As 20 obras mais importantes da literatura argentina

Literatura argentina

Existe uma tendência de associarmos a literatura argentina com o gênero fantástico tão presente na obras de Borges e Cortázar, mas esta seria uma definição simplista, algo como limitarmos a nossa própria tradição literária somente a Machado de Assis e Clarice Lispector. Na verdade, precisamos admitir que os nossos hermanos têm um peso e uma diversidade cultural invejável na América Latina, independente de qualquer rivalidade existente e, de certa forma, natural entre nações vizinhas. Vale lembrar que toda lista é incompleta, assim como alguns dos autores talvez merecessem a inclusão de mais de um título, mas o propósito é de divulgação e obviamente não pretende ser definitivo. Segue, em ordem cronológica de lançamento, as obras mais destacadas dos autores argentinos.

Literatura argentina
(01) Facundo (1845)
        Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888)

O livro, considerado um marco inaugural da literatura argentina, foi escrito no exílio, no Chile, durante o governo do ditador Juan Manuel de Rosas (1829-52). "Facundo, ou civilização e barbárie", pretendia ser uma biografia de Facundo Quiroga (1788-1835), outro ditador e antecessor de Rosas no governo da Argentina, mas funcionou como um programa ideológico para a presidência do próprio Sarmiento, que se realizaria 23 anos depois, em 1868, sucedendo Bartolomé Mitre (imagem do livro da edição da extinta Cosac Naify).
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Literatura argentina(02) Martín Fierro (1872)
        José Hernández (1834-1886)

"O Gaúcho Martín Fierro", espécie de patrimônio cultural argentino, é um longo poema de José Hernández que exalta o caráter independente, heróico e sacrificado dos habitantes dos pampas, e os situam como os verdadeiros representantes do caráter argentino, algo que contrariou os interesses políticos vigentes na época do autor. O "Martín Fierro" tem a característica de não estar escrito na forma culta do espanhol, mas sim, copiando foneticamente a forma de falar dos gaúchos (imagem da tradução de Ciro Correia França).

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(03) Dom Segundo Sombra (1926)
        Ricardo Güiraldes (1886-1927)

Sinopse da Editora: "É uma verdadeira suma da vida dos homens do pampa. Estes homens silenciosos, temerários e com códigos especiais de honra e conduta, afeitos à solidão das vastidões planas, ao vazio infinito, ao horizonte sem curvas como o mar. Güiraldes, através dos conselhos e ensinamentos do legendário gaucho Dom Segundo ao jovem Fábio, eterniza a mística campeira num romance da estatura e da permanência de outro grande clássico latino-americano: o poema Martin Fierro, de José Hernandez."

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(04) O Brinquedo Raivoso (1926)
        Roberto Arlt (1900-1942)

Roberto Arlt é considerado o primeiro escritor moderno da Argentina, sendo reverenciado por nomes como Julio Cortázar, Ricardo Piglia, César Aira e Roberto Bolaño. Sinopse da editora: "relato autobiográfico de Sílvio Astier, rememorando a própria adolescência com seus rituais de iniciação e suas escolhas, a falsificação da figurinha mais difícil do álbum, a necessidade de procurar o primeiro emprego e a formação da sociedade criminosa — que se sustenta à base de pequenos furtos e gigantescos projetos nunca realizados."

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(05) A Invenção de Morel (1940)
        Adolfo Bioy Casares (1914-1999)

Bioy Casares foi um autor de romances de gênero fantástico, policial e de ficção científica. Recebeu diversos prêmios, como a Légion d`Honneur da França (1981) e o prêmio Cervantes (1991). Sinopse da editora: "Romance publicado originalmente em 1940, foi considerado por Jorge Luis Borges 'uma trama perfeita'. Um cidadão venezuelano torna-se recluso em uma ilha deserta para fugir de uma condenação judicial. Enquanto se alimenta de raízes psicotrópicas, o expatriado vê se apagar cada vez mais o limite entre a imaginação e a realidade."
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(06) Ficções (1944)
        Jorge Luis Borges (1899-1986)

Muito difícil resumir Borges em um parágrafo, um de seus contos mais famosos, incluído neste antologia, é "A biblioteca de babel", símbolo do estilo fantástico do autor e de sua relação mágica com os livros e a literatura: "O universo (que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por balaustradas baixíssimas. De qualquer hexágono, vêem-se os andares inferiores e superiores: interminavelmente."
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(07) O Túnel (1948)
        Ernesto Sabato (1911-2011)

