Richard Dawkins - Deus, um Delírio
Richard Dawkins - Deus, um Delírio - Editora Companhia das Letras - 528 páginas - Tradução de Fernanda Ravagnani - Lançamento no Brasil: 16/08/2007.
Podemos discordar ou não de Richard Dawkins sobre a existência de Deus, mas não há como negar que o fanatismo religioso, de uma forma generalizada, tem provocado guerras, perseguições e conflitos armados ao longo da história. Não precisamos ir tão longe, até a época das Cruzadas por exemplo, porque ainda hoje, em pleno século XXI, as ações entre israelenses e palestinos, católicos e protestantes, ou os recentes atentados terroristas do Estado Islâmico têm sido exemplos do mau uso que a humanidade faz de suas crenças. Certamente que não podemos ser ingênuos ao ponto de acreditar que todos esses conflitos têm origem apenas na religião, certamente que existem também fortes motivos políticos e econômicos, mas o fator decisivo na formação de um homem-bomba ou guerrilheiro está sempre associado com algum movimento extremista religioso. Nunca ouvimos falar de uma guerra provocada por ateus. Segundo o físico americano e prêmio Nobel Steven Weinberg, citado por Dawkins, "a religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem ela, teríamos gente boa fazendo coisas boas e gente ruim fazendo coisas ruins. Mas, para que gente boa faça coisas ruins, é preciso a religião". Ou ainda nesta outra citação de Blaise Pascal: "Os homens nunca fazem o mal tão plenamente e com tanto entusiasmo como quando o fazem por convicção religiosa".
Richard Dawkins parte do pressuposto de que atualmente "o número de ateus e agnósticos supera de longe o de judeus religiosos, e até o da maioria dos outros grupos religiosos específicos", mas que a maioria por inércia, medo ou para manter as tradições sociais e familiares, reluta em "sair do armário", reforçando a sua teoria com esta epígrafe a um dos capítulos do livro, do filósofo Bertrand Russell: "A imensa maioria dos homens intelectualmente eminentes não acredita na religião cristã, mas esconde esse fato do público, porque tem medo de perder sua renda". Ainda segundo Dawkins, outra questão que dificulta a discussão sobre o assunto é que "a fé religiosa é dona de um privilégio único: estar além e acima de qualquer crítica".
Outra questão preocupante (e até certo ponto surpreendente) é o fundamentalismo religioso crescente nos Estados Unidos que, segundo Dawkins, "provém, paradoxalmente, do secularismo de sua Constituição. Precisamente porque os Estados Unidos são legalmente laicos, a religião se transformou num empreendimento liberado. Igrejas rivais competem por congregações — e pelo gordo dízimo que elas trazem consigo — e a concorrência é marcada por todas as técnicas agressivas de venda do mercado. O que funciona para o sabão em pó funciona para Deus, e o resultado é algo que se aproxima de uma mania de religião nas classes menos instruídas". Para Dawkins, mesmo a crença moderada pode ser perigosa porque, tanto para o cristianismo quanto o islamismo, a fé sem questionamentos é uma virtude que supera todas as prioridades e que o martírio a serviço de Deus poderá ser recompensado no paraíso.
As melhores abordagens de Richard Dawkins — e também as mais difíceis de serem contestadas — são aquelas norteadas pela ciência em oposição à teoria do criacionismo ou "design inteligente", já que a formação acadêmica dele (Doutor pela Universidade de Oxford) não é a filosofia ou teologia, mas sim a biologia evolutiva com base na seleção natural de Darwin, o que o coloca ao lado de autores como Carl Sagan e Stephen Hawking que ajudaram a popularizar a ciência em suas respectivas áreas (astronomia e física). Para o evolucionista, as criaturas vivas não foram "projetadas" e sim evoluíram através de numerosos incrementos gradativos, à partir de um início simples, em um processo que continua ocorrendo até hoje para o aperfeiçoamento de cada ser orgânico.
