Philip Roth - O Animal Agonizante
Philip Roth - O Animal Agonizante - Editora Companhia das Letras - 127 páginas - Publicação 2006 - Tradução de Paulo Henriques Britto.
Philip Roth (1933-2018), um dos mais importantes escritores norte-americanos, sempre foi apontado como favorito a cada ano para o Nobel de Literatura, não sem merecimento. Recebeu o Prêmio Pulitzer na categoria de ficção pelo romance Pastoral Americana em 1998, Prêmio PEN/Faulkner por três vezes, PEN/Nabokov em 2006 e o PEN/Saul Bellow em 2007 para citar apenas alguns.
Em O Animal Agonizante, David Kepesh é uma personalidade conhecida no meio cultural de Nova York, professor de literatura, apresenta um programa na TV e leciona um concorrido curso por ano que normalmente termina com uma festa em seu apartamento. Nestas festas Kepesh, amante da música clássica e razoável pianista, sempre escolhe uma jovem e bonita aluna para um rápido relacionamento amoroso.
A vida de David Kepesh, chegando aos setenta anos, está perfeitamente equilibrada até que ele conhece Consuela Castillo. A seguinte descrição demonstra o fascínio que a bela e sensual aluna cubana desperta no professor: "Duas coisas no corpo de Consuela chamam a atenção. Em primeiro lugar os seios. Os seios mais magníficos que jamais vi — e olhe que eu nasci em 1930: a esta altura, já vi muitos seios. Os dela eram redondos, cheios, perfeitos. O tipo de seio com um mamilo que parece um pires. Não o que parece um úbere, porém aquele mamilo grande, de um tom claro de rosa pardacento, que é tão excitante. A segunda coisa era o fato de que seus pêlos pubianos eram lisos. Normalmente são encaracolados. Os dela pareciam cabelo de asiático. Lisos, estendidos, e parcos".
Consuela Castillo chega para destruir toda a ilusão de segurança que Kepesh havia construído através dos anos, para lembrá-lo de que a eternidade é apenas uma ilusão, uma distração que nos faz esquecer da realidade. Kepesh descobre que é somente um velho: "Para aqueles que ainda não são velhos, ser velho significa ter sido. Porém ser velho significa também que, apesar e além de ter sido, você continua sendo, e a consciência de continuar sendo é tão avassaladora quanto a consciência de ter sido. Eis uma maneira de encarar a velhice: é a época da vida em que a consciência de que a sua vida está em jogo é apenas um fato cotidiano. É impossível não saber o fim que o aguarda em breve. O silêncio em que você vai mergulhar para sempre. Fora isso, tudo é tal como antes. Fora isso, você continua sendo imortal enquanto vive".
David Kepesh, durante os quase dois anos de relacionamento, passa a conhecer a insegurança emocional e o ciúme, sentimentos que não faziam parte do seu mundo equilibrado e egoísta e este é apenas o menor dos sinais, coisas piores ainda estão por vir, quando anos mais tarde Consuela o procura para lhe contar uma trágica revelação. Não sei se a poesia abaixo de Yeats influenciou Roth neste romance, mas sem dúvida, representa a essência do tema:
Death
(William Butler Yeats)
(William Butler Yeats)
Nor dread nor hope attend
A dying animal;
A man awaits his end
Dreading and hoping all;
Many times he died,
Many times rose again.
A great man in his pride
Confronting murderous men
Casts derision upon
Supersession of breath;
He knows death to the bone -
Man has created death.
A dying animal;
A man awaits his end
Dreading and hoping all;
Many times he died,
Many times rose again.
A great man in his pride
Confronting murderous men
Casts derision upon
Supersession of breath;
He knows death to the bone -
Man has created death.
Morte
(Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos)
Medo não tem, nem esperança,
Um animal a agonizar:
Aguarda um homem o seu fim,
Tudo a temer, tudo a esperar;
Já muitas vezes morreu ele,
As muitas vezes retornando.
Em seu orgulho, um grande homem,
Homens que matam enfrentando,
Sobre a substituição da vida
Atira um menosprezo forte;
Sabe ele a morte até os ossos
- Foi o homem quem criou a morte.
Um animal a agonizar:
Aguarda um homem o seu fim,
Tudo a temer, tudo a esperar;
Já muitas vezes morreu ele,
As muitas vezes retornando.
Em seu orgulho, um grande homem,
Homens que matam enfrentando,
Sobre a substituição da vida
Atira um menosprezo forte;
Sabe ele a morte até os ossos
- Foi o homem quem criou a morte.
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Comentários
Bjks,
Leandro
Um grande abraço.
abraço,
clara lopez
ps. fantasma sai de cena é muito bom também.
Mudando de assunto, muito boa a sua resenha sobre "Bastardos Inglórios" que eu recomendo para os visitantes daqui.
Muito bom seu post! É o padrão Kovacs.
"O animal..."!
Haja padronização!
Que dica retardatária!
um abraço,
clara
Tenho adoração pelos livros de Philip Roth, com seus romances existenciais realistas até a alma.
Li "Indignação e o Homem Comum", execelentes como vivência real de uma interioridade e subjetividade em confronto com o social.
Super obrigado pela dica.
bjs.
Dificilmente consigo comparar filme e livro inspirado no filme.... mas um filme que gostei mais do que o livro foi Passagem para a Índia, baseado no livro de E. M. Forster.
Assisti ao filme Fatal (Elegy) baseado no Animal Agonizante, mas não achei decepcionante como muitos comentaram, embora não possa comparar o filme com um livro que não li. Mas gostei de ter visto o filme, achei sensível, com um ritmo que me agrada e com uma interpretação muito boa de Ben Kingsley como David Kepesh. Está bem também a aluna Consuela, vivida pela linda Penélope Cruz. Vale também o pequeno papel vivido por Dennis Hopper, como um amigo.
Como sempre, seus posts são muito bons!
Abraços.
Ah, vou copiar o poema para o publicar no meu blog. ok?
Abraço
Um abraço e uma ótima semana.