Sabato parte de uma narrativa em primeira pessoa para contar a história de solidão, loucura e crime de seu protagonista, o pintor Juan Pablo Castel que, já no parágrafo de abertura do romance, confessa o assassinato de María Iribarne, a mulher casada por quem tinha se apaixonado perdidamente. O conturbado relacionamento é descrito e explicado por Castel à partir de sua própria visão existencial, a visão de um homem isolado em seu próprio mundo, atravessando o túnel de sua vida, só e incomunicável (ler resenha completa do Mundo de K).
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(08) Zama (1956)
        Antonio Di Benedetto (1922-1986)

Pouco traduzido para o português, e considerado por Juan José Saer um dos maiores escritores do mundo, Antonio Di Benedetto publicou Zama em 1956, o livro conta a história de Dom Diego de Zama, funcionário da coroa espanhola que, servindo em um pequenino povoado nos confins da colônia em 1790, aguarda ansioso sua transferência para a cidade de Buenos Aires. Ler uma ótima resenha do New York Review of Books sobre o romance clicando aqui.

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(09) Operação Massacre (1957)
        Rodolfo Walsh (1927-1977)

Rodolfo Walsh foi jornalista, escritor e tradutor, militou nas organizações guerrilheiras FAP e Montoneros. Sinopse da Editora: "Reunidos em uma casa na região metropolitana de Buenos Aires para acompanhar a transmissão de uma luta de boxe pelo rádio, doze homens são presos e levados para a delegacia na noite de 9 de junho de 1956, onde permanecem sem acusação formal ou julgamento até a manhã seguinte, quando enfim são conduzidos a um lixão nos limites da cidade e condenados sumariamente ao fuzilamento."

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(10) O Jogo da Amarelinha (1963)
        Julio Cortázar (1914-1984)

Com um total de 155 capítulos que podem ser lidos em diferentes sequências e permitem múltiplos finais e interpretações, Cortázar escreveu um romance, ou melhor "antiromance", classificado como surrealista na falta de definição melhor, e que abriu caminho para formas narrativas experimentais na literatura contemporânea. Difícil é selecionar apenas uma obra de Cortázar e deixar de fora suas antologias de contos sempre originais e surpreendentes. No entanto, devido ao caráter revolucionário "O Jogo da Amarelinha" é a melhor escolha.
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(11) Museu do romance da Eterna (1967)
        Macedonio Fernández (1874-1952)

O texto a seguir, extraído de uma carta de Macedonio Fernández para Borges, e destacado pela editora Cosac Naify na apresentação do livro, dá uma boa pista sobre o que podemos aguardar do romance da Eterna: "Caro Jorge Luis, desculpe-me por não ter ido ontem à noite. Eu estava indo, mas sou tão distraído que no caminho me lembrei que havia ficado em casa. Estas constantes distrações são uma vergonha, e às vezes esqueço de me envergonhar também." (ler resenha completa do Mundo de K - edição da extinta Cosac Naify).

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(12) O Beijo da Mulher Aranha (1976)
        Manuel Puig (1932-1990)

Em 1981, Manuel Puig transfere-se para o Rio de Janeiro e adapta "O beijo da mulher aranha" para o cinema, o filme brasileiro dirigido por Héctor Babenco e estrelado por Sônia Braga e William Hurt, ajudou com que o romance de Manuel Puig ganhasse fama mundial. Sinopse da Editora: "Publicado em 1976, é um pungente e sensível mergulho no relacionamento de um preso político, Valentin, com seu companheiro de cela homossexual, Molina, acusado de corromper menores."
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(13) Respiração Artificial (1980)
        Ricardo Piglia (1941-2017)

Ricardo Piglia, crítico literário e romancista, é reconhecido como um dos autores contemporâneos mais conceituados da América Latina. "Respiração Artificial" é um romance difícil, não só porque utiliza técnicas de narrativa polifônica em épocas diferentes, mas também e, principalmente, porque faz referência a obras de filosofia e literatura clássicas, assim como da história e escritores da literatura argentina, background nem sempre compatível com a formação dos leitores brasileiros (ler resenha completa do Mundo de K).
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(14) O Enteado (1982)
        Juan José Saer (1937-2005)