É importante notar que, como bom cientista, Dawkins não descarta a existência de Deus, mas uma de suas conclusões é que não há motivo para supor que, só porque Deus não pode ter a sua existência comprovada ou descartada, a probabilidade de sua existência seja de 50% (de fato, na opinião dele esta probabilidade é bem menor). Mesmo o argumento da beleza é refutado por ele na seguinte passagem: "É óbvio que os últimos quartetos de Beethoven são sublimes. Assim como os sonetos de Shakespeare. São sublimes se Deus existe e são sublimes se não existe. Eles não provam a existência de Deus; eles provam a existência de Beethoven e Shakespeare". A lógica de Richard Dawkins é tão fria que chega a parecer ofensiva em algumas passagens, principalmente quando critica o Deus do Velho Testamento das Escrituras, uma de suas vítimas preferidas.
Um livro corajoso, inteligente e muito oportuno devido aos conflitos e atentados terroristas recentes que se tornaram, infelizmente, uma triste rotina neste início de século.
Richard Dawkins parte do pressuposto de que atualmente "o número de ateus e agnósticos supera de longe o de judeus religiosos, e até o da maioria dos outros grupos religiosos específicos", mas que a maioria por inércia, medo ou para manter as tradições sociais e familiares, reluta em "sair do armário", reforçando a sua teoria com esta epígrafe a um dos capítulos do livro, do filósofo Bertrand Russell: "A imensa maioria dos homens intelectualmente eminentes não acredita na religião cristã, mas esconde esse fato do público, porque tem medo de perder sua renda". Ainda segundo Dawkins, outra questão que dificulta a discussão sobre o assunto é que "a fé religiosa é dona de um privilégio único: estar além e acima de qualquer crítica".
Outra questão preocupante (e até certo ponto surpreendente) é o fundamentalismo religioso crescente nos Estados Unidos que, segundo Dawkins, "provém, paradoxalmente, do secularismo de sua Constituição. Precisamente porque os Estados Unidos são legalmente laicos, a religião se transformou num empreendimento liberado. Igrejas rivais competem por congregações — e pelo gordo dízimo que elas trazem consigo — e a concorrência é marcada por todas as técnicas agressivas de venda do mercado. O que funciona para o sabão em pó funciona para Deus, e o resultado é algo que se aproxima de uma mania de religião nas classes menos instruídas". Para Dawkins, mesmo a crença moderada pode ser perigosa porque, tanto para o cristianismo quanto o islamismo, a fé sem questionamentos é uma virtude que supera todas as prioridades e que o martírio a serviço de Deus poderá ser recompensado no paraíso.
As melhores abordagens de Richard Dawkins — e também as mais difíceis de serem contestadas — são aquelas norteadas pela ciência em oposição à teoria do criacionismo ou "design inteligente", já que a formação acadêmica dele (Doutor pela Universidade de Oxford) não é a filosofia ou teologia, mas sim a biologia evolutiva com base na seleção natural de Darwin, o que o coloca ao lado de autores como Carl Sagan e Stephen Hawking que ajudaram a popularizar a ciência em suas respectivas áreas (astronomia e física). Para o evolucionista, as criaturas vivas não foram "projetadas" e sim evoluíram através de numerosos incrementos gradativos, à partir de um início simples, em um processo que continua ocorrendo até hoje para o aperfeiçoamento de cada ser orgânico.
É importante notar que, como bom cientista, Dawkins não descarta a existência de Deus, mas uma de suas conclusões é que não há motivo para supor que, só porque Deus não pode ter a sua existência comprovada ou descartada, a probabilidade de sua existência seja de 50% (de fato, na opinião dele esta probabilidade é bem menor). Mesmo o argumento da beleza é refutado por ele na seguinte passagem: "É óbvio que os últimos quartetos de Beethoven são sublimes. Assim como os sonetos de Shakespeare. São sublimes se Deus existe e são sublimes se não existe. Eles não provam a existência de Deus; eles provam a existência de Beethoven e Shakespeare". A lógica de Richard Dawkins é tão fria que chega a parecer ofensiva em algumas passagens, principalmente quando critica o Deus do Velho Testamento das Escrituras, uma de suas vítimas preferidas.
Um livro corajoso, inteligente e muito oportuno devido aos conflitos e atentados terroristas recentes que se tornaram, infelizmente, uma triste rotina neste início de século.
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