Lima Barreto em dose dupla
Recordações do Escrivão Isaías Caminha (312 páginas) e Triste Fim de Policarpo Quaresma (368 páginas) - Lima Barreto - Selo Penguin Companhia das Letras.
Afonso Henriques de Lima Barreto, o mais maldito de todos os escritores nacionais, nascido mulato no dia 13 de maio de 1881, órfão de mãe aos seis anos, somente no seu aniversário seguinte seria considerado um homem livre com a abolição da escravatura em 1888. Ficou conhecido na imprensa como cronista de costumes do Rio de Janeiro, onde colaborou em jornais e revistas. Seu primeiro romance, "Recordações do Escrivão Isaías Caminha", foi parcialmente lançado em folhetim em 1907 e publicado como livro em Portugal em 1909. Em 1911 escreveu "Triste Fim de Policarpo Quaresma", também lançado em folhetins no Jornal do Comércio. Em 1914 foi internado pela primeira vez no Hospício Nacional, para tratamento do alcoolismo por um período de dois meses e muitas outras vezes depois em sanatórios, por crises psiquiátricas de depressão, dolorosas experiências para uma época em que tratávamos os nossos desiquilibrados mentais como casos de polícia, vivências que originaram obras autobiográficas como "Diário Íntimo" ou "O Cemitério dos Vivos" (um dos mais belos títulos já pensados na literatura brasileira), todos lançados postumamente. Lima Barreto morreu no Rio de Janeiro em 1922 com apenas 41 anos.
Em "Recordações do Escrivão Isaías Caminha" Lima Barreto se utiliza da própria experiência para narrar com muito sarcasmo as desventuras de um jovem mulato perseguido pelo preconceito. O meio jornalístico é também impiedosamente criticado pelo autor que foi banido de todas as redações do Rio de Janeiro após ter lançado este livro. A edição do Selo Penguin Companhia das Letras é complementada por uma introdução crítica de Alfredo Bosi, prefácio de Francisco de Assis Barbosa e várias notas sobre o contexto histórico da obra por Isabel Lustosa que ajudam a identificar os personagens entre os escritores e jornalistas da época. Ler aqui um trecho em pdf disponibilizado pela editora.
"Triste Fim de Policarpo Quaresma" apresenta uma crítica à sociedade da época mais nos moldes de um Machado de Assis com base na história do major reformado Policarpo Quaresma, nacionalista radical que defende o Brasil e os valores da pátria que considera originais como a língua tupi. Um livro que, cem anos depois, ainda é muito atual por tratar desta difícil questão da identidade nacional (ou falta de). Esta edição conta com introdução e notas da historiadora Lilia Moritz Schwarcz e uma resenha de Oliveira Lima, publicada em 1916 no Jornal do Comércio.
Ambas as edições são excelentes oportunidades para relembrar ou conhecer pela primeira vez a obra de Lima Barreto e, quem sabe, corrigir algumas distorções geradas pela leitura obrigatória em escolas, processo que, muitas vezes, desestimula a leitura quando o efeito deveria ser exatamente o contrário.
Em "Recordações do Escrivão Isaías Caminha" Lima Barreto se utiliza da própria experiência para narrar com muito sarcasmo as desventuras de um jovem mulato perseguido pelo preconceito. O meio jornalístico é também impiedosamente criticado pelo autor que foi banido de todas as redações do Rio de Janeiro após ter lançado este livro. A edição do Selo Penguin Companhia das Letras é complementada por uma introdução crítica de Alfredo Bosi, prefácio de Francisco de Assis Barbosa e várias notas sobre o contexto histórico da obra por Isabel Lustosa que ajudam a identificar os personagens entre os escritores e jornalistas da época. Ler aqui um trecho em pdf disponibilizado pela editora.
"Triste Fim de Policarpo Quaresma" apresenta uma crítica à sociedade da época mais nos moldes de um Machado de Assis com base na história do major reformado Policarpo Quaresma, nacionalista radical que defende o Brasil e os valores da pátria que considera originais como a língua tupi. Um livro que, cem anos depois, ainda é muito atual por tratar desta difícil questão da identidade nacional (ou falta de). Esta edição conta com introdução e notas da historiadora Lilia Moritz Schwarcz e uma resenha de Oliveira Lima, publicada em 1916 no Jornal do Comércio.
Ambas as edições são excelentes oportunidades para relembrar ou conhecer pela primeira vez a obra de Lima Barreto e, quem sabe, corrigir algumas distorções geradas pela leitura obrigatória em escolas, processo que, muitas vezes, desestimula a leitura quando o efeito deveria ser exatamente o contrário.
Comentários
Otimos lançamentos.
Po engano o comentario acima saiu pela conta de minha filha.
Abraços,
Eliana
Bjinhos,
Marceli
http://dicadelivro.com.br/
Fico muuuito intrigada quando vejo esse suposto afastamento da leitura...
Quem sabe eu tenha sido muito 'sortuda', pois talvez tudo dependa de como os adultos ao seu redor (família e professores) preparam a leitura, inspiram a 'fome' dela, e lêem para e COM você.
Me apaixonei por Machado e Lima muito cedo, e estou longe prá chuchu de ser 'brilhante' ou coisa semelhante...
Meu pai e D. Glorinha (minha professora de literatura no ginásio e no clássico) eram apaixonados por boa literatura; falavam dos autores como se falassem de amigos (no caso da D. Glorinha, como de um namorado, tanto que a apelidamos de 'D. Glorinha de Assis').
Falavam do ser humano e seu senso trágico (sem dar precocemente esse nome ao fenômeno, claro) para dar uma 'dica' dos assuntos abordados e do quanto eram importantes; quando a gente ia de fato ler, líamos num clima de suspense, de curiosidade, e - sem dúvida - de ansiedade poética, como se tivéssemos sido 'avisados' de que o culto ao belo fosse tão importante quanto respirar...
Onde será que esse processo didático perdeu essa alquimia?...
Vivam os pais leitores, os professores habilidosos, Lima e Machado e todos os demais preciosos!
Eles - sim - me dão a impressão de que a 'vida é curta', pois a maturidade parece curta para relê-los mais e mais vezes, aprofundando a capacidade de deleite cada vez mais... Bjs!