Cartas a um jovem escritor - Mario Vargas Llosa

Literatura em língua espanholaO peruano Mario Vargas Llosa, neste livro de leitura rápida e agradável lançado em 2006, apresenta uma série de técnicas narrativas com base em exemplos da literatura universal moderna e clássica como Miguel de Cervantes, Jorge Luis Borges, William Faulkner, Franz Kafka e muitos outros do mesmo nível.

Vargas Llosa é mais conhecido do grande público pelo seu último e bem sucedido romance “travessuras da menina má” e também por ter sido, em 1990, candidato à presidência do Peru, sendo derrotado no segundo turno por Alberto Fujimori.

O primeiro e importante passo para se tornar um bom escritor, segundo Mario Vargas Llosa, é ser um leitor compulsivo. Esta também era a opinião de Borges que, por uma grande crueldade do destino, veio a morrer cego.

O ofício do escritor, ou vocação literária, ainda segundo Llosa “não é um passatempo, um esporte, um lazer refinado que se pratica nas horas vagas. É uma dedicação exclusiva e excludente, uma prioridade à frente da qual nada pode passar, uma servidão livremente escolhida que transforma suas vítimas (suas ditosas vítimas) em escravos”.

Para Llosa, o autor sempre utiliza, mesmo que inconscientemente, a sua própria vida e a transforma em matéria-prima para suas histórias. “O escritor não escolhe seus temas: é escolhido por eles”. Uma comparação muito perspicaz e curiosa é feita por Llosa ao comparar o trabalho do escritor com o “Catoplebas”, animal mítico que devora a si mesmo, o escritor também “age como um carniceiro de sua própria experiência”.

Ou ainda em outra síntese notável sobre o mesmo tema “o romancista que não escreve sobre o que lá no fundo do seu ser o estimula com insistência, mas que friamente escolhe assuntos ou temas de maneira racional porque acredita que assim terá mais chance de sucesso carece de autenticidade, e o mais provável é que por isso seja também um mau escritor (ainda que bem sucedido)

No decorrer deste livro são apresentadas e discutidas várias técnicas de estilo, narrativa, tempo e níveis de realidade, sempre com farta exemplificação de cunho erudito. Obviamente não se trata de um manual ou livro de auto-ajuda e o objetivo do mesmo só será alcançado se o leitor possuir uma bagagem mínima de conhecimento literário.

A conclusão do próprio Llosa, no capítulo final do livro, sintetiza bem o tema: “(...) ninguém pode ensinar ninguém a criar; na melhor das hipóteses, podemos aprender a ler e escrever. O restante precisamos ensinar a nós mesmos, tropeçando, caindo e levantando sem cessar”.


Comentários

Anônimo disse…
Prezado K,

Muito interessante o seu blog.
Na realidade, não li muitos dos livros que você comenta, mas de qualquer modo, gostei do estilo da sua análise, precisa e elegante, e num português de nível muito acima da média.
Você pretende também escrever crônicas ou algum outro gênero de ficção, além dos comentários sobre literatura?

Abraços,
Do seu amigo escritor de especificações de construção de plataformas...
Alexandre Kovacs disse…
Caro amigo anônimo,

Obrigado pela visita e elogios. Criei este BLOG durante as minhas férias de janeiro e, desde então, tenho utilizado este espaço como uma opção à insuportável dose de pragmatismo diário a que somos submetidos.

A minha profissão requer uma definição precisa de objetivos e o desenvolvimento de estratégias para alcançá-los com o menor investimento possível e o máximo lucro.

Logo, não estou buscando definir ou alcançar muitos objetivos por aqui, exceto estar em um ambiente onde possa debater temas ligados à literatura e arte em geral.

Gostaria muito de escrever outros textos, prncipalmente na área de ficção, mas infelizmente sinto que para isto me falta o principal, ou seja, dedicação e competência.

De qualquer forma, fico muito satisfeito de poder abordar minhas idéias com alguns poucos amigos e isto tem me trazido alguns momentos felizes.

Mais uma vez obrigado pela visita e volte sempre.

Abraços,
K
Anônimo disse…
Caro K,

Suponho que você já saiba a minha identidade (se não souber ainda, mais uma dica: sou também construtor de modelos de navios...).

Conheço muito bem as pressões a que você está sujeito no trabalho diário, e também a sensação de aridez provocada pela imersão a fundo na tarefa do gerenciamento de projetos.

Mas, de qualquer forma, é um meio de vida, a Engenharia tem suas coisas boas (pelo menos, eu acho, afinal é a minha vocação desde cedo).

Acontece que acabamos ocupando uma parte muito pequena do nosso tempo com atividades que nos dão satisfação pessoal/ profissional e, deste modo, escrever se torna uma maneira de expressar tudo aquilo que nosso trabalho não nos permite.

Temos que ser eficientes, pontuais, não podemos errar, temos que saber tudo ao mesmo tempo, temos que ser bons líderes e também bons funcionários, vivemos em cima do muro.

Para o patrão, somos "peões", e para os subordinados, representamos os interesses do patrão. Assim vamos alternando estes papéis do modo mais adequado ao momento, usando ao máximo nossas habilidades técnicas e de relações humanas.

Enfim, chega de verborragia!

Quanto à sua auto-avaliação, me pareceu um pouco severa. A autocrítica pode ser destrutiva, impedindo de dar os passos iniciais quando a gente tenta enveredar por novos caminhos.

"IMHO" (nesse horrível jargão de Internet), você deveria deixar a pena correr, sem compromissos nem cobranças.

O tempo dirá o resto.

Grande abraço,
RH.
Barros (RBA) disse…
Muito interessante e oportuno o tema do livro indicado. Ficará na minha lista de leituras futuras (são tantas e há tão pouco tempo...)
nostodoslemos disse…
Acredito sinceramente que a graça da vida vem desta parte:

"O restante precisamos ensinar a nós mesmos, tropeçando, caindo e levantando sem cessar”

A vida,um constante aprender. Isto significa que nunca estaremos prontos seja como ser vivente ou tentativa de escritor. Se assim o é, melhor começar a praticar o quanto antes... nem que seja aos 'trancos e barrancos', rsrsrs
Alexandre Kovacs disse…
Cara Lígia, concordo e acho que a citação vale para qualquer atividade humana e não só literatura.
myra disse…
eu li ,acho todos os livros de vargas Llosa, mas este eu nao conheçO!!!! pena que aqui onde vivo, nao vou nunca encontrar este livro...
teu blog è realmente um poço de cultura. Que bom!
um grande abraço,
Alexandre Kovacs disse…
Myra, é um livro bem agradável que se lê quase de uma vez só, mas acho que editado apenas no Brasil.

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