Arquivo Pessoa e Labirinto MultiPessoa

Poesia
Boa notícia para a literatura em língua portuguesa. Depois do ótimo Portal da Casa Fernando Pessoa que apresenta além das obras dos heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Bernardo Soares e Ricardo Reis, poesias do próprio Fernando Pessoa e um banco de dados de poetas consagrados, com excelente tratamento multimídia, podemos encontrar agora na Internet extenso material inédito de Fernando Pessoa com abordagem científica através dos novos Portais Arquivo Pessoa e Labirinto MultiPessoa.

Segundo informações dos próprios sites, o Arquivo Pessoa e o Labirinto MultiPessoa correspondem a uma atualização de um CD intitulado MultiPessoa — Labirinto Multimedia, dirigido por Leonor Areal e co-editado em 1997 pela Texto Editora e a Casa Fernando Pessoa. Os portais dirigem-se a todo o tipo de leitores, do leigo ao investigador, tendo os seguintes objetivos principais:

(1) Divulgar a obra de Fernando Pessoa, tornando-a acessível a qualquer leitor, através de uma espécie de antologia interativa, o Labirinto;

(2) Ser um instrumento didático que facilite e apoie o estudo da obra pessoana na sua multiplicidade;

(3) Servir como instrumento de investigação ao permitir pesquisas de texto complexas na obra de Fernando Pessoa.

Existe a previsão de atualização e complementação durante o ano de 2009 das informações disponíveis nos Portais, incluindo textos de crítica literária sobre Fernando Pessoa, vídeos e jogos literários.

Comentários

Ricardo Duarte disse…
Kovacs,
Fernando Pessoa foi o responsável por eu gostar de poesia. Quanto mais o leio mais o considero genial. O título de um dos sites (excelente, diga-se de passagem), Labirinto MultiPessoa, me lembrou do poema de Mário de Sá-Carneiro, grande amigo dele:

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
Alexandre Kovacs disse…
Ricardo, realmente não há como conhecer Fernando Pessoa e continuar imune à poesia.

Mário de Sá-Carneiro e Pessoa foram grandes amigos e trocaram intensa correspondência (ver Correspondência com Fernando Pessoa - Companhia das Letras, 2004) até o suicídio de Sá-Carneiro em um quarto de hotel em Paris com 26 anos incompletos.

"Não me pude vencer, mas posso-me esmagar, - Vencer às vezes é o mesmo que tombar - E como inda sou luz, num grande retrocesso, Em raivas ideais, ascendo até ao fim: Olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso...
Tombei...
E fico só esmagado sobre mim!"
Mário de Sá-Carneiro, "A queda".
nostodoslemos disse…
Espaço Pessoa, literalmente.

"PENSAR E NÃO SENTIR; viver como quem dorme
Numa inconsciência vagamente consciente
Sem saber-se cercado da noite enorme
Sem ver o abismo que nos cerca negramente,

Essa é a vida normal sorridente
Ao gozo de ser feliz e conforme
Onde a insuspeita realidade nos não mente
Nem a sombra do mundo é (para nós) disforme.

(POESIA - 1902-1917)
Alexandre Kovacs disse…
Ligia, obrigado pelo poema! Acho que cada um guarda coisas de Pessoa na própria alma.

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo
Álvaro de Campos - Tabacaria
Ricardo Duarte disse…
Kovacs,
Como deixei um poema de Sá-Carneiro no primeiro comentário, agora coloco um poema do homenageado:

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio - Ricardo Reis

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

(...)
nostodoslemos disse…
Boa tarde!

O POVO PORTUGUÊS

Talvez que seu coração
Dorme na passividade
De viver só na saudade
Numa saudosa ilusão.

(POESIA - 1902-1917 - Pág.65)
Alexandre Kovacs disse…
Caro Ricardo, obrigado pelo poema! Aqui vai mais um trecho, portanto, do famoso "Poema em Linha Reta" de Álvaro de Campos:

"Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?"
Alexandre Kovacs disse…
Lígia, obrigado mais uma vez e segue o exemplo na mesma temática, desta vez, de A MENSAGEM, segunda parte, estrofe final de O INFANTE:

"Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!"
Caro Kovacs, ai vai meu abraco adiantado, e votos de um grande 2009, com livros bons e paginas memoraveis.

Enfim, por falar em Pessoa e Natal, sempre me lembro do "O Guardador de Rebanhos" do anti-metafisico, Caeiro.

Abraco, Chico.
Alexandre Kovacs disse…
Caro Chico, desejo também muita literatura e coisas boas para você e sua família em 2009. O Guardador de Rebanhos é uma grande escolha, mesmo que eu prefira Álvaro Campos!
Alexandre Kovacs disse…
Leonor Areal, obrigado pela visita e comentário. Vou tentar esclarecer com a Lígia em qual edição foi baseada o poema no comentário.
nostodoslemos disse…
Boa tarde!

Os textos foram transcritos do livro:

'Fernando Pessoa'
POESIA
1902-1917

edição:
Manuela Pereira da Silva
Ana Maria Freitas
Madalena Dine

São Paulo:
Companhia das Letras, 2006.

Tenham um excelente dia!
Alexandre Kovacs disse…
Lígia, obrigado pela pronta resposta e gentileza de informar os dados sobre a edição.
nostodoslemos disse…
Boa tarde!

Leonor,

Não há motivos para pedidos de perdão, pois a vida é um eterno construir com o próximo.

Talvez caberia meu pedido de desculpas por não ter compreendido a transcrição do texto.

No texto aparece um símbolo em forma de quadrado, que acabei não escrevendo, copiando o texto, simplesmente. Na pág. 16 do referido livro consta: espaço em branco deixado pelo autor.

Agradeço o compartilhar, que gera crescimento, motivo de alegria dos grandes poetas, certamente.

Feliz novo ano!
Alexandre Kovacs disse…
Acho que a seção de comentários deste blog está se tornando mais interessante do que as próprias postagens. Isto graças ao nível de conhecimento, civilidade e amizade das pessoas que tive a felicidade de conhecer por aqui. Obrigado Leonor e Lígia por tornarem este espaço uma possibilidade de debate e crescimento!
nostodoslemos disse…
Boa noite!

Mais correções (acho que estava sem os óculos):

"edição:
Manuela PARREIRA da Silva
Ana Maria Freitas
Madalena Dine"

(como nunca os uso mesmo...):

"...Na pág. 26 do referido livro consta: espaço em branco deixado pelo autor."

Espero que este seja o último retorno a este tópico, em termos de correção, hehe.
Alexandre Kovacs disse…
Lígia, muito obrigado mais uma vez pela colaboração!
Garota D disse…
Assim como Ricardo, Pessoa me abriu os olhos para poesia. Que sobrenome mais conveniente para quem é tantos num só e que permite que cada um de nós tenha o seu "Pessoa" do coração.

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Alexandre Kovacs disse…
Garota D, Fernando Pessoa é um caso extraordinário na literatura e surpreendente com o seu múltiplo processo criativo (heterônimos). Nós todos amamos Pessoa!

Postagens mais visitadas deste blog

As 20 obras mais importantes da literatura japonesa

As 20 obras mais importantes da literatura francesa

As 20 obras mais importantes da literatura dos Estados Unidos

As 20 obras mais importantes da literatura brasileira

As 20 obras mais importantes da literatura portuguesa

As 20 obras mais importantes da literatura italiana