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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

Tiago Feijó - Doze dias

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Tiago Feijó - Doze dias - Editora Penalux - 188 Páginas - Capa: Dáblio Jotta - Diagramação: Guilherme Peres - Lançamento: 2022. O romance de Tiago Feijó  foi lançado originalmente em Portugal, tendo sido finalista do Prêmio Leya 2021 e vencedor do Prêmio Manuel Teixeira Gomes de Literatura no mesmo ano. O fio condutor é o reencontro entre Raul e Antônio, pai e filho, após 15 anos de afastamento nos quais se comunicaram poucas vezes em telefonemas curtos e protocolares. No entanto, este reencontro não se deve a uma decisão voluntária de nenhum dos dois e sim a uma emergência médica, quando o senhor Raul acorda com uma dor que o impede de se levantar e não lhe resta outra alternativa, vivendo sozinho na pequena cidade de Lorena, senão ligar para o filho, que mora em São Paulo, em busca de socorro. Assim começa a saga de doze dias no hospital onde, pai e filho, forçadamente juntos, terão a oportunidade de se conhecerem melhor e, talvez, se perdoarem um ao outro. Tiago Feijó construiu a su

Ana Elisa Ribeiro - Menos ainda

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Ana Elisa Ribeiro - Menos ainda - Editora Impressões de Minas - 80 Páginas - Projeto gráfico: Elza Silveira - Ilustrações: Wallison Gontijo - Lançamento: 2022. Em seu mais recente livro de poemas, " Menos ainda" , Ana Elisa Ribeiro nos apresenta um bem-humorado jogo de metalinguagem que utiliza a própria poesia como inspiração, marcando os 25 anos de persistência da poeta falida, como ela mesma ironiza no poema-biografia " Meia vida" : "Já a metade / da minha vida / passei nesta lida // com letras, / papel, projeto, / poemas, falida. // Já a metade, / conforme contei / outro dia. // E prestes já / a contar / mais da metade, / em breve, // estimando, / quem sabe, / que, ao cabo, / pareça ter sido leve. " A poeta assume o papel da desimportância que torna explícito no ótimo "Nem Drummond nem Torquato (menos ainda Adélia)" : "Quando nasci / não veio anjo / algum // O sol se escondia / do outro lado do planeta // E eu surgi / completamente / not

Elieni Caputo - Laço de fita

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Elieni Caputo - Laço de fita - Editora Quixote, Selo Dulcineia - Capa, projeto gráfico e diagramação: Dúnya Azevedo - Lançamento: 2022. Em Laço de fita , a psicóloga, poeta e escritora Elieni Caputo desenvolve um raro e corajoso exercício de ficcionalização ao utilizar como matéria-prima para o romance os fatos que levaram ao seu surto psicótico, as relações com os familiares, os delírios e as internações. Os fragmentos documentais de todo o processo estão entremeados ao longo do texto: cartas de advertência do condomínio onde morava, suas fotografias da época, laudos médicos e um relato da própria mãe para o médico, uma técnica de colagem que reforça a intensidade do caráter realista da obra. Um desses fragmentos, ironia maior, é o anúncio de uma palestra da autora, antes de ser internada e levada à força do hospital onde trabalhava, justamente sobre o tema da reforma psiquiátrica e luta antimanicomial.  Uma obra complexa que pode ser avaliada em diferentes camadas porque é, ao mesmo

Tadeu Sarmento - A vida se ilumina

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Tadeu Sarmento - A vida se ilumina - Editora Caos & Letras - 184 Páginas - Projeto gráfico: Cristiano Silva - Capa: Eduardo Sabino - Lançamento: 2022. A vida se ilumina é uma coletânea de contos que têm o futebol como elo de ligação e nos quais são revisitados alguns dos eventos mais dramáticos da história da humanidade sem, contudo, perder a leveza e o tom bem-humorado. Deve ter sido forte para o autor a tentação de escolher uma epígrafe para este livro de Nelson Rodrigues – nosso maior cronista esportivo e um dos poucos escritores nacionais que ousaram utilizar o futebol como inspiração na literatura –, mas Tadeu Sarmento soube escapar ao óbvio ululante e optou por uma frase que simboliza a liturgia que envolve o esporte mais popular do mundo: "O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante que isso." (William "Bill" Shankly, jogador e técnico escocês). Em A invenção de Ramirez  o protagonista-narrador se recupera de ferimentos em u

Thiago Camelo - Dia um

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Thiago Camelo - Dia um - Editora Companhia das Letras - 208 Páginas  Capa e Imagem: Flavio Flock - Preparação: Willian Vieira - Lançamento: 2022. O romance descreve a trajetória de uma família de classe média carioca que precisa lidar com o suicídio de um de seus membros e de como essa tragédia influenciou a vida de todos. A condução da narrativa é feita em segunda pessoa, utilizando o pronome 'você' e nomeando os personages apenas como: 'seu pai,' 'sua mãe', 'sua avó', 'seu irmão do meio' e 'seu irmão mais velho', uma estratégia que mostrou-se apropriada neste caso ao provocar um certo afastamento e um olhar impessoal, protegendo, assim, o protagonista-narrador (irmão mais novo) e o próprio autor que também passou por experiência semelhante ao ter que assimilar o suicídio do irmão mais velho. Para os que ficam, a vida  precisa prosseguir, contudo o dia um do título é o dia que não quer passar, o dia que dá início ao livro. Antes da trag

