Meu Nome é Vermelho - Orhan Pamuk
Orhan Pamuk - Meu Nome é Vermelho - Editora Companhia das Letras - 534 páginas - Publicação 2004 - Tradução de Eduardo Brandão com base na versão francesa.
Fiquei conhecendo o trabalho de Orhan Pamuk, ganhador do Nobel de Literatura 2006, através do romance "Neve" que foi mundialmente divulgado e discutido devido ao caráter político do choque entre radicalismo islâmico e influências da cultura ocidental na Turquia moderna. Na ocasião, o refinamento estético da narrativa de Pamuk me deixou surpreendido, mas com este "Meu Nome é Vermelho", lançado originalmente em 1998, encontrei não apenas o rigor artesanal no texto, mas também um nível de experimentalismo narrativo raramente visto na literatura moderna.
A cidade de Istambul, centro do Império Otamano no final do século XVI, é o cenário de "Meu Nome é Vermelho" e a preparação de um livro representando o poder e riqueza do Império em comemoração ao primeiro milênio da Hégira é o fato desencadeador de toda a narrativa. Este livro, segundo orientação do sultão para demostrar a superioridade do mundo islâmico, deveria conter ilustrações pintadas com base nas técnicas retratistas da pintura renascentista ocidental o que contraria um dogma do islã , segundo o qual toda arte figurativa constitui um pecado.
As pressões dos grupos religiosos islâmicos radicais fazem com que a tarefa da criação deste livro se torne bastante arriscada o que acaba levando ao assassinato de um dos miniaturistas contratados. De volta a Istambul após doze anos, Negro deverá desvendar o mistério no prazo máximo de três dias, caso contrário pagará com a própria vida. Este gancho policial faz lembrar bastante "O Nome da Rosa" de Umberto Eco que soube equilibrar também cultura, filosofia e mistério em um único romance.
Pamuk levou ao extremo a técnica da "polifonia", uma vez que diversas vozes se alternam no decorrer de "Meu Nome é vermelho" que é contado por dezenove narradores diferentes. O capítulo inicial, por exemplo, é narrado pelo cadáver do miniaturista: "Agora, sou meu cadáver, um morto no fundo de um poço. Faz tempo que dei o último suspiro, faz tempo que meu coração parou de bater mas, salvo o canalha que me matou, ninguém sabe o que aconteceu comigo. Esse crápula desprezível, para certificar-se de que tinha mesmo dado cabo de mim, observou minha respiração, espreitou minhas derradeiras palpitações, depois deu-me um chute nas costelas, arrastou-me até um poço, passou-me por cima da mureta e precipitou-me fosso abaixo."
Alternando os narradores em cada capítulo, Pamuk consegue uma visão multifacetada da história o que dá um movimento extraordinário ao romance e desperta interesse compulsivo no leitor.
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Comentários
um abraço, tudo de bom,
clara lopez
Abraços
Meu Nome é Vermelho está na minha lista dos melhores livros que li em 2007, ao lado de Neve do mesmo autor e Os Filhos da Meia-Noite de Salman Rushdie. Aliás, estes três estão entre os melhores que já li.
Que em 2008 você continue nos oferecendo este belo trabalho, com muita saúde, sabedoria e paz.
Um abraço e Feliz 2008!
A editora Cosac & Naify lançou uma edição caprichada (como sempre) de “Os Meninos da Rua Paulo”. Vale a visita ao site: http://www.cosacnaify.com.br
!!!!!!!!!!!!
Você me pediu num post que dissesse minha impressão sobre o livro.
Difícil, pelo menos neste momento em que as últimas palavras ainda cintilam na minha mente, e o gosto doce que senti ao terminá-lo persiste em mim... um misto de saudade dos personagens e admiração por este autor. Você tem toda razão em indicá-lo como uma excelente amostra do que podemos ainda ter na literatura universal. Falo assim, pois para mim, esta esplêndida história, tem este poder de, mostrando um conflito regional, fazer analogias em nossas mentes de um sentimento que é do homem, esteja ele na Turquia, em Paris ou em Araraquara.
Sim, certamente tem o toque policial noir, a intriga, o erotismo, uma hist´ria de amor, um espetacular texto conduzido como uma sinfonia, onde cada narrador faz sua parte com maestria...
Ah, e a cena da morte do Tio?
Sem dúvida, vai para o panteão das grandes descrições.
E as lendas orientais inseridas?
Dá gosto.
E por fim, a delícia final que é o toque de fábula, que me remeteu aos finais que nos permitem visualizar a legenda... "Por enquanto é só, mas..." Onde o narrador, meio que nos convida a ser cúmplice do seu dizer.
Juro que vi Shekure piscando o olho!
Pois é... você pediu.
rs...
Esta não é uma crítica literária., é uma declaração de amor a um livro imperdível.
Beijos e aquela coisa toda
O seu texto ficou empolgante e verdadeiro. Passou a sensação que temos quando somos arrebatados por um livro maravilhoso como este.
A morte do tio é uma das passagens mais fantásticas que já tive oportunidade de ler em toda a literatura universal.
Acho que fiquei me sentindo exatamente como você descreveu no comentário, mas a minha resenha ficou fria e impessoal. Preciso aprender a escrever resenhas de poeta, como a sua.