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Mostrando postagens de abril, 2024

Salman Rushdie - Faca: Reflexões sobre um atentado

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Salman Rushdie - Faca: Reflexões sobre um atentado - Editora Companhia das Letras - 232 Páginas - Tradução de Cássio Arantes Leite e José Rubens Siqueira - Capa: Arsh Raziuddin - Lançamento: 2024. Salman Rushdie respondeu mais uma vez à violência com arte e à ignorância com inteligência. Este é o grande resumo do mais recente lançamento do premiado autor, uma espécie de diário do seu processo de recuperação física e psicológica após o violento atentado sofrido em 12 de agosto de 2022, quando, ironicamente, se preparava para iniciar uma palestra patrocinada pela instituição Chautauqua  sobre a necessidade de proteção aos escritores ameaçados por regimes, ideologias e religiões autoritárias  em uma pequena cidade do estado de Nova York, um atentado do qual escapou da morte por muito pouco, ficando com a mobilidade e a sensibilidade da mão esquerda comprometidas e perdendo para sempre a visão do olho direito. Por mais de 30 anos, Salman Rushdie viveu sob a ameaça de uma fatwa, ou sentença

Gabriel García Márquez - Em agosto nos vemos

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Gabriel García Márquez - Em agosto nos vemos - Editora Record - 132 Páginas - Tradução: Eric Nepomuceno - Ilustração da capa: David de las Heras - Lançamento: 2024. Em um dos eventos editoriais mais aguardados do ano, foi lançado simultaneamente em 41 idiomas e 70 países o romance póstumo de Gabriel García Márquez, "Em agosto nos vemos". Segundo o prefácio assinado pelos filhos do autor, Rodrigo e Gonzalo García Barcha, o livro havia sido descartado por Gabo mas, ainda assim, dez anos após a sua morte, os irmãos decidiram solicitar a  Cristóbal Pera,  editor espanhol, que revisasse os originais e prosseguisse com a publicação. A decisão dos descendentes do Prêmio Nobel de Literatura colombiano  e criador do "realismo mágico" que, para o bem e para o mal, passou a significar um sinônimo de literatura latino-americana,   reacende a polêmica sobre o direito dos herdeiros publicarem obras não autorizadas pelos autores em vida. O romance pode ser considerado como o fecha

B. Traven - O navio da morte

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B. Traven - O navio da morte - Editora 7Letras - Selo Imprimatur / Quimera - 320 Páginas - Tradução: Érica Gonçalves Ignacio de Castro - Posfácio de Alcir Pécora - Lançamento: 2024. Em uma época na qual nossos dados pessoais, assim como as múltiplas informações que compartilhamos nas redes sociais, tornam o anonimato algo praticamente impossível, chama a atenção o caso da biografia de B. Traven, pseudônimo de um romancista, supostamente alemão, cujo nome verdadeiro, nacionalidade, data e local de nascimento são todos imprecisos e sujeitos a disputa. O que se tem como razoavelmente certo é que Traven viveu durante anos no México, onde também se passa a maior parte de sua ficção – incluindo O tesouro de Sierra Madre (1927), cuja adaptação cinematográfica resultou em três Oscars. Sua obra de caráter panfletário, sobretudo O navio da morte , demonstra uma orientação anarquista e uma ferrenha crítica ao capitalismo. O navio da morte foi publicado originalmente em alemão em 1926 e em inglê

Maria Fernanda Elias Maglio - Você me espera para morrer?

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Maria Fernanda Elias Maglio - Você me espera para morrer? - Editora Patuá - 184 Páginas -  Capa e projeto gráfico: Anderson Bernardes - Lançamento: 2023. Maria Fernanda Elias Maglio faz a sua aguardada estreia na categoria romance depois das premiadas coletâneas de contos:  Enfim, imperatriz  (Prêmio Jabuti 2018) e  Quem tá vivo levanta a mão  (finalista dos prêmios Candango e Oceanos 2022). Em  Você me espera para morrer? , a autora nos surpreende com  a sua criatividade no tratamento da forma e conteúdo da narrativa, mantendo um  controle absoluto da linguagem que confere autenticidade à construção das personagens, neste caso as irmãs gêmeas Ilana e Aline, principalmente no período da infância, um dos exercícios mais difíceis na literatura e que foi explorado com muita sensibilidade no romance. A narrativa é conduzida alternadamente entre a primeira pessoa, na voz de Ilana em forma de carta para a irmã, e um narrador onisciente em terceira pessoa que descreve a trajetória das persona

Luiz Henrique Gurgel - Porque era ele, porque era eu e outras quase histórias

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Luiz Henrique Gurgel - Porque era ele, porque era eu e outras quase histórias - Editora Caravana - 98 Páginas - Capa e editoração eletrônica: Eduardo César Machado de Jesus - Lançamento: 2023. Luiz Henrique Gurgel nos apresenta alguns textos muito peculiares, nos quais não conseguimos identificar precisamente os limites entre as memórias do autor e a influência da ficção. Logo, uma primeira dificuldade para o resenhista – no seu irritante vício profissional de enquadrar as obras em gêneros predefinidos – é a de classificar este livro entre a crônica ou o conto e acabo marcando as duas opções. O tom memorialista é predominante na primeira e melhor das quatro partes temáticas nas quais a obra está dividida, ou seja:  Entre afetos , Perder-se nas cidades , Teimosias e Em sala de aula . Contudo, em todas as partes, seja na lembrança de um momento ou na descrição de uma cidade, os sentidos estão sempre presentes na forma de cheiros, sons e imagens. De fato, já na crônica de abertura, O che