As 20 obras mais importantes da literatura portuguesa

Literatura portuguesa

Obras essenciais na dramaturgia, poesia e prosa portuguesas, clássicos que influenciaram a formação de nossa cultura literária desse lado do Atlântico. Algumas escolhas são óbvias como: Gil Vicente, Camões e Padre António Vieira que não poderiam faltar em qualquer antologia, mas como escolher apenas um romance entre autores lusitanos favoritos como Eça de Queirós (A Relíquia, O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, A Cidade e as Serras), José Saramago (Memorial do Convento, História do Cerco de LisboaO Evangelho Segundo Jesus Cristo, Ensaio Sobre a Cegueira) ou do demônio imbatível das letras António Lobo Antunes com mais de trinta livros publicados, entre eles: Conhecimento do Inferno e Explicação dos Pássaros (links para resenhas do Mundo de K).

A limitação de apenas 20 títulos, como já é tradição aqui no blog, também dificultou muito a escolha, forçando a exclusão de alguns autores importantes e consagrados como: Bocage, Antero de Quental, Cesário Verde, Camilo Castelo Branco, Almeida Garret, Mário de Sá-Carneiro, José Régio, Miguel de Souza Tavares, Lídia Jorge, Inês Pedrosa, José Luis Peixoto e tantos outros. Bem, sabemos que nenhuma lista é perfeita e espero que os amigos portugueses me desculpem pela pretensão.

Gil Vicente (1465 - 1537)
(01) Auto da Barca do Inferno 
        Gil Vicente (1465-1537)

Difícil de acreditar que uma peça de estrutura tão complexa tenha sido criada em 1517, uma sátira de forte apelo moral à sociedade da época. O cenário é um porto imaginário, representando o purgatório, onde se encontram duas barcas, a Barca do Inferno, comandada pelo Diabo, e a Barca da Glória, organizada por um Anjo. Durante a peça, será decidido o destino das almas que seguirão para o paraíso ou inferno. Assim, tem início com o fidalgo um desfile de personagens característicos das classes sociais e orientações religiosas da Lisboa do século XVI, tais como o agiota, sapateiro, bobo, frade, judeu usurário, juiz corregedor e assim por diante, cada um com a sua própria justificativa para ser conduzido ao paraíso, mas poucos conseguirão. Ler aqui uma edição no sistema Google Books.

Luís de Camões (1524 - 1580)
(02) Os Lusíadas 
        Luís de Camões (1524-1580)

A obra máxima da poesia épica em língua portuguesa, publicada em 1572, representa a epopéia da descoberta do caminho marítimo para a Índia e outros episódios da expansão marítima e dos descobrimentos de Portugal na época, tendo sido escrita em homenagem ao rei D. Sebastião. Constituída por dez cantos, 1.102 estrofes e 8.816 versos, se tornou uma espécie de catedral da cultura lusitana. Leitura e download gratuito de Os Lusíadas no sistema do Projeto Gutenberg clicando aqui.
Padre António Vieira (1608-1697)
(03) Sermões 
        Padre António Vieira (1608-1697)

António Vieira foi um influente religioso, filósofo, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Crítico de algumas orientações da Igreja da época como a Inquisição, foi um dos primeiros defensores dos direitos humanos da história, protegendo os indígenas, os judeus, cristãos-novos e a favor da abolição da escravatura. Chegou a ser preso por dois anos devido a suas posturas liberais. Leitura e download gratuito das edições originais dos Sermões e Cartas do Padre António Vieira no sistema Brasiliana Digital da USP clicando aqui.
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Eça de Queirós (1845-1900)
(04) Os Maias 
        Eça de Queirós (1845-1900)

Considerado o maior escritor em prosa da língua portuguesa, criou o elo entre tradição e modernidade através de uma visão crítica da sociedade de seu tempo. Segundo o crítico Massaud Moisés, em suas obras "Eça coloca-se sob a bandeira da República e da Revolução e passa a escrever em coerência com as idéias aceitas, obras de combate às instituições vigentes (Monarquia, Igreja e Burguesia) e de ação e reforma social". Disponível para leitura e download gratuito no site do Domínio Público e resenha completa no Mundo de K clicando aqui.
Florbela Espanca (1894-1930)
(05) Sonetos Completos
        Florbela Espanca (1894-1930)

