Orhan Pamuk - O museu da inocência

Prêmio Nobel
Orhan Pamuk - O museu da inocência - Editora Companhia das Letras -  568 páginas - Tradução de Sergio Flaksman - lançamento 17/05/2011 (ler aqui trecho em pdf disponibilizado pela editora). 

Orhan Pamuk declarou que este romance, o último de sua carreira, lançado originalmente em 2008 e primeiro a ser publicado após a sua premiação com o Nobel de literatura em 2006, levou seis anos para ser escrito e, o mais curioso,  foi planejado na forma de um catálogo de museu que ele pretende tornar real, constituído por objetos que Pamuk reuniu ao longo dos anos e fazem parte do enredo de "O museu da inocência" como fotografias e postais antigos da cidade de Istambul, vestidos de época,  cartazes de filmes turcos, cigarros e todo tipo de coisa que possa guardar uma memória afetiva, uma espécie de mapa ficcional. Ainda segundo Pamuk, o museu está sendo finalizado e ocupará  um prédio em Istambul que ele comprou há 12 anos, sendo que todos os objetos mencionados no romance estarão lá para apreciação pública, bastando para isto ao visitante apresentar um exemplar (em qualquer idioma) de seu livro.

A história tem início em 1975, mesmo ano em que  termina o  autobiográfico "Istambul", quando o protagonista Kemal Basmaci se apaixona pela bela e sensual Füsun, uma prima afastada e de uma classe social menos favorecida. Eles mantêm um curto e intenso relacionamento com vários encontros sexuais há poucos dias antes da festa de noivado de Kemal com Sibel que seria a escolha apropriada do ponto de vista da sociedade turca dos anos setenta. Kemal tenta ignorar o seu amor por Füsun, fazendo a opção mais conservadora e decidindo abandoná-la, mas logo percebe que a sua vida nunca mais será a mesma e que o amor ou paixão por Füsun se transforma em uma obsessão muito próxima da loucura. A dor por esta perda é compensada pela criação de um triste museu de objetos coletados compulsivamente por Kemal e que contam também a história  da sociedade turca da época e da cidade de Istambul, dividida entre a tradição e a influência moderna europeia.
"Era o momento mais feliz da minha vida, mas eu não sabia. Se soubesse, se tivesse dado o devido valor a esta dádiva, tudo teria acontecido de outra maneira? Sim, se eu tivesse reconhecido aquele momento de felicidade perfeita, teria agarrado com força e nunca deixaria que me escapasse. Levou alguns segundos, talvez, para aquele estado luminoso tomar conta de mim, mergulhando-me na paz mais profunda, mas ele me pareceu ter durado horas, até mesmo anos. Naquele momento, na tarde de segunda-feira, 26 de maio de 1975, em torno de quinze para as três, assim como nos sentíamos além do pecado e da culpa, o mundo todo parecia ter sido liberado da gravidade e do tempo."
Mesmo sem o brilhantismo e originalidade encontrados, por exemplo, em "Meu nome é vermelho", Pamuk sabe contar uma história como poucos escritores contemporâneos, fazendo deste museu uma leitura rara e indispensável aos amantes da literatura.

Comentários

Bento disse…
Meu querido Kovacs,

Obrigado pela bússola.

Abraços.
Gerana Damulakis disse…
O mais recente livro de Pamuk traduzido para nossa língua foi o que mais me encantou (já li todos os outros), pois a história de uma obsessão conseguiu criar a obsessão pelo livro. Grande Pamuk!
Alexandre Kovacs disse…
Gerana, fico muito feliz com o seu retorno! Obrigado pelo comentário.

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