Sylvia Plath - The Bell Jar (A Redoma de Cristal)

LiteraturaSylvia Plath - A Redoma de Cristal - Editora Artenova - 264 páginas - Publicação 1971 - Tradução de Maria Luiza Nogueira, Nota Bibliográfica de Lois Ames (fora de catálogo).

Um livro difícil, quase tão difícil quanto a própria Sylvia Plath e que foi publicado pela primeira vez em Londres, Janeiro de 1963, sob o pseudônimo de Victoria Lucas devido às dúvidas que a autora tinha sobe o seu valor literário e também pelos possíveis transtornos que seu único romance poderia causar à vida das pessoas com quem ela se relacionava já que se trata de uma obra francamente autobiográfica.

Esther Greenwood, alter ego de Sylvia Plath, uma jovem inteligente e talentosa que não consegue vencer as crises de depressão e angústia que enfrenta devido à sua inadaptação à futilidade da sociedade americana dos anos 50 e o fracasso nos relacionamentos com os homens, as amigas e a própria mãe. Sylvia Plath consegue descrever com clareza analítica o processo de degradação mental de sua personagem, as diversas tentativas de suicídio e o sofrimento com os tratamentos de eletrochoque a que foi submetida.

Uma narrativa dolorosa e que descreve em detalhes o raciocínio de um ser humano em crise, mas ainda assim com uma racionalidade assustadora, como no trecho a seguir: "Ultimamente eu mesma havia pensado em entrar para a Igreja Católica. Eu sabia que os católicos achavam o suicídio um pecado horrível. Mas talvez, se esse era o caso, pudessem ter um meio eficiente de me persuadir a não me matar. Claro que eu não acreditava na vida depois da morte, nem no nascimento virgem, nem na Inquisição, nem na infalibilidade daquele Papa pequenininho e de cara de macaco, nem nada disso, mas eu não precisava deixar o padre perceber isso, eu podia simplesmente concentrar-me no meu pecado e ele me ajudaria a arrepender-me."

Alguma sequências fortes se relacionam com a descrição das tentativas de suicídio de Esther, como no trecho a seguir: "Quando eles perguntavam a qualquer velho filósofo romano como ele queria morrer, dizia que rasgaria as veias, num banho quente. Achei que seria fácil, deitada na banheira e vendo a vermelhidão florir dos meus pulsos, jorro após jorro penetrando na água limpa, até que eu me afundasse no sono sob a superfície rubra como papoulas. Mas quando cheguei às vias de fato, a pele do meu pulso parecia tão branca e indefesa que não consegui nada. Era como se o que eu quisesse matar não estivesse naquela pele ou naquele pulso magro e azulado que latejava sob o meu polegar, mas sim em algum outro lugar, mais profundo, mais secreto, e muito mais difícil de ser alcançado."

Pouco tempo depois do lançamento deste livro, na manhã de 11 de Fevereiro de 1963, durante um dos piores invernos ingleses já registrados, Sylvia Plath serviu leite para seus dois filhos, quebrou a vidraça da janela para garantir a ventilação que salvaria a vida das crianças e trancou, vedando cuidadosamente, a porta do quarto. Depois foi até a cozinha e abriu a válvula de gás, colocando sua cabeça dentro do forno, não era a primeira vez que ela tentava o suicido, mas desta vez foi bem sucedida. Ela tinha apenas 31 anos.

Comentários

Muito bom esse espaço.
Muito interessante o livro também,me deu uma vontade de lêr.
obrigado pela visita.
forte abraço do Lipp
Ricardo Duarte disse…
"Era como se o que eu quisesse matar não estivesse naquela pele ou naquele pulso magro e azulado que latejava sob o meu polegar, mas sim em algum outro lugar, mais profundo, mais secreto, e muito mais difícil de ser alcançado."

Kovacs,
É... Eu preciso ler esse livro mesmo!!!
Unknown disse…
Tenho um carinho todo especial por essa grande escritora. Imensa. Ele não conseguiu suportar. Nem sei, ao certo. Ninguém saberá.
O que sei é: a sua antena é muito bem colocada, capta sinais incríveis.
Meu amigo, tomarei a liberdade de deixar um pedaço do Espelho (dela) :
Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha.
Emerge em sua direção, dia a dia como um peixe terrível."