Florbela d'Alma da Conceição Espanca foi sem dúvida uma mulher muito à frente do seu tempo, tendo escrito poesia, contos, um diário e cartas. Morreu com apenas trinta e seis anos e deixou poemas, principalmente sonetos, que se tornaram clássicos, influenciando outros grandes poetas como Fernando Pessoa. Sonetos Completos, livro publicado postumamente em 1934, reúne poemas lançados originalmente em: Livro de Mágoas (1919), Livro de Sóror Saudade (1923) e Charneca em Flor (1931).
Raul Brandão (1867-1930)
(06) Húmus 
        Raul Brandão (1867-1930)

Publicado em 1917, não foi bem aceito pela crítica e público na época do lançamento. O livro tem várias referências à morte, a começar pelo próprio título, "Húmus", que representa a “camada superior do solo, composta em especial de matéria orgânica, decomposta ou em decomposição”. Apesar da reação negativa inicial, marcou a carreira do autor que publicou vários outros livros, mas ficou conhecido por esta obra.
Fernando Pessoa (1888-1935)
(07) Livro do Desassossego
        Fernando Pessoa (1888-1935)

Um livro muito difícil de classificar como prosa ou poesia, romance ou diário, filosofia ou fragmentos, quase tão complexo como a personalidade de Fernando Pessoa que utilizou, neste caso, o heterônimo Bernardo Soares, definido como um "semiheterônimo" pelo próprio Pessoa "porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela". Na verdade, o guarda-livros Bernardo Soares não tem o mesmo brilhantismo e humor de outros famosos heterônimos como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos ou Ricardo Reis e, no entanto, talvez seja o que melhor traduziu o sentimento de melancolia do próprio Pessoa. Ler a resenha completa do Mundo de K clicando aqui.
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Aquilino Ribeiro (1885-1963)
(08) A Casa Grande de Romarigães 
        Aquilino Ribeiro (1885-1963)

A casa citada no livro foi residência do ex-presidente Bernardino Machado e do próprio Aquilino Ribeiro, que se casou com uma filha daquele presidente. Segundo sinopse da editora portuguesa o autor aproxima o texto ficcional da realidade e "Misturando erudição com a linguagem popular, capta esse ambiente arreigado na religiosidade e na crendice e revela o instinto camponês com todas as superstições e todos os subterfúgios associados à obsessão de propriedade".
Vitorino Nemésio (1901-1978)
(09) Mau Tempo no Canal 
        Vitorino Nemésio (1901-1978)

Vitorino Nemésio foi poeta, contista, romancista, ensaísta e professor. "Mau Tempo no Canal"  demorou cinco anos para ser escrito e foi lançado em 1944, ambientado nas seguintes ilhas dos Açores: Faial, Terceira, Pico e São Jorge, entre 1917 e 1919, tendo como ponto de partida a relação do casal Margarida Clark Dulmo e João Garcia para chegar a um painel mais amplo das regras e convenções da sociedade açoriana da época.
Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar Mau Tempo no Canal de Vitorino Nemésio

Jorge de Sena (1919-1978)
(10) Sinais de Fogo 
        Jorge de Sena (1919-1978)

Romance autobiográfico publicado postumamente e inacabado (o que existe é apenas uma parte do todo que o autor havia delineado) em 1979, um ano após a morte de Jorge de Sena. A narrativa se passa em 1930, na época da Guerra Civil Espanhola, tendo como base a paixão de Jorge por Mercedes em Lisboa O legado de Jorge de Sena é muito importante, tendo escrito poesia, peças de teatro, contos, romance e muitas obras de crítica literária e ensaios sobre a arte em geral. Viveu no Brasil de 1959 a 1965.
Miguel Torga (1907-1995)
(11) A Criação do Mundo 
        Miguel Torga (1907-1995)

Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, foi o primeiro escritor a receber o Prêmio Camões em 1989 pelo conjunto de sua obra que compreende romances, poesia, peças de teatro e ensaios. "A Criação do Mundo" é de caráter memorialista e "narra as principais lembranças de sua vida, como a infância em Trás-os-Montes, as paisagens do campo, sua primeira viagem pela Europa dominada pelo fascismo, o encontro em Paris com exilados políticos portugueses, as rebeliões contra o Estado Novo, a guerra civil espanhola, e até a sua experiência nas cadeias de Salazar."

Vergílio Ferreira (1916-1996)
(12) Aparição 
        Vergílio Ferreira (1916-1996)

Também vencedor do Prêmio Camões em 1992, Vergílio António Ferreira escreveu muitos romances, contos e diários. "Aparição", publicado em 1959, é uma obra complexa e de caráter existencialista. O protagonista Alberto Soares narra em primeira pessoa as lembranças de sua vida e das pessoas que conheceu no tempo em que lecionava em Évora.

