Emanuela Ribeiro - O romper das conchas
O romance de estreia de Emanuela Ribeiro narra a história do reencontro de duas irmãs, Letícia e Clarice, que se aproximam após a trágica morte da mãe. "O romper das conchas" nos mostra a necessidade de vencer as perdas que alimentam a solidão e muitas vezes o isolamento da própria família. Clarice, a irmã mais velha, deixou a pequena localidade de Praia das Conchas para cursar a faculdade de Letras em Fortaleza, tornando-se professora universitária e mestre em literatura, além de manter um casamento aparentemente feliz; já Letícia ficou em casa com a mãe que sofria de depressão após a morte do marido, o que prejudicou a sua vida pessoal e profissional.
A autora conduz a narrativa de forma dinâmica, alternando cada capítulo com a voz narrativa de uma das irmãs, assim como diálogos precisos que revelam aos poucos os diferentes pontos de vista dessa história. Outro fio condutor da trama são os trechos do diário encontrado da mãe que ajudam a entender a formação da personalidade das duas irmãs. Logo o leitor vai perceber que as aparências enganam e a solidez da vida de Clarice não passa de uma fachada para lidar com os problemas do passado. Letícia, por sua vez, demonstra força e amadurecimento para ajudar a irmã a superar os seus problemas atuais de violência doméstica e uma gravidez inesperada.
"Alcanço a cozinha e Clarice está de costas fechando a garrafa térmica. Pego duas canecas no armário e minha irmã me acompanha até a mesa levando o café e um saco com madalenas. / O macio da massa, o doce e a textura do acúcar cristal. Sempre amei madalenas. Desde criança elas eram uma espécie de prêmio que eu recebia quando fazia algo bem ou como compensação quando tudo estava mal. Enquanto mordo a primeira bocada não paro de pensar em Clarice ali diante de mim. A filha, esposa e profissional perfeita. / Clarice é minha irmã, mas a diferença de 10 anos de idade e a distância mantida entre nós nunca me fizeram senti-la realmente como irmã. Esse amor fraternal, a cumplicidade, nada disso. Ao contrário, sua presença sempre me diminuiu. Um ideal a se alcançado e eu sabia previamente que não seria atingido. Além de ser professora universitária, mestre em literatura e estar se preparando para o doutorado, ainda é muito bem casada com um psicólogo respeitado, su namorado desde a época da faculdade." (pp. 15-6) - Capítulo 1 - Letícia
O reencontro de Letícia e Clarice mostra a complexidade das relações familares, notadamente entre irmãs. As duas precisam se conhecer melhor, não somente uma à outra, mas também a si mesmas, sendo necessário para isso encontrar algumas formas de sair de suas respectivas zonas de conforto, rompendo as conchas que escondem o medo e a insegurança. Emanuela Ribeiro nos apresenta personagens bem construídas e uma acertada estratégia narrativa que tornam este drama familiar uma leitura recomendada e difícil de interromper até o final.
"Saí dessa casa há 12 anos. Estava com pressa. E apesar de manter uma regularidade nas visitas a Letícia e a mamãe, essa nunca mais foi a minha casa. Era apenas o lugar ao qual eu tinha o dever de vir e aparentar normalidade. Cumprir meu papel de filha e de irmã. Mas eu sabia muito bem que aquilo não era verdade. Abandonei minha mãe e, principalmente, minha irmã quando elas mais precisavam de mim. A fuga, no entanto, foi bem forjada com a aprovação no vestibular. Eu estava indo não porque queria, mas porque precisava. Eu era o orgulho da família, quando não passava de uma grande vergonha para mim mesma. [...] Mantive durante esses 12 anos uma distância segura. Estava ali em datas importantes, sempre por pouco tempo. Fazia as perguntas de cortesia sem muito interesse. Amedrontava-me a ideia de voltar, sentir a responsabilidade pesar, então preferia manter nossas vidas afastadas. Durante esse tempo também não vi Letícia ou mamãe com intenção de aprofundar nossa relação. Estávamos todas em nossas zonas de conforto." (p. 17 e p. 19) - Capítulo 2 - Clarice
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