Ricardo Piglia - Respiração Artificial
Ricardo Piglia - Respiração Artificial - 200 páginas - Editora Companhia das Letras (Companhia de Bolso) - Tradução de Heloisa Jahn - Lançamento no Brasil: 28/01/2010.
O argentino Ricardo Piglia (1941-2017), crítico literário e romancista, é reconhecido como um dos autores contemporâneos mais conceituados da América Latina. Respiração Artificial, lançado originalmente em 1980, é um romance difícil, não só porque utiliza técnicas de narrativa polifônica em épocas diferentes, mas também e, principalmente, porque faz referência a obras de filosofia e literatura clássicas, assim como da história e escritores da literatura argentina, background que nem sempre é compatível com a formação dos leitores brasileiros. De qualquer forma é uma ótima chance de reduzirmos a distância cultural que nos afasta dos nossos hermanos, nada que rápidas consultas na internet não possam resolver.
Na primeira parte do romance é utilizada a troca de correspondência e alternância de narração entre o jovem escritor Emilio Renzi e seu tio, professor de história, Marcelo Maggi que havia desaparecido há alguns anos e que reside em uma cidade do interior. O assunto principal é o resgate histórico de um personagem de pouca relevância política chamado Enrique Ossorio e considerado um traidor ao governo do ditador Rosas em 1837. O diário de Ossorio, exilado nos EUA, assim como outras cartas e fragmentos de noticias de época são inseridos de forma fragmentada e, aparentemente, aleatória na correspondência entre Emilio e Marcelo, gerando insegurança no leitor que, por várias ocasiões, se encontra desorientado sobre o protagonismo da narrativa e precisa voltar diversas vezes no texto para se encontrar na teia ficcional em que é envolvido.
Na primeira parte do romance é utilizada a troca de correspondência e alternância de narração entre o jovem escritor Emilio Renzi e seu tio, professor de história, Marcelo Maggi que havia desaparecido há alguns anos e que reside em uma cidade do interior. O assunto principal é o resgate histórico de um personagem de pouca relevância política chamado Enrique Ossorio e considerado um traidor ao governo do ditador Rosas em 1837. O diário de Ossorio, exilado nos EUA, assim como outras cartas e fragmentos de noticias de época são inseridos de forma fragmentada e, aparentemente, aleatória na correspondência entre Emilio e Marcelo, gerando insegurança no leitor que, por várias ocasiões, se encontra desorientado sobre o protagonismo da narrativa e precisa voltar diversas vezes no texto para se encontrar na teia ficcional em que é envolvido.
Na segunda parte, a literatura passa a ser um dos personagens principais e o tom da estrutura praticamente se transforma de romance para ensaio. Ricardo Piglia (ou seu alter ego, Emilio Renzi) define uma posição clara sobre a importância de Roberto Arlt: "Em 1942, com a morte de Roberto Arlt a literatura moderna da Argentina chegou ao fim.". Ou ainda neste diálogo entre Emilio Renzi e Marconi, jornalista e poeta local: "Roberto Arlt é o único escritor verdadeiramente moderno que a literatura argentina do século XX produziu." e quanto a Borges?, questiona Marconi, "Borges é um escritor do século XIX. O melhor escritor argentino do século XIX." (realmente uma teoria para se pensar).
Ainda na segunda parte, ganha espaço o personagem polonês expatriado, Tardewski, que explica a sua apologia aos fracassados (o fracasso está sempre presente no texto) e a surpreendente revelação de supostos encontros entre Kafka e ninguém menos do que Adolf Hitler, entre os anos de 1909 e 1910, quando o futuro ditador ainda era um artista frustrado e se ausenta temporariamente da Alemanha para fugir ao alistamento militar. O que resulta na tese de Tardewski de que os textos de Kafka teriam sido influenciados por teorias de Hitler, a serem detalhadas na sua futura biografia "Mein Kampf", iniciada em 1924 (ano da morte de Kafka). Sobre este improvável encontro, ler o trecho abaixo:
Ainda na segunda parte, ganha espaço o personagem polonês expatriado, Tardewski, que explica a sua apologia aos fracassados (o fracasso está sempre presente no texto) e a surpreendente revelação de supostos encontros entre Kafka e ninguém menos do que Adolf Hitler, entre os anos de 1909 e 1910, quando o futuro ditador ainda era um artista frustrado e se ausenta temporariamente da Alemanha para fugir ao alistamento militar. O que resulta na tese de Tardewski de que os textos de Kafka teriam sido influenciados por teorias de Hitler, a serem detalhadas na sua futura biografia "Mein Kampf", iniciada em 1924 (ano da morte de Kafka). Sobre este improvável encontro, ler o trecho abaixo:
Sobre aquilo que não se pode falar, o melhor é calar, dizia Wittgenstein. Como falar do indizível? Essa é a pergunta que a obra de Kafka tenta, repetidamente, responder. Ou melhor, disse, sua obra é a única que, de maneira refinada e sutil, atreve-se a falar do indizível, daquilo que não se pode nomear. Que diríamos hoje que é o indizível? O mundo de Auschwitz. Esse mundo está além da linguagem, é a fronteira onde se encontram as cercas da linguagem. Arame farpado: o equilibrista caminha, descalço, sozinho lá em cima, e procura ver se é possível dizer alguma coisa sobre o que está do outro lado."
Talvez este indizível, que não pode ser descrito ou mencionado, seja uma referência ao próprio período de ditadura, estabelecida em 1976 na Argentina, ano em que inicia a ação de Respiração Artificial, sendo mais um nível de intertextualidade do romance que abre múltiplas direções para o leitor perplexo. Bem, caso você esteja interessado em uma leitura leve, rápida e agradável, este livro decididamente não é a escolha correta.
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