Daniel Galera - Barba Ensopada de Sangue
Daniel Galera - Barba Ensopada de Sangue - Editora Companhia das Letras - 424 páginas - Lançamento 05/11/2012 (ler aqui um trecho em pdf disponibilizado pela editora).
Daniel Galera confirma mais uma vez a sua habilidade na criação de personagens marcantes e diálogos perfeitos neste seu quarto e aguardado romance. Um jovem nadador e professor de educação física, decide, acompanhado da cadela Beta do falecido pai, se mudar para a supostamente pacata cidade de Garopaba, localizada no litoral de Santa Catarina. O nosso protagonista (sem nome) estabelece uma série de contatos, inclusive afetivos, com a população local, enquanto investiga a violenta e misteriosa morte do avô Gaudério que se tornou uma lenda no passado da cidade. É surpreendente como o paulista Daniel Galera consegue escrever com uma autenticidade regionalista que nos faz acreditar estar lendo em todos os momentos um autor gaúcho (como já fez tão bem antes em Mãos de Cavalo).
A
natureza exuberante da região do litoral sulista e a relação da cidade
com o mar são elementos que Galera utiliza com perfeição na narrativa deste livro e
ainda um interessante recurso para caracterizar ainda mais o isolamento social e geográfico do seu protagonista; ele sofre de um raro distúrbio neurológico que não permite memorizar o rosto das pessoas, inclusive o próprio.
O leitor é conquistado logo de início pela sensibilidade e abandono do personagem que relembra passagens de sua vida em Porto Alegre. É bom destacar que, apesar do título, este não é um romance de violência, mas sim de encontros e desencontros, de amizade e amor, destino e livre-arbítrio, coisas tão banalizadas e esquecidas nesta época de facebook (como parte do seu desligamento da vida urbana, o protagonista cancela a sua conta da rede social em um dos bons momentos do livro). Enfim, o segredo é simples, Daniel Galera sabe escrever, coisa cada vez mais rara em nossa época digital.
A cadela Beta é inesquecível e certamente vai se juntar a outros cães famosos da literatura brasileira, como a Baleia de Graciliano Ramos em Vidas Secas.
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Comentários
Abraço!
Eu li "Mãos de Cavalo" e depois "O dia em que o cão morreu". Folheei “Cordilheira” mas não me empolguei , mas está na fila. Estou lendo “Barba...” e confesso que quase desisti no início, mas depois aquela busca remota e superficial do personagem foi me envolvendo. Longe de ser um Ulisses (de Joyce) a rotina quase banal do personagem de “Barba...” é capaz de prender um leitor. Hoje receio que o livro acabe, mas quero muito saber o desfecho.
Embora ainda não tenha terminado de ler “Barba...”, acho “Mãos de Cavalo” muito bom , muito preciso na escrita enxuta e uma estória super bem contada.