"Call me Ishmael" - Herman Melville, Moby Dick

LiteraturaA revista American Book Review lançou uma lista com as 100 melhores frases de abertura em romances na literatura mundial (ver a lista completa aqui). Segundo André Moura e Cunha do blog Nunca Mais esta prática seria apenas "um mero exercício teórico e hiperbólico para se discutir literatura e destreza literária". A frase ganhadora: "Me chamem de Ismael", abertura do romance Moby Dick de Herman Melville, ainda segundo André, seria a maior constatação da inutilidade desta lista por ser aparentemente inócua.

A análise abaixo de Mario Vargas Llosa sobre a fórmula narrativa de Moby Dick em "Cartas a um jovem escritor", parece contradizer esta ideia, abordando alguns detalhes da referida frase de abertura:

"Examinemos alguns casos interessantes de versatilidade, desses saltos ou guinadas espaciais do narrador. Sem dúvida você se recorda do começo de Moby Dick, outro dos mais perturbadores do romance universal: "Call me Ishmael" ("Me chamem de Ismael"). Um começo extraordinário, não? Em apenas três palavras em inglês, Melville consegue despertar no leitor uma intensa curiosidade com relação a este misterioso narrador-personagem, cuja identidade lhe é escondida, já que sequer fica claro se seu nome realmente é Ismael. O ponto de vista espacial sem dúvida está bem definido. Ismael fala na primeira pessoa do singular, é mais um personagem da história, se bem que não o mais importante - tal papel é reservado ao fanático e possuído Capitão Acab ou talvez à sua inimiga, a torturante ausência onipresente representada pela baleia branca que ele persegue por todos os oceanos do mundo -, mas uma testemunha e um participante de grande parte das aventuras que conta (das demais ele ouviu falar e as retransmite ao leitor)."

É claro que não podemos levar muito em consideração a validade de listas que comparam autores, estilos e épocas diferentes, mas é sempre uma boa chance de relembrar bons livros. A mesma American Book Review apresenta também uma lista com as 100 melhores frases de encerramento de romances, vale a pena conferir aqui.

Comentários

Anônimo disse…
Achei ótimo o post. Eu considero de grande valor esta lista de primeiras frases, primeiros impactos. O exemplo de Moby Dick é perfeito, embora não saberia dizer o porquê de ter ganho.
Mas Alexandre, eu, por curiosidade olhei Mulheres, de Bukowski e, lá vai a primeira frase:
"Eu tinha cinqüenta anos e há quatro não ia para cama com nenhuma mulher."
Acho interessante porque ele, o Henry, já deixa claro inicialmente não ser exatamente um pervertido.

Ou,
"Hoje o sol voltou a brilhar de verdade pela primeira vez, depois que Luisa partiu." do livro Hóspede da utopia, do Gabeira. Eu lembro ter sentido de cara um alívio pelo personagem, gerando logo empatia.

Adoro vc e suas listas.
Beijos.
No meu blogue anterior ao anterior, cheguei a elaborar uma lista de frases de abertura com o apoio da blogosfera, assim como tentei trazer a tradução oficial para cada uma das vencedoras da ABR. (Blogue: Data que funcionava com auxiliar do principal Porque (consta lá essa, de Bukowski).
Quanto ao «Call me Ishmael» eu apenas digo que para o leitor comum é apenas um frase como tantas outras, não arrebata, faz um apelo à curiosidade. E não estou de forma alguma em oposição ao texto de García Márquez, bem pelo contrário, o que ele diz a seguir, por outras palavras, vem reforçar o que eu digo em relação ao corpo do texto, ao desenvolvimento da narrativa.
Um abraço,
André
Daisy Carvalho disse…
Oi Andr� fui l� conferir sua lista e tradu�es. Parab�ns!
Gosto muito das resenhas aqui editadas.
Parabéns!!!

Obrigado pela presença no meu blog.

bjs.

JU Gioli
Alexandre Kovacs disse…
Daisy, você e Bukowski serão sempre bem vindos por aqui! Obrigado pelo comentário.

Outro início inesquecível de Franz Kafka (O Processo): "Alguém certamente havia caluniado Josef K pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum".
Alexandre Kovacs disse…
André, não é de hoje que leio os seus textos de excelente conteúdo, tanto no blog "In Absentia" quanto no mais recente "Nunca Mais", ambos com links aqui no meu mundo.

Fiquei muito satisfeito com a sua participação nesta postagem, volte sempre!
Alexandre Kovacs disse…
JU Gioli, as fotos de sua viagem pela Itália lá no seu blog estão ótimas. Tenho acompanhado com muito interesse, obrigado por achar tempo para passar por aqui.
vera maria disse…
Eu também gosto muito de começos de romances e de frases fortes. O post está ótimo, parabéns!
um abraço,
clara lopez
Alexandre Kovacs disse…
Clara Lopez, obrigado pela visita, fico contente que tenha gostado do texto.

Concordando ou não, listas são sempre um tema interessante para blogs.
Leila Silva disse…
Mais um livro que eu já devia ter ligo há muito tempo.
abraços
Alexandre Kovacs disse…
Leila, fantástico aquele vídeo que você postou da Marie Trintignant interpretando Kozmic Blues lá no "cadernos da Bélgica". Obrigado pela visita.
Ana R. disse…
Como vc bem disse, Kovacs, "é sempre uma boa chance de relembrar bons livros." E Moby Dick é inesquecível, faz parte do universo das minhas melhores lembranças da infância. Aliás, adoraria reler...Acho que poderia dedicar-me a reler tantos livros, parece que apreendemos diferentes significados a cada releitura....
Abraços!
Alexandre Kovacs disse…
Ana, existe uma citação atribuída a Jorge Luís Borges que expressa bem a idéia:

"Nós mudamos incessantemente, mas se pode afirmar também que cada releitura de um livro e cada lembrança dessa releitura renovam o texto."
O Blogger recusou meu comentário - vou tentar de novo.
Não sei se essa é a melhor primeira frase. Mas sei que Moby Dick, jue li e reli várias vezes desde a adolescência - com uma nova leitura a cada vez, com o passar do tempo - faz parte da lista dos que chamo "os meus livros mágicos".
Alexandre Kovacs disse…
Sonia, falou e disse! Talvez a tal frase de abertura seja a coisa menos importante deste romance que é absolutamente mágico como você bem definiu.

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