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Fotografias de Lee Chapman que contam histórias de Tóquio

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Foto Lee Chapman - Tokyo old bar friend Na foto acima, o proprietário de um bar em Tóquio há mais de quarenta anos e seu freguês fiel que se tornou um amigo ao longo do tempo. As fotos do inglês Lee Chapman, disponíveis no seu blog Tokyo Times   ou no  site oficial   registram flagrantes das ruas da capital japonesa onde o moderno tropeça no tradicional a todo o instante e as imagens nos contam histórias que bem poderiam inspirar excelentes romances. Quando não está trabalhando como professor de inglês, Chapman caminha pelas ruas de Tóquio, onde vive desde 1998, em busca de histórias e pontos turísticos que mesmo os residentes de longa duração desconhecem. Foto Lee Chapman - Little Bar Looks Muitas fotos têm como cenário os minúsculos bares, onde a tradição japonesa é desfrutar o happy hour com colegas de trabalho e muita cerveja. Nestes ambientes descontraídos a rígida disciplina japonesa pode ser aliviada por alguns momentos (até o horário de fecham...

Mia Couto - Vozes Anoitecidas

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Mia Couto - Vozes Anoitecidas - Editora Companhia das Letras - 152 Páginas - Lançamento no Brasil: 17/10/2013. Publicado originalmente em 1987, "Vozes Anoitecidas"  foi a primeira coletânea de contos de Mia Couto. Na época, já conhecido como jornalista e poeta, ele surpreendeu público e crítica com as doze narrativas deste livro, onde já estavam presentes todos os elementos que marcaram o estilo único do escritor moçambicano ao longo de sua carreira que culminou com o recebimento do prêmio Camões em 2013. Aqui encontramos o exercício de recriação da linguagem e a invenção de palavras que lembra muito o nosso Guimarães Rosa, utilizando uma mistura de poesia e sonoridade do português coloquial da África, sempre norteado pela preocupação com os problemas sociais que ficam evidentes quando se faz a ligação entre a rica tradição do folclore e a dura realidade atual das ex-colônias. Como bem definiu o poeta conterrâneo José Craveirinha no prefácio à edição portuguesa, "Mia Cou...

Por que Raduan Nassar abandonou a literatura?

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Como todos sabem, Raduan Nassar após ter sido finalista do Man Booker International Prize este ano com a tradução de Um Copo de Cólera, foi honrado com a premiação literária mais importante da língua portuguesa, o Prêmio Camões de literatura 2016 , uma escolha de certa forma surpreendente mesmo para o próprio premiado que declarou com alguma ironia não entender os motivos da escolha da organização já que a sua obra se limitava a "um livro e meio" . Segundo os jurados, Raduan  "privilegia a densidade acima da extensão" o que é a mais pura verdade, diga-se de passagem. O autor, que já completou 80 anos, vive recluso e se recusa a dar entrevistas desde os anos 1980 quando decidiu abandonar a literatura após escrever dois romances clássicos: Lavoura Arcaica (1975) e Um Copo de Cólera (1978). O afastamento por tantos anos do mercado editorial e de todo o entorno de festivais, noites de autógrafos e exposição na mídia, não reduziu em nada o interesse do públi...

Clarice Lispector - Todos os Contos

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Clarice Lispector - Todos os Contos - Editora Rocco - 656 páginas - Prefácio e Organização de Benjamin Moser (lançamento Maio de 2016). Uma bela e merecida homenagem à obra de Clarice Lispector que recebe pela primeira vez no Brasil um tratamento editorial compatível com a importância da sua obra. A antologia, lançada nos Estados Unidos no ano passado, foi relacionada na lista dos melhores livros de 2015 além de ter sido  escolhida como uma das  12 melhores capas do ano , ambas as premiações pelo prestigiado New York Times. Em 2016 já levou o  Pen Translation Prize  de melhor tradução, provando que a sua trajetória internacional está apenas começando.   Esta versão conta com um apaixonado prefácio  ( "Glamour e gramática" )  do seu melhor e mais fiel biógrafo, o escritor, editor, crítico e tradutor Benjamin Moser, que  foi o grande responsável pela divulgação da autora no mercado internacional, lançando em 2009  "Why This World...

Exposição World Press Photo 2016 no Rio de Janeiro

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Hope for a New Life - Warren Richardson  A exposição que reúne as fotos premiadas em nove categorias da edição de 2016 do concurso internacional World Press Photo está em cartaz no Rio de Janeiro até 19 de junho nas instalações da CAIXA Cultural. A foto acima, Hope for a New Life , do australiano Warren Richardson foi a grande vencedora e capta um momento dramático na fronteira entre Sérvia e Hungria onde, através de um buraco na cerca de arame farpado, um bebê é passado a um refugiado sírio que já havia conseguido cruzar a fronteira. Segundo Francis Kohn, presidente do júri, "a imagem tem quase todos os elementos necessários para se entender o que está acontecendo com os refugiados. É uma foto clássica e, ao mesmo tempo, atemporal" . Infelizmente as fotos vencedoras deste concurso nem sempre são agradáveis de se ver, mas isto não é culpa da organização nem dos fotógrafos. China's Coal Addiction - Kevin Frayer A foto acima, China's Coal Addiction , do...

