Haruki Murakami - Minha Querida Sputnik

Literatura japonesa contemporânea
Haruki Murakami - Minha Querida Sputnik - 232 páginas - Editora Objetiva, Selo Alfaguara - Tradução da versão em inglês de Ana Luiza Dantas Borges - Lançamento no Brasil 2008 (lançamento original no Japão em 1999, tradução para o inglês em 2001).

Haruki Murakami é um dos escritores contemporâneos japoneses mais populares no ocidente, tendo se tornado uma espécie de autor "cult" e até mesmo cogitado para o Nobel de Literatura nos últimos anos. O seu estilo difere da maioria dos autores japoneses tradicionais, tanto em relação aos temas quanto à técnica narrativa. Encontramos algum paralelo apenas em Junichiro Tanizaki (1886-1965), talvez ainda o mais moderno dos autores japoneses, no verdadeiro sentido da palavra. Esta é a história de Sumire uma jovem de 22 anos que sonha em ser escritora de romances. Ela está totalmente concentrada nesta meta, em uma fase "Jack Kerouac", e chega a abandonar a faculdade para se dedicar integralmente aos seus textos quando, repentinamente, a vida se transforma ao encontrar a sofisticada e rica Miu, mais velha e casada, por quem Sumire se apaixona perdidamente.

Sumire que costumava se vestir de maneira desleixada com roupas masculinas e meias trocadas, muda radicalmente o seu estilo ao ser contratada por Miu como uma espécie de secretária particular. O último vértice do estranho triângulo amoroso é também o narrador do romance, K. (já notaram a quantidade de personagens batizados como K. na literatura, desde o original criado por Kafka em "O Processo"?), um jovem professor primário apenas dois anos mais velho do que Sumire e que tem por ela uma paixão não correspondida. K. é uma espécie de confidente de Sumire e ambos são amigos e leitores vorazes que não conseguem confiar e se relacionar com outras pessoas com facilidade.

Na segunda parte do livro, Sumire parte em viagem de férias com Miu para uma paradisíaca ilha grega, onde desaparece misteriosamente e K. é chamado com urgência por Miu para ajudar a encontrá-la. Mistérios à parte, o tema principal de "Minha Querida Sputnik" é mesmo a solidão das grandes cidades e Murakami encontrou uma criativa e bela imagem figurada para os desencontros das pessoas através da órbita dos satélites artificais, como no seguinte trecho:
"Virei-me de costas na laje, contemplei o céu e pensei em todos os satélites feitos pelo homem girando ao redor da Terra. O horizonte continuava delineado com um brilho tênue, e as estrelas começavam a cintilar no céu profundo, cor de vinho. Busquei entre elas a luz de um satélite, mas ainda estava muito claro para localizar um a olho nu. As poucas estrelas pareciam fixas no lugar, imóveis. Fechei os olhos e prestei atenção aos descendentes do Sputnik, mesmo agora circulando ao redor da Terra, a gravidade seu único elo com o planeta. Almas solitárias de metal, na escuridão desobstruída do espaço, encontravam-se, passavam umas pelas outras e se separavam, nunca mais se encontrando. Nenhuma palavra entre elas. Nenhuma promessa a cumprir". 
O livro é de leitura rápida e agradável, mas a expectativa gerada pela mídia em relação ao trabalho de Haruki Murakami é o que podemos chamar de uma faca de dois gumes porque se por um lado ajuda a divulgar os llivros do autor e multiplicar as traduções em todo o mundo (mesmo que indiretas do inglês), por outro cria uma ansiedade no leitor que fica aguardando em cada parágrafo uma nova obra-prima da literatura. Achei este romance um pouco irregular e precisarei de mais uma leitura de Murakami para uma análise imparcial e justa do seu trabalho, talvez "Kafka à beira-mar" ou "Norwegian Wood".

Comentários

Unknown disse…
Que coincidência, ter lido hoje uma resenha deste mesmo livro em um outro blog. Sou fã do Murakami, e recomendaria a leitura de "A wild sheep chase" ("Caçando carneiros" por aqui - esgotado) ou "Hard-boiled wonderland and the end of the world" (sem tradução por aqui).

Abraços!
Alexandre Kovacs disse…
Wilson, obrigado pela visita e comentário. Recomendações devidamente anotadas!
Anônimo disse…
Quando li o Minha Querida Sputnick achei o livro muito água com açucar. O último do Murakami, 1Q84, achei bem fraco. Um livro de um escritor com a sua fórmula, sem inquietação, sem originalidade. O livro se arrasta, não acontece e dá a sensação de que a divisão em 3 livros é uma manobra comercial e nada mais. Um livro que acrescenta 0's na conta do Murakami, mas nada na sua obra.
Para mim o Murakami foi grande escritor em Crônica do Pássaro de Corda, também gostei muito de Em Busca do Carneiro Selvagem e do Norwegian Wood. O Kafka a beira-mar é muito esquemático, forçado demais, mas ainda tem o seu interesse.
Se o Murakami vence o Nobel e não se atriubui o prêmio a escritores como Philip Roth, Thomas Pynchon... a academia sueca para mim perde total consideração. Até o Rubem Fonseca ou o Ferreira Gullar merecem mais um Nobel que o Murakami!

Ricardo Assis
Alexandre Kovacs disse…
Ricardo, conforme comentei na postagem ainda precisarei ler um pouco mais de Murakami para uma avaliação justa, esperava um pouco mais deste livro. Obrigado por compartilhar as suas impressões sobre o autor.
Eu também tinha altas expectativas com o Murakami mais célebre -está Ryu, que ainda não lí-, e essa obra aqui foi também minha primera experiência com sua literatura.

Espero encontrar algo daquele mestre que todos falam em outra obra sua.

Um abraço,

Manolo.
Alexandre Kovacs disse…
Manolo, esta obra de Murakami realmente não está à altura da fama do autor. Precisarei ler algum outro romance dele para uma análise justa. Obrigado pela visita e comentário.
Pedro disse…
Tive a mesma sensação quando li esse livro. É giro mas não é nada de especial.

Também já li um livro de contos, bastante desequilibrado.

Só me rendo completamente ao Kafka à Beira Mar, esse sim, é um livro entusiasmante.
Alexandre Kovacs disse…
Pedro, obrigado pela visita e comentário!

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