Sinopse da Editora: "O narrador é o único sobrevivente de uma expedição espanhola que, num impreciso ano do século XVI, atinge as costas do Rio da Prata. Depois de uma prolongada convivência com a tribo antropófaga dos colastiné, retorna a Europa para, no final de seus dias, empreender a tarefa de narrar os anos passados em terra americana. O romance assume a forma de uma escrita autobiográfica que visa, sobretudo, registrar a intimidade da experiência vivida."
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(15) Santa Evita (1995)
        Tomás Eloy Martínez (1934-2010)


Um romance com uma trama extremamente criativa que mistura ficção e realidade. Após a queda do governo de Juan Domingo Perón, o cadáver de Evita, que era conservado e exposto para visitação pública, é "sequestrado pelo Serviço de Inteligência do Exército e passa semanas pelas ruas de Buenos Aires, meses nos fundos de um cinema, prestando-se a todo tipo de paixões no sótão da casa de um capitão desmiolado até reaparecer, dezesseis anos mais tarde, no Velho Continente."
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(16) O Anatomista (1997)
Federico Andahazi (1963-)

Com este romance, Federico Andahazi ganhou o apelido de "escritor do clitóris" isto porque o livro tem como base a vida do médico renascentista Matteo Realdo Colombo (1516-1559), considerado o "descobridor" do órgão feminino. O protagonista é preso, acusado de satanismo, bruxaria e blasfêmia. A temática do livro (personagens reais, sexo e política) acabou virando uma obsessão para o autor, marcando toda a sua futura obra.

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(17) Amor que serena, termina? (2001)
        Juan Gelman (1930-2014)

Juan Gelman é considerado um dos mais importantes poetas da Argentina das últimas décadas e vencedor do Prêmio Cervantes em 2007. Esta antologia, "Amor que serena, termina?" (com um título assim, não há leitor que resista), é uma edição bilíngue publicada pela Editora Record em 2001, com tradução e seleção de Eric Nepomuceno, Infelizmente fora de catálogo no momento.
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(18) As Noites de Flores (2004)
        César Aira (1949-)

Sinopse da Editora: "Um casal de meia-idade resolve entregar pizzas à noite no bairro de Flores. Além de despertar a curiosidade das pessoas pela idade pouco usual ao ofício, dominado por jovens motoboys, o casal também surpreende pela forma como faz as entregas: a pé. Sempre juntos, Aldo e Rosita descobrem durante as entregas um mundo novo, formado por figuras que talvez jamais pudessem conhecer no seu pacato dia-a-dia de aposentados de classe média: bêbados, travestis, prostitutas e outras figuras da noite."
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(19) História do Pranto (2007)
        Alan Pauls (1959-)

Alan Pauls utiliza neste romance o contraste entre as experiências de um menino hiper-sensível de 4 anos, filho de pais separados, e a realidade brutal da história da esquerda argentina dos anos 70, misturando todo o tempo as sensações e experiências de vida do protagonista em diversas épocas e situações, mas sempre partindo do ponto de vista das lembranças de uma criança. Assim não sabemos nunca até que ponto as distorções da sua memória confundem sonho e realidade (ler resenha completa do Mundo de K).
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(20) Falar Sozinhos (2012)
        Andrés Neuman (1977-)

Andrés Neuman é a promessa para o futuro, ele foi um dos vinte autores incluídos na edição especial da revista Granta sobre os “Melhores Jovens Romancistas de Língua Espanhola”, em 2010. O escritor chileno Roberto Bolaño definiu Neuman como “um talento iluminado”. Sinopse da Editora: "'Falar Sozinhos' é uma história arrebatadora sobre como as experiências de cada um são capazes de mudar nossas ideias sobre o tempo, a memória e os nossos próprios corpos. E como a leitura, e o sexo, podem se tornar poderosas armas de resistência.

Comentários

Anônimo disse…
Estimado Kovac, buenas noches. Escribo desde Evora, Portugal, donde observo la reclusión del virus, solo en una casa de 4 ambientes... Sigue en msil
Alexandre Kovacs disse…
Obrigado amigo e fica em segurança! Grande abraço, Kovacs
m. disse…
Senti falta de mais mulheres nessa lista, sabe? autoria feminina seria bem interessante algumas dicas!
Alexandre Kovacs disse…
Obrigado pela visita e comentário m., realmente a lista ficou muito masculina. Poderia ter incluído algo da Silvina Ocampo ou Samanta Schweblin.

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