Um grande abraço.
Unknown disse…
Nossa... estou estupefata....
Abraços
Lady Cronopio disse…
Sylvia me emociona, sempre. Sua história é quase tão intensa quanto os poemas que não lhe couberam no pouco tempo em que se "suportou" (como bem observou Djabal).
Não deve ter sido fácil mesmo ser Sylvia Plath...
A leitura dos pinçamentos que você fez, torceram meu coração de um jeito que não tive mesmo outra coisa a fazer, senão sentar-me num canto da Memória e chorar um pouco por aquela sombra de mim que ficou no Espelho do meu esquecimento voluntário.
Obrigada, Kovacs.
Por tudo. Por sempre.
Alexandre Kovacs disse…
Lipp, seja muito bem-vindo por aqui e agradeço o comentário gentil.
Alexandre Kovacs disse…
Ricardo, essa passagem é mesmo arrepiante, pura literatura. Você precisa ler esse livro!
Alexandre Kovacs disse…
Djabal, Sylvia Plath é mesmo imensa e interminável, sua poesia é testemunha da superação da dor pela arte. Obrigado amigo pelo maravilhoso espelho, você está sintonizado sem dúvida!
Alexandre Kovacs disse…
Priscila, caso ainda não tenha lido as poesias de Sylvia Plath, recomendo começar imediatamente. Obrigado pela visita.
Alexandre Kovacs disse…
Lady Cronopio, fico feliz que tenha gostado e você entende tudo de poesia, é claro! Eu é que agradeço por sua presença sempre importante.
Barros (RBA) disse…
Bravo! Voltou ao seu grande estilo.
Os trechos que selecionou são um primor e ainda há os comentários que são um plus.
Leila Silva disse…
Eu pensava que o título em português fosse A redoma de vidro...
Quando li este livro eu mal sabia quem era S. Plath, aí fui procurar outras coisas dela, os poemas, claro e depois li uma biografia presenteada por uma amiga. Eu nunca vi o filme sobre a vida dela, aquele com a G. Paltrow (sei lá como se escreve).
Eu vou reler este livro, sobretudo agora que li estas passagens que você colocou aí. Pobre moça.
E você sabia que o filho dela se suicidou há poucos meses?
Abraços
Paula disse…
Há algum tempo que ando para comprar este livro, curioso que ainda não o encontrei.
Gostei muito do teu comentário. Vou colocar, o livro, novamente na minha wish list.

Continuação de boas leituras
nostodoslemos disse…
Tantos suicid-ios/das o mundo tem trazido...

"Despedida"

Eu deixarei o mundo com fúria.
Não importa o que aparentemente aconteça,
se docemente me retiro.

De fato
nesse momento
estarão de mim se arrebentando
raízes tão fundas
quanto estes céus brasileiros.
Num alarido de gente e ventania
olhos que amei
rostos amigos tardes e verões vividos
estarão gritando a meus ouvidos
para que eu fique
para que eu fique

Não chorarei.
Não há soluço mairo que despedir-se da vida.

(Ferreira Gullar - Toda Poesia)
Alexandre Kovacs disse…
Barros, fico muito satisfeito que tenha gostado, a sua aprovação é como um selo de qualidade.
Alexandre Kovacs disse…
Leila, no Brasil existem duas traduções para este romance: "A Redoma de Vidro" da editora Record e o que eu utilizei como referência: "A Redoma de Cristal" da editora Artenova. As duas versões estão fora de catálogo pelo que eu sei.

Leila, fiquei conhecendo o seu blog através de uma postagem sobre Sylvia Plath que eu recomendo a todos os visitantes aqui do Mundo de K, segue o link: http://cadernos-da-belgica.blogspot.com/2007/02/sylvia-plath-october-27-1932-february.html
Alexandre Kovacs disse…
Paula, seja muito bem-vinda por aqui. Este é realmente um livro difícil de encontrar, mas que vale o esforço sem dúvida.
Alexandre Kovacs disse…
Lígia, Ferreira Gullar é mesmo o máximo e a conclusão deste trecho que você selecionou simplesmente maravilhosa (tudo a ver com a postagem em questão):

Não chorarei.
Não há soluço maior que despedir-se da vida.
Lília Abreu disse…
Sylvia. A sua história obsessiva com Ted.
Quando o talento continua com as patologias e ambos se confundem. Aínda hoje penso, como se pode deixar um ser só com duas crianças a conviver com o stress da ruptura do casamento com os antecedentes dela? Era inevitável.
Por cá temos a Florbela Espanca (bipolar) e o Antero Quental - como seriam as suas obras, sem as patologias?

