Felipe Franco Munhoz - Dissoluções

Literatura brasileira contemporânea
Felipe Franco Munhoz - Dissoluções - Editora Record - 160 Páginas - Design: Leticia Quintilhano - Imagem de capa: Dancing Waltz, Two Models, Animal Locomotion - Eadweard Muybridge (1830-1904) - Lançamento: 2024.

O mais recente lançamento de Felipe Franco Munhoz consolida um estilo que incorpora elementos de várias expressões artísticas como: prosa, poesia, dramaturgia, artes plásticas e música. Em um processo de experimentação constante com a linguagem, o autor lida com a forma e o conteúdo em seus textos para obter uma voz única na literatura contemporânea nacional. A apresentação de José Luís Peixoto resume bem o ofício artesanal de todo escritor em busca do inusitado: "A palavra é muito mais do que imaginávamos, comunