeto gráfico e diagramação de Alessandro Romio - Lançamento: 2021. Classificado como finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2022 na categoria de Melhor Romance de Estreia do Ano, O funeral da baleia de Lilian Sais é uma obra única e difícil de definir, na qual a autora trata da questão do luto, do peso constante da ausência simbolizado pela poderosa imagem de uma baleia encalhada que se recusa a morrer, batendo o rabo na praia diariamente e provocando abalos sísmicos na cidade fictícia de Assum Preto. De fato, em um raro exercício de realismo mágico, a carcaça da baleia permanece assombrando a cidade em uma espécie de funeral que não se concretiza, um simbolismo para a morte da mãe de Joana que, juntamente com seu pai Artur Pereira, precisa aprender a lidar com a permanência da perda. Em uma narrativa extremamente fragmentada e não linear, conduzida inicialmente por Jo

Manoela Sawitzki - Vinco

Imagem
Manoela Sawitzki - Vinco - Editora Companhia das Letras - 256 Páginas - Capa de Omar Salomão - Imagem de capa: "The slap", de Camile Sproesser - Lançamento: 2022. Vinco é um romance de formação diferente – na verdade, mistura de romance de formação e road movie como definido pela autora – ao lidar com temas extremamente contemporâneos, seguindo a trajetória do narrador-protagonista Manu e  suas transformações ao longo da vida para  escapar da tirania de um sistema de gêneros binário, imposto pela família.  Neste ponto há uma certa dificuldade para o resenhista em escolher o pronome, masculino ou feminino, para este(a) personagem que não se define ao longo da narrativa.  As transições de Manu são também geográficas, iniciando em um ambiente familiar opressor no Rio de Janeiro dos anos 1990, passando pela vida de  clandestino em Paris até uma improvável viagem ao interior pernambucano de Sertão Verde / Tacaratu, sempre um estrangeiro  em busca de pertencimento. A maior parte

Marçal Aquino - Faroestes

Imagem
Marçal Aquino - Faroestes - Editora Companhia das Letras - 152 Páginas - Capa de Alceu Chiesorin Nunes - Imagem de capa: Bilhar (2022) de Marcelo Tolentino - Lançamento: 2022. Faroestes é uma coletânea de contos em relançamento pela Companhia das Letras; p ublicada originalmente em 2001 pela Ciência do Acidente, editora paulista criada por Joca Reiners Terron, escritor que ajudou a divugar importantes nomes da literatura contemporânea na época, inclusive Marçal Aquino, o qual  já havia sido agraciado em 2000 com o prêmio Jabuti para  O amor e outros objetos pontiagudos .  Esta nova edição de  Faroestes conta com orelha de Ana Paula Maia, uma autora que segue estilo semelhante ao de Aquino, definido pelo próprio como "prosa de confronto" e bem explicado por Paulo Roberto Pires em seu  inspirado posfácio: "o confronto é o enfrentamento em si, mas também o átimo que antecede a ele, a ameaça, a provocação." Os contos apresentam uma rara unidade temática que evidencia

Sérgio Rodrigues - A vida futura

Imagem
Sérgio Rodrigues - A vida futura - Editora Companhia das Letras - 168 Páginas - Capa de Elisa von Randow - Imagem de capa de Catarina Bessel - Lançamento: 2022. O mais recente lançamento do escritor e jornalista Sérgio Rodrigues é um romance muito bem-humorado que aproveitando-se de seu virtuosismo com a língua portuguesa, utiliza ninguém menos do que Machado de Assis como narrador-protagonista; um autor defunto seria um perfeito narrador onisciente, considerando os seus poderes de além-túmulo, mas não é o caso aqui, como o leitor logo virá a constatar.  Ainda não satisfeito, Sérgio coloca, de quebra, José de Alencar como seu companheiro de aventuras no Rio de Janeiro pandêmico do século XXI.  O autor de Memórias Póstumas de Bras Cubas  vem acompanhar o amigo imortal em uma missão muito especial: puxar os pés da professora que organiza um projeto de reescrita dos clássicos. O orgulho ou a  "vaidade que sobrevive à morte" é o ponto de partida da trama, quando os Jotas ficam s

Ana Cristina Cesar - Cartas a Luiz Augusto

Imagem
Ana Cristina Cesar - Amor mais que maiúsculo: cartas a Luiz Augusto - Editora Companhia das Letras - 344 Páginas - Capa e projeto gráfico de Elisa von Randow - Lançamento: 2022. O livro reúne todas as cartas de Ana C. para o namorado Luiz Augusto Ramalho no período de 1969 a 1971 quando ela viajou para um intercâmbio na Richmond County School for Girls, em Londres. A poeta, então aos dezessete anos, escrevia sobre literatura, música, cinema e muitos outros assuntos, influenciada pela rica cena cultural londrina da época. No mesmo período, Luiz Augusto residiu em Aachen, na Alemanha, onde se estabeleceu como exilado político. As cartas originais foram doadas em 2021 por Luiz ao acervo da escritora no Instituto Moreira Salles (IMS) e organizadas pela pesquisadora Rachel Valença que explica na introdução os critérios adotados na transcrição. Em um tempo nem tão distante assim, no qual ainda existiam cartas e cartões postais, os textos de Ana C. revelam as transformações típicas da adolesc

Osamu Dazai - Mulheres

Imagem
Osamu Dazai - Mulheres - Editora Estação Liberdade - 272 Páginas - Tradução de Karen Kazue Kawana - Imagem de capa: Uemura Shōen - Vaga-lume (1913) - Lançamento: 2022. A Editora Estação Liberdade foi muito feliz na escolha da imagem de capa desta obra de Osamu Dazai (1909-1948), um dos grandes nomes da literatura japonesa, juntamente com Yasunari Kawabata (1899-1972), prêmio Nobel de literatura de 1968, Junichiro Tanizaki (1886-1965) e Yukio Mishima (1925-1970). De fato, a pintura de Uemura Shōen (1875-1942) expressa a delicadeza do padrão de beleza feminino na cultura nipônica em uma época na qual não era comum que uma mulher se tornasse pintora profissional, visto que elas não tinham acesso ao ensino técnico nas escolas tradicionais. As pinturas de  Shōen ficaram famosas por representar não apenas cortesãs, mas também mulheres comuns exercendo atividades domésticas.  Osamu Dazai é mais conhecido no ocidente por seu romance Declínio de um homem , de cunho autobiográfico que reflete a

Whisner Fraga - Usufruto de demônios

Imagem
Whisner Fraga - Usufruto de demônios - Editora Ofícios Terrestres - 88 Páginas - Capa e diagramação: Fernanda Cistina Martins Pestana - Imagem de capa: Claude Kappler - Lançamento: 2022. O mais recente lançamento de Whisner Fraga é uma coletânea de minicontos que, já a partir do sugestivo título, demonstra o cuidado do autor com a escolha da palavra exata. Na verdade, os fragmentos de narrativa são impulsionados por um lirismo que nos faz pensar em poesia, como em  sacerdócio :  "o primeiro sol apanha o homem cerzindo infinitos, conluios, emboscadas, traições, os óculos atracados ao nariz, a esperança requeimada, o primeiro sol veste a cadeira, aduba o sonho, a história entorna letras pelo papel, tudo é virginal e nem sabe se vingará, mas é vivo: ele admite um prenúncio cintilando no vértice da palavra, a coreografia da imperfeição." Assim como no seu livro anterior, O que devíamos ter feito , o  autor utiliza como matéria-prima para a construção de seus contos algumas das no