Um abraço daqui
Lília
Anônimo disse…
Olá, Kovacs, muito interessante essa resenha! E por falar em Esther, acabei de ler "O legado de Eszter", de Sándor Márai, um ilustre húngaro.E valeu pela indicação do filme, fiquei muito entusiasmada para assistir. (também não domino o idioma).
Hasta!
Vou procurar em algum sebo - tem um muito bom aqui pertinho de casa.
Alexandre Kovacs disse…
Lília, muito bom tema para um estudo de mestrado: a influência das patologias na obra literária. Acho impossível separar uma coisa da outra. Obrigado pela visita e comentário!
Alexandre Kovacs disse…
tironope, Sándor Márai é um ilustríssimo húngaro sem dúvida, uma grande honra em nossa ascendência. Será que é muito tarde para aprendermos o húngaro? Obrigado pela visita.
Alexandre Kovacs disse…
Sonia, excelente idéia. Quem sabe em um sebo virtual? Obrigado pela visita e comentário.
A Arte se sobrepõe à quaisquer patologias.
A patologia é apenas humana, e está em todos nós; às vezes fica lá, aparentemente quietinha e amansada, às vezes sai latindo, às vezes quando a gente menos espera.
A genialidade, o assombro poético, como o dessa moça brilhante - infelizmente - não...
Silvia é particularmente comovente.
Alexandre Kovacs disse…
Christina, obrigado pelo comentário que ilumina o debate com a frase: "A Arte se sobrepõe à quaisquer patologias". Será mesmo, ou a arte se utiliza também das tais patologias?
oximoron disse…
wow! I love Sylvya and her book, The bell jar is my favourite.
E quem não as utiliza (nossas patologias) para aquilo (seja o que for) que faz?...rsrsrsrs... A gente vai com tudo em qualquer lugar que os nossos pezinhos nos levem...

Somos Luz e Pathos; daí "a graça"; senão a Vida seria uma chatura ascéptica...
E a poesia, o ASSOMBRO não teriam lugar, artisticamente, ou não.

O artista simplesmente sabe canalizá-la (a poesia) para (um)a OBRA; mas ela está presente em todos nós: é o que tempera a SINGULARIDADE de cada um de nós (olha "a graça" aí outra vez!)...

Perdoe-me por ter me alongado...mas você cutucou!...rsrsrsrsrs...Minha singularidade não resistiu a abrir o besteirômetro emiliano!...rsrsrsrs
(Quando tiver um tempinho, passe lá no Curiosa Identidade, e dê uma espiada "no conjunto da obra").
BJS!
Alexandre Kovacs disse…
Cara Christina, a intenção foi mesmo de cutucá-la e você se saiu maravilhosamente bem, nada a acrescentar no seu comentário!
Alexandre Kovacs disse…
oximoron, I´m very glad you like Sylvia Plath. Thanks for the visit and many greetings for you and all the friends in Hungary.
Ví Leardi disse…
...o suicidio como parte de uma herança genética é tema para estudos profundos...Os poemas de Silvia Plath...especilmente " The Mirror" me impressionam pela carga de angústia tão passível de acontecer!
O filme sobre sua vida com Gwyneth Paltrow nos dá um pouco da idéia desta angústia qye a perseguiu até o fim...Mas o suicidio de seu filho ano passado me chocou demais ...soube depois que embora bem sucedido lutava contra a depressão desde sua adolescência...o quanto os suicidios de seus pais (o pai também se matou anos depois de Silvia) não influenciaram toda sua vida? Talentos imensos, talvez grandes demais para nossas "fracas cascas..."


Bjs
Alexandre Kovacs disse…
Ví, achei a sua conclusão ótima e esclarecedora dentro deste quadro de patologias: Talentos imensos, talvez grandes demais para nossas "fracas cascas...".
Anônimo disse…
Que bom saber que tu também havias escrito sobre o romance! Fico feliz em saber que a Plath ainda toca muitos leitores. :)

Não creio que seja um livro "difícil", como tu havias pontuado, mas sim, "inquietante", pois toca em pontos nevrálgicos: a resistência de um indivíduo a se resignar a um tipo de sociedade e de papéis a ele impostos.

Obrigada pelo comentário e seja sempre bem-vindo ao meu blog também! :) Abraços!!
N. Rodrigues disse…
Foi isso o que eu senti depois de ler todos os livros de Sylvia e não conseguir me convencer de que ela estava morta:

http://heterocefalando.blogspot.com/2010/11/mar-de-sargacos-escrever-cuidar-de.html#links

Belo post, Kovac (como sempre)!

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