Danilo Brandão - Tempos ainda sem nome

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Danilo Brandão - Tempos ainda sem nome - Editora Urutau - 156 Páginas - Capa de Victor H. Azevedo, sobre foto de Guillaume-Benjamin Amant Duchenne - Lançamento: 2022. O livro de estreia de Danilo Brandão surpreende tanto pela forma quanto pelo conteúdo dos contos, normalmente estruturados em uma sequência desnorteante de frases curtas e diálogos velozes não situados no tempo e no espaço, assim como personagens que não se encaixam em um padrão considerado normal pela sociedade, enfrentando situações insólitas. Os textos, portanto, exigem atenção redobrada e cumplicidade do leitor na identificação das circunstâncias e compreensão das motivações de cada narrativa, como no conto Querida amiga , na verdade uma carta, sobre a pandemia: "A essa altura, pouco importa a verdade. Eu escolho sonhar. Acho que sairemos sonhando. Espero que esteja tudo bem com os seus. Amiga. Querida. Fique bem. Cuide-se. Sonhe. Ninguém sairá dessa vivo mesmo. E o mundo já nem existe mais." Já em Sangue ,

Leonardo Almeida Filho - Os possessos

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Leonardo Almeida Filho - Os possessos - Editora Patuá - 156 Páginas - Projeto gráfico e Diagramação: Leonardo Mathias - Imagem de capa: Hieronymus Bosch - Lançamento: 2022. O poeta e escritor Leonardo Almeida Filho aceitou o desafio de fazer literatura a partir da crise política que se instaurou em nosso país nos anos recentes, contudo sem cair na  armadilha de um discurso meramente panfletário. Em seu romance, Os possessos ,  o início da narrativa é marcado pelo velório do protagonista, Luiz Carlos Mariano, um famoso e, ao mesmo tempo, solitário escritor encontrado morto em seu apartamento em Copacabana, sendo, portanto, toda a construção ficcional desenvolvida por meio da visão dos outros personagens que conviveram com ele e da sua própria obra, inclusive notas autobiográficas. As múltiplas e conflitantes vozes, assim como a inserção de diferentes gêneros literários, tais como a tradução de poemas e crônicas de costumes, formam aos poucos  uma imagem precisa das nossas mazelas contem

César Vallejo - Escalas Melografiadas e Fábula Selvagem

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César Vallejo - Escalas Melografiadas e Fábula Selvagem - Editora Bandeirola - 176 Páginas - Tradução de Ellen Maria Martins de Vasconcellos - Projeto gráfico, capa, diagramação: Thaís de Bruÿn Ferraz - Lançamento: 2022. O escritor peruano César Vallejo (1892-1938) lançou dois livros de poesia em vida: Os Arautos Negros (1918) e Trilce (1922). Depois, em 1923, publicou  Escalas Melografiadas e Fábula Selvagem , obras em prosa, reunidas neste volume em tradução inédita no Brasil, projeto editorial de Sandra Abrano da Editora Bandeirola, prefácio de João Mostazo e posfácio de Antonio Merino. Ainda em 1923, após ser preso injustamente por 112 dias, Vallejo deixou o Peru para um exílio voluntário na Europa, tendo morrido na França aos 46 anos, em 1938. Hoje é considerado um dos grandes escritores da literatura hispano-americana do séulo XX, tendo consolidado um estilo fantástico que inspirou, entre outros movimentos, o realismo mágico na literatura latino-americana da década de 1950. Os

João Paulo Parisio - Beija-flor

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João Paulo Parisio - Beija-flor - Editora Vacatussa - 132 Páginas - Edição, projeto gráfico e revisão: Thiago Corrêa Ramos - Ilustração: Andrea Tom - Lançamento: 2022. Os oito contos do pernambucano João Paulo Parisio têm em comum a presença de crianças como protagonistas. Contudo, não é a inocência dessas personagens que é abordada pelo autor nas narrativas, normalmente histórias cruéis com situações de violência física e psicológica vivenciadas por meninos e meninas que têm a sua infância invadida e roubada pelo mundo dos adultos, testemunhas involuntárias de cenas brutais entre os pais e  alvos de agressões ou até mesmo forçadas a praticar, elas próprias, atos violentos como forma de sobrevivência. É o caso do famigerado homem-aranha dos noticiários, saqueador de apartamentos, que pode ser confundido momentaneamente com um homem, mas sob o olhar atento e generoso de uma das vítimas se torna apenas um menino novamente. O cenário é sempre uma surpresa, variando entre os grandes centro