Walter Isaacson - Steve Jobs: A biografia

Walter Isaacson - Steve Jobs, a biografia - Editora Companhia das Letras - 624 páginas - Tradução de Berilo Vargas, Denise Bottmann e Pedro Maia Soares - Lançamento 20/10/2011 (Leia aqui um trecho disponibilizado pela Editora).

Uma biografia que mais parece um romance e que demonstra como a realidade pode ser mais surpreendente do que qualquer obra de ficção. De fato, Walter Isaacson que foi presidente da CNN e editor executivo da revista Time, utilizou a sua experiência como jornalista para desenvolver um texto fluente, mas com riqueza de detalhes e reproduzir a trajetória pessoal e profissional de Steve Jobs (1955-2011), um personagem digno de romance e que descobriu muito cedo como havia sido abandonado por seus pais biológicos, mas também escolhido e criado de maneira especial pelos pais adotivos, dono de uma personalidade difícil e muitas vezes arrogante, mas que soube aliar criatividade e tecnologia em sua paixão pela excelência dos produtos e inovação nas empresas que criou e gerenciou ao longo da vida. 

Uma carreira — se é que podemos chamar de carreira, no sentido que conhecemos — que iniciou quando tinha apenas vinte anos e, juntamente com o gênio "nerd" Steve Wozniak fundou a Apple na garagem de sua casa, um capítulo importante na revolução dos computadores pessoais, culminando com o lançamento do Macintosh em 1984 e a grande novidade do sistema amigável de interface gráfica com o usuário (sistema operacional que foi copiado posteriormente pela Microsoft de Bill Gates através de diversas versões do Windows) chegando finalmente no eficiente e portátil Mac book dos dias de hoje. Os altos e baixos fizeram com que Jobs fosse expulso da Apple em 1985 para retornar triunfalmente em 1997, salvando a empresa da falência e ainda desenvolvendo uma série de produtos inovadores que ajudaram a transformar as indústrias de informática, cinema de animação, música, telefonia celular e influenciaram todas as atividades do nosso cotidiano. Aparelhos portáteis de design simples e eficiente como o iPod, iPhone e iPad que influíram no comportamento da sociedade e na forma de encarar o mundo no século XXI, para o bem e para o mal.

Um dos aspectos curiosos do livro é mostrar como, antes de completar 20 anos, o futuro executivo visionário da Apple tinha sido, em sua adolescência, um fervoroso adepto do movimento da contracultura, consumidor de drogas (maconha e LSD), vegetariano radical, praticante do zen-budismo e fã incondicional da música de Bob Dylan. Afinal era o final da década de 1960 em San Francisco e no Vale do Silício e a cultura hippie, descendente da geração beat, encantava os jovens com o lema do flower power. Difícil de acreditar, mas Steve Jobs costumava caminhar descalço e achava que o metabolismo condicionado por sua dieta vegetariana eliminaria a necessidade de tomar banho regularmente, fato que todas as pessoas à sua volta comprovavam como inverídico devido ao insuportável mau cheiro que exalava de todo o seu corpo. Ainda nessa época fez uma peregrinação durante sete meses em várias cidades da Índia.

O livro aborda também um período pouco conhecido e divulgado da vida de Steve Jobs, quando esteve afastado da Apple e comprou a Pixar em 1986, na época uma pequena divisão da Lucasfilm, por US$ 5 milhões. A Pixar representou a chance de Jobs desenvolver um negócio posicionado exatamente na interseção da criatividade com tecnologia, coisa que ele adorava. Seguindo o lema de Walt Disney: "É divertido fazer o impossível", Jobs exercitou a sua paixão por detalhes e novos projetos, ajudando a criar clássicos da animação no cinema, quando a própria Disney parecia esgotada. Foi o caso de Toy Story, Vida de Inseto, Monstros S.A., Procurando Nemo e Os Incríveis, uma sequência de sucessos fabulosa que levou a Disney a comprar a Pixar em 2006 por US$ 7,4 bilhões, tornando Jobs o maior acionista individual da Disney, nada mau para um executivo do ramo de computadores.

É bom lembrar que trata-se de uma biografia autorizada, tendo sido escrita à pedido do próprio Steve Jobs no período em que lutava contra o câncer, com base em entrevistas exclusivas ao autor por um período de dois anos. Não houve exigência por parte de Jobs para leitura prévia à publicação ou qualquer tipo de interferência no texto. De fato, Walter Isaacson trabalhou com independência para descrever o complexo perfil do biografado e sua polêmica trajetória empresarial. Steve Jobs nunca foi um exemplo de bom comportamento humano, tendo ignorado a responsabilidade pela filha, resultado de um relacionamento que manteve aos 23 anos, tornado-se famoso pela obsessão controladora sobre todos os aspectos do desenvolvimento dos produtos de suas empresas, tratado com brutalidade muitos de seus colaboradores diretos quando entendia que os resultados não eram compatíveis com o nível de perfeição imaginado por ele e criado o conceito de "campo de distorção da realidade", como era conhecido na Apple o eufemismo para a sua tendência a mentir e ignorar a realidade de forma a alcançar seus objetivos pessoais e profissionais.

Hoje é fácil constatar que a estratégia empresarial de Jobs foi consistente, apostando no controle total de produção de um pequeno, mas importante grupo de produtos, garantindo a integração contínua de hardware e software (em oposição à Microsoft), perseguindo a excelência no design,  criando o iTunes para baixar conteúdos da iTunes Store e o conceito de iCloud como centro de armazenamento digital para o usuário e, finalmente, as fantásticas lojas da Apple espalhadas pelas capitais mais importantes do mundo em locais estratégicos como a Quinta Avenida, apresentando uma renda média por loja de US$ 34 milhões e total de vendas líquidas de US$ 9,8 bilhões em 2010 e fazendo com que a Apple se transformasse na mais valiosa empresa de tecnologia da atualidade.
"Alguns dizem: 'Deem aos consumidores o que eles querem'. Não é assim que eu penso. Nossa tarefa é descobrir o que eles vão querer antes de quererem. Acho que Henry Ford disse certa vez: 'Se eu perguntasse aos consumidores o que queriam, eles teriam dito: 'Um cavalo mais rápido!' As pessoas não sabem o que querem até que a gente mostre a elas. É por isso que nunca recorro a pesquisas de mercado. Nossa tarefa é ler coisas que ainda não foram impressas." - Entrevista de Steve Jobs a Walter Isaacson (pág. 583)
Nota: Uma coincidência muito interessante é que hoje (24/02) Steve Jobs completaria 61 anos. No próximo domingo (28/02) o filme com roteiro de Aaron Sorkin, que foi baseado na biografia de Walter Isaacson, concorre ao Oscar com duas indicações: Melhor Atriz Coadjuvante (Kate Winslet) e Melhor Ator (Michael Fassbender). 

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