José Cardoso Pires (1925-1998)
(13) O Delfim 
        José Cardoso Pires (1925-1998)

O romance, lançado em 1968, tem como cenário a aldeia fictícia de Gafeira onde um escritor narra a misteriosa morte da mulher e do criado de um conceituado engenheiro da região. Gonçalo M. Tavares escreve sobre o livro no prefácio de uma edição recente: "Em O Delfim assistimos a uma escrita despojada por parte de um autor que procura transparência. Cardoso Pires descreve o regime salazarista e debruça-se sobre a forma como este afeta as relações entre as pessoas. É este equilíbrio entre a metaforização de um regime e a descrição do seu declínio que torna O Delfim uma obra tão relevante para a literatura portuguesa."

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
(14) Poesia Completa
        Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Um nome já consolidado na poesia contemporânea, Sophia de Mello Breyner Andresen também recebeu o Prêmio Camões, em 1999. Segundo Massaud Moisés em "A literatura portuguesa": "O lirismo de Sophia é fruto de uma invulgar sensibilidade feminina que parece brotar das mesmas nascentes utilizadas pelos poetas simbolistas. Sempre disposta a 'olhar dentro das coisas', sua intuição se avigora na razão direta das profundezas que alcança, mas jamais se intelectualiza ou se desfeminiza. Ao contrário, 'encantada' pela aura mágica das coisas que contempla, seu universo poético abrange vastidões cósmicas, a principiar do mar, seu motivo preferido". Ler postagem completa do Mundo de K clicando aqui.

José Saramago (1922-2010)
(15) O ano da morte de Ricardo Reis 
        José Saramago (1922-2010)

O que posso dizer em apenas um parágrafo sobre José Saramago, talvez que nunca mais fui o mesmo depois de conhecer a sua prosa caudalosa, único prêmio Nobel da Literatura em português até hoje. Que saudade da época em que podia aguardar um novo lançamento do autor de "Ensaio sobre a Cegueira" e tantos outros romances. Agora só nos resta reler a sua obra. "O Ano da Morte de Ricardo Reis", publicado em 1984, é um grande exemplo de criatividade e amor pela literatura, o famoso heterônimo de Fernando Pessoa volta a Lisboa  em 1936 depois de um período de auto-exílio no Brasil. Um livro onde o lirismo do autor divide o espaço com o romance histórico, outra especialidade de Saramago.

Herbert Helder (1930-2015)
(16) Os Passos em Volta 
        Herbert Helder (1930-2015)

Considerado pela crítica um dos poetas mais originais da língua portuguesa, Herbert Helder costumava recusar prêmios e homenagens, assim como não conceder entrevistas. "Os Passos em Volta", publicado em 1963, está entre o conto, o romance e o discurso autobiográfico. O autor é um dos pioneiros do surrealismo em Portugal e a seguinte citação deste livro substitui muito bem qualquer entrevista: “Não queremos este inferno. Deem-nos um pequeno paraíso humano.” 

Agustina Bessa-Luís (1922 - )
(17) A Sibila 
        Agustina Bessa-Luís (1922-2019 )

A autora publicou muitos romances, roteiros, peças de teatro e livros infantis. "A Sibila", publicado em 1954, tem como base as figuras clássicas das sibilas da mitologia greco-romana, descritas como sendo mulheres com poderes proféticos como a Delfos, a mais célebre de todas. No romance, a palavra indica a protagonista, Quina. Este romance venceu os Prêmios Delfim Guimarães e Eça de Queirós.

António Lobo Antunes (1942 - )
(18) Os Cus de Judas
        António Lobo Antunes (1942 - )

Sem dúvida nenhuma o maior autor vivo da literatura portuguesa, António Lobo Antunes é dono de um estilo único e tem um arsenal de técnicas narrativas muito sofisticado, utilizando a polifonia e alterações de tempo em seus romances. Médico psiquiatra, foi convocado pelo exército português para servir na guerra em Angola, tornou-se internacionalmente conhecido com o seu segundo romance "Os cus de judas" (1979), sobre o conflito e a independência angolanos. Ler postagem completa do Mundo de K sobre o autor clicando aqui.
Gonçalo M. Tavares (1970 - )
(19) Uma Viagem à Índia 
        Gonçalo M. Tavares (1970 - )

Premiado romance de 2010 e definido como uma epopeia portuguesa para o século XXI. Segundo matéria do jornal português Público: "Mais do que a história de uma viagem, o romance de Gonçalo M. Tavares é a história de uma queda. Inspirado pelos clássicos e assombrado pelo séc. XX, 'Uma Viagem à Índia' é o momento mais ambicioso de uma obra pessimista que não abdica da memória e da exigência."

