Zadie Smith - Sobre a Beleza

Literatura inglesa contemporânea
Zadie Smith - Sobre a Beleza - Editora Companhia das Letras - 448 páginas - Tradução de Daniel Galera - Lançamento no Brasil: 26/10/2007.

Terceiro romance de Zadie Smith, após sua estreia com os premiados: "Dentes Brancos" (2000) e "O Caçador de Autógrafos" (2002), traduzidos e publicados no Brasil pela Editora Companhia das Letras; "Sobre a Beleza", lançado originalmente em 2005, também foi muito elogiado pela crítica especializada e recebeu prêmios importantes como o extinto Orange Prize de 2006 (atual Baileys Women's Prize for Fiction), além de ter sido selecionado na shortlist do Man Booker Prize em 2005. Este romance consolidou a posição da autora na literatura britânica contemporânea ao lado de nomes já consagrados como: Ian McEwan, Martin Amis, Julian Barnes, Kazuo Isghiguro e Hilary Mantel, para citar alguns.

O romance tem como base os contrastes entre duas famílias (estrutura similar a "Howards End" de E. M. Forster, citado por Zadie Smith nos agradecimentos como uma paixão que inspirou o seu trabalho) e a rivalidade intelectual entre os acadêmicos Howard Belsey e Montague Kipps. Enquanto a família formada pelo inglês Howard, morando na pequena cidade universitária ficcional de Wellington, subúrbio de Bostonsegue uma orientação liberal e pouco (ou nada) religiosa, após trinta anos de um casamento aparentemente feliz com a afro-americana Kiki e os filhos Jerome, Zora e Levi, o seu oponente no campo das ideias acadêmicas, artigos e palestras, Sir Montague Kipps, de Trinidad e Tobago, residente em Londres, é conservador e aristocrático, um católico obsessivo, casou-se com a haitiana Carlene, tendo dois filhos: Michael e Victoria. Um noivado frustrado entre Jerome, o filho de Howard convertido ao catolicismo, com ninguém menos do que Victoria, a sensual filha de seu rival acadêmico, irá deflagrar uma situação de guerra ainda mais declarada entre os dois intelectuais e uma série de situações desagradáveis e hilárias para o leitor, principalmente quando a família Kipps vem de mudança para Wellington.

A narrativa é sempre muito bem-humorada, por vezes tragicômica, e as reviravoltas da trama tendem normalmente a colocar o prepotente Howard Belsey e suas convicções ideológicas em cheque, seja por conta do seu oponente, patriarca dos Kipps, ou pelo "fogo amigo" dos integrantes de sua própria família, cada um lutando por seus ideais e convicções próprias (sejam elas religiosas, sociais, profissionais ou amorosas). Kiki Belsey é uma das personagens mais fortes e bem construídas do livro, de origem humilde e sem os mesmos interesses intelectuais do marido, percebe que a passagem do tempo deixou suas marcas, principalmente na aparência atual de seu corpo de 115 Kg o que levou Howard em direção a uma armadilha típica para os homens de meia idade que buscam em uma relação extraconjugal a solução egoísta para os seus problemas existenciais.

O núcleo de personagens principais se expande consideravelmente no romance de mais de quatrocentas páginas, abrindo espaço para o dia a dia da Universidade, reitor, professores, alunos e também o problema social dos imigrantes haitianos e da população negra de baixa renda que tem em Levi, o filho mais novo de Howard e Kiki, um defensor em tempo integral, fonte de novos problemas para a família Belsey. Howard é um homem que, devido ao próprio exercício da profissão, passou a duvidar de tudo e a convivência com ele é muito desgastante para os filhos e também para a esposa que vê o casamento desmoronar. A intimidade dos conflitos familiares na casa dos Belsey é revelada nos mínimos detalhes por Zadie Smith e nos sentimos assistindo a uma peça de teatro, tão próximos da ação como parte do próprio cenário. Será que essa história consegue ter um final feliz?

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