Writer´s Rooms - The Guardian
Virginia Woolf |
A versão online do The Guardian lançou uma série há alguns anos sobre os locais de criação de escritores de várias épocas, chamada "The Writer´s Rooms". A imagem acima é o escritório de Virginia Woolf (1882-1941) uma construção de madeira localizada no jardim da casa de Leonard e Virginia onde ela gostava de escrever durante o verão, mesmo não sendo o melhor lugar em termos de concentração devido aos sinos da igreja no fundo do jardim, o barulho das crianças na escola ao lado ou o cão deixando marcas de patas nas páginas de seus manuscritos. No inverno, muitas vezes extremamente frio, ela não podia segurar a caneta e precisava trabalhar dentro de casa.
Em 28 de Março de 1941, em uma manhã fria de primavera, ela escreveu a carta de despedida para Leonard antes de caminhar até o rio Ouse. Virginia Woolf vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e se deixou afogar.
"Querido, Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que depositei em você toda minha felicidade. Você sempre foi paciente comigo e incrivelmente bom. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V."
Jane Austen |
Outro exemplo que impressiona, pela simplicidade, é a mesa de trabalho de Jane Austen (1775-1817), uma pequena peça de mármore onde ela escreveu, entre outros clássicos da língua inglesa, "Orgulho e Preconceito" (1797) e "Razão e Sensibilidade" (1811). Ela teve seis irmãos e uma irmã mais velha, Cassandra. Após a morte de Cassandra, em 1845, a mesa foi doada para um empregado e acabou retornando para o antigo lar, onde permanece até hoje como um símbolo da modéstia de um gênio, como bem destacou o artigo do jornal Guardian.
Eric Hobsbawm |
Em contraste com a sobriedade das fotos acima, temos aqui o caótico local de trabalho do grande historiador Eric Hobsbawm, autor de, entre outros livros, "A Era das Revoluções" (período de 1789 a 1848), "A Era do Capital" (período de 1848 a 1875) e "A Era dos Impérios" (período de 1875 a 1914) e "A Era dos Extremos" sobre a história do século XX. Difícil de acreditar que exista algum tipo de organização neste ambiente.
Outros autores que merecem uma visita nesta série do Guardian: Charlotte Bronte, Charles Darwin, Rudyard Kipling, George Bernard Shaw, Anne Enright, Martin Amis, Siri Hustvedt, Jonathan Safran Foer, John Banville, Will Self.
Comentários
O local de trabalho que mais me impressionou foi o da Jane Austen. Que mesa pequenininha! Destaque também para a quantidade de coisas na(s) mesa(s) de Mr. Hobsbawm. Como ele consegue se encontrar?
clara lopez
ou vai me dizer q ela não joga toda a culpa pelo seu suicído em leonard? imagine vc recebendo um bilhete desses da pessoa q vc ama depois dela se suicidar? seria desanimador. uma facada no peito vinda do além.
qto aos móveis, demonstram q não são lugares mágicos, q em qq lugar q o escritor queira, ele irá conseguir escrever.
1 abraço e boas festas
ah, uma correção: "línga inglesa".
Com relação ao espaço de trabalho, acho que você tem razão, pois quando existe talento o local é de menor importância (que o diga Jane Austen).
Obrigado pela revisão, correção implementada.
Abraço emocionado....
Feliz Natal.
Abraço
Que post maravilhoso. Já li alguma coisa a respeito, mas do jeito que vc colocou, me comoveu. Ainda não li Virginia Woolf, mas o jeito que ela escolheu para morrer, foi chocante. Estava ainda há pouco afirmando para meu filho: "Morrer é fácil difícil é viver. " E para ela era impossível. Ter consciência disto não é para qualquer um.
Vou comentar só sobre a Viginia.
Parabéns!
Abraço.
Você pergunta se existe algum tipo de organização no ambiente do Hobsbawm, eu acredito que sim. Cada um tem uma organização mental diferente. Vai saber o que ele considerou ao agrupar cada pilha de livro, cada prateleira da estante... para ele, deve fazer sentido. Para nós que não temos a chave da mente dele, parece o caos.
Fiquei pensando em algo que você disse em um dos comentário - o que Austen faria se tivesse os modernos recursos de editor de texto e internet... - fiquei pensando que tipo de influencia aquela austeridade, aquele minimalismo pode ter exercido em seu modo de escrever e pensar, e sentir, e o que significaria ter mais recursos, qual o impacto do ambiente onde se escreve sobre o escrever...
bjs,
Iêda
Fiquei emocionada com a mesa de "Jane", especificamente.
"Eric" como um historiador necessita de espaço físico para as pesquisas, natural que tenha mais espaço físico.
Entretanto, tenho observado que as grandes personalidades da história não tem/tiveram grandes espaços físicos para desenvolverem seus trabalhos.
Interessante pensar que este contraste não estaria exatamente no fato de que necessitam se ampliar, expandir pois tem uma vastidão interior que necessita ser ampliada.
Boa semana!
Os detalhes de Jane Austen vinham então de possíveis memórias ou traços que sua mente desenhava. Escrevia sobre os nobres mas vivia na simplicidade. Genial!
Em "As Horas" - filme, podemos ver o local onde a Virgina Wolf escrevia, um pouco mais melancólico que este.
VIRGINIA WOOLF: Se ambas soubessem o que estavam fazendo (Virginia e as pedras), não pesariam tanto. Nem Virginia se acharia um peso para Leonard, nem as pedras afogariam tanta sabedoria.
ERIC HOBSBAWM: O local de trabalho do historiador Eric Hobsbawm é o retrato da desorganização- organizada. É o tipo da foto que da prazer de se ficar olhando, pois mostra um ambiente de um pesquisador inquieto e inteligente que trabalha incessantemente. Um abraço, Armando
Não vi, na lista (será que estava distraída?) o endereço da Louise May Alcott.
Se quiser tentar, aí vai:
http://www.louisamayalcott.org/panoramas/louisa_bb.html