Tradição e modernidade nas ilustrações de Yohey Horishita

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Magic Wind and Thunder Gods - Ilustração Final Yohey Horishita é um ilustrador japonês que reside em Nova York. Ele domina uma técnica muito semelhante à de Yuko Shimizu (ler aqui postagem do Mundo de K), desenhando os contornos à mão com tinta nanquim, digitalizando em seguida o desenho e finalizando as cores com ferramentas de editoração eletrônica como o photoshop. A ilustração acima foi criada para um artigo do jornal Yomiuri e representa Sotatsu Tawaraya, um influente pintor japonês do início do século XVII que acrescentou características humanas às representações divinas. Para visualizar melhor os detalhes (e são realmente muitos detalhes), cliquem nas imagens para ampliá-las. Goemon Ishikawa - Desenvolvimento e Ilustração Final Já a imagem acima, criada para outro artigo do mesmo jornal, representa Goemon Ishikawa, uma espécie de Robin Hood japonês, herói folclórico fora da lei que roubava dos ricos para dar aos pobres no final do século XV. Ele foi ca...

Mia Couto - Cada homem é uma raça

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Mia Couto - Cada homem é uma raça - Editora Companhia das Letras - 200 páginas - Lançamento  no Brasil: 11/04/2013. No momento em que desembrulho minhas lembranças dos onze contos desta coletânea, publicada originalmente em 1990, penso em escrever uma resenha que permita aos leitores sobressonhar com a  parecença do texto, usando um pouco da linguagem inventada pelo moçambicano Mia Couto. Pescando uma palavra aqui e outra ali da prosa mágica do autor, tento mostrar um pedacinho do seu mar de poesia no onduralar que seus sonhos imaginadavam , mas acabo ficando  imovente  e receio  desconseguir completar a tarefa, um verdadeiro drible nos corretores ortográficos. Contudo, nesse enquanto , vem andarilhar comigo no desfolhar das tardes e conhecer uma imagem forte da sofrência do povo africano, uma terra sem dúvida devastada pelas guerras e ganância dos colonizadores, mas onde ainda sobrevive a esperança no espírito livre do homem, pelo menos na literatura de...

Svetlana Aleksiévitch - Vozes de Tchernóbil

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Svetlana Aleksiévitch - Vozes de Tchernóbil - Editora Companhia das Letras - 384 páginas - Tradução direta do russo de Sônia Branco - Lançamento 19/04/2016. Quando soube da escolha da escritora e jornalista bielorussa Svetlana Aleksiévitch para o prêmio Nobel de Literatura de 2015, logo imaginei que a Academia estaria priorizando mais uma vez algum tipo de mensagem política em detrimento da própria literatura. Essa opinião devia-se, em parte, ao desconhecimento do trabalho da autora, inédita em nosso país até aquele momento e também pelo fato de um trabalho jornalístico documental sobre fatos reais, por mais importantes que tenham sido, não ser comparável a um texto literário de ficção. Bem, eu estava redondamente enganado. O livro representa um texto jornalístico sem dúvida, mas a literatura transborda de cada página, com a força e o sofrimento do povo soviético, assim como em um romance de Dostoiévski. A extensão da catástrofe de Tchernóbil ainda é pouco conhecida no ocide...

O humanismo na fotografia de Werner Bischof

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Foto Werner Bischof - Japão, Tóquio, 1951 -  Clube de Striptease Werner Adalbert Bischof (1916 - 1954) é um dos nomes mais importantes na história do fotojornalismo. Ele estudou design gráfico e fotografia de 1932 a 1936 com Hans Finsler ,  mestre do movimento da Nova Objetividade, na Escola de Artes e Ofícios de Zurique e, em seguida, abriu um estúdio de fotografia e publicidade. Em 1942 se tornou um freelancer da área de modas para a revista Du , que publicou seus primeiros grandes ensaios fotográficos em 1943. Bischof recebeu reconhecimento internacional após a publicação em 1945 de sua reportagem sobre a devastação causada pela Segunda Guerra Mundial.  Foto Werner Bischof - Hungria,  Planíces de Puszta,  1947 -  Fazendeiros Nos anos seguintes, Bischof viajou na Itália e Grécia para a Swiss Relief , uma organização dedicada à reconstrução no período pós-guerra. Em 1948, ele fotografou os Jogos Olímpicos de Inverno em St Moritz para a revis...

Enrique Vila-Matas - Ar de Dylan

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Enrique Vila-Matas - Ar de Dylan - Editora Cosac Naify - 320 páginas - Tradução de José Rubens Siqueira - Lançamento 2012 É bom que se diga logo de início que este não é um romance de entendimento simples ou de uma única interpretação, bem como nem um pouco fácil de se resenhar. A narrativa não segue uma estrutura linear e os personagens, a maioria deles escritores, roteiristas ou críticos literários, parece confusa em suas opções e dilemas artísticos ou pessoais. Em algumas passagens, situações absurdas e teatrais são inseridas ao texto, flertando um pouco com o movimento surrealista de André Breton ou o existencialismo de Sartre. Está sempre presente o dilema de todo autor em abandonar as "máscaras modernas" e ser "o mais autêntico possível" ou transformar-se por meio de múltiplos heterônimos, com mudanças de personalidade e alternando ficção e realidade. Bob Dylan funciona aqui como um símbolo das transformações, muitas vezes contraditórias, mas necessár...