Valter Hugo Mãe (1971 - )
(20) A máquina de fazer espanhóis 
        Valter Hugo Mãe (1971 - )

Grande autor, vencedor do Prêmio José Saramago de 2007 e esperança de renovação da literatura portuguesa. Este é um romance que trata de um tema difícil (principalmente para um autor jovem), a chegada da terceira idade. António Jorge da Silva é um barbeiro que acaba de completar 84 anos e que, depois da morte da mulher, é abandonado em um asilo pelos filhos. Os primeiros dias representam para o protagonista um lento processo de desintegração, chocado pela perda da sua companheira de toda a vida, ele se sente desamparado e sem esperanças em um mundo que parece ter perdido o objetivo, a não ser a lenta e solitária passagem do pouco tempo que lhe resta. Ler resenha completa do Mundo de K clicando aqui.

Comentários

Anônimo disse…
Camilo Castelo Branco era para estar nessa lista, com "Amor de perdição". Autores menos importantes e obras menos importantes entraram.
Anônimo disse…
Pois e faltou muitos outros livros da lusofonia.
R. disse…
Caro Alexandre, parabéns pelo arrojo e obrigado pelo interesse.
Aproveito para comentar.

Gil Vicente: hesitaria entre o Auto da Barca e o Auto da Índia.

Camões: prefiro o lírico ao épico.

Vieira: os Sermões, pois claro.

Eça de Queirós: à frente, e só para falar dos romances, O Primo Basílio ou A Cidade e as Serras.

Aquilino Ribeiro: a minha clara preferência para Andam Faunos pelos Bosques.

Florbela Espanca: os Sonetos, embora seja uma compilação. Não faria parte da minha lista de vinte.

Raul Brandão: é inevitável o Húmus, apesar de A Farsa -- falando só na ficção.

Fernando Pessoa: entre o Livro do Desassossego e as Ficções do Interlúdio (toda a poesia publicada em vida, excepto a Mensagem e as plaquetes em inglês), o meu coração balança.

Vitorino Nemésio: o Mau Tempo no Canal é um dos maiores romances da nossa literatura. É um grandíssimo poeta, também.

Jorge de Sena: é outro grande romance, mas também outro enorme poeta -- e há ainda a extraordinária pela O Indesejado (António, Rei).

Miguel Torga: na narrativa, os contos, em especial Bichos; ou o Diário onde também publicou parte da poesia.

Vergílio Ferreira: Para Sempre é o seu grande romance, superior quanto a mim a Aparição.

José Cardoso Pires. Hesito entre O Delfim e Balada da Praia dos Cães, precisava de relem ambos.

Sophia: a poesia, sim, apesar dos Contos Exemplares.

Saramago: talvez fosse mesmo esse, apesar de Levantado do Chão e Memorial do Convento.

Herberto Helder: a Poesia Toda ou O Poema Contínuo.

Agustina Bessa Luís: há que fale em Os Incuráveis, mas não li, ainda.

Finalmente, Lobo Antunes: prefiro o Autos dos Danados. Outro que dizem muito bom que também ainda não li: Sôbolo Rios que Vão.

Um abraço

Ricardo António Alves
Alexandre Kovacs disse…
Ricardo, o seu comentário detalhado e rico em referências sobre a literatura portuguesa só confirma a impossibilidade de qualquer lista ser completa o suficiente, mas é sempre uma oportunidade renovada de comentar sobre livros e autores! Muito obrigado pela valiosa participação e um abraço deste lado do oceano.
Anônimo disse…
É pena não haver lugar para Milagre Segundo Salomé..

Carlos Lopes
jimmy David disse…
Uma lista decente, mas estamos a falar de obras portuguesas e nenhum autor detalhou tão cruamente o nosso Portugal quanto o grande Alves Redol, por isso merecia também lá estar.
Alexandre Kovacs disse…
Jimmy David, obrigado pela visita e comentário. Uma seleção de apenas 20 obras mais importantes da literatura portuguesa já nasce fadada ao insucesso, mas vale a oportunidade para falar de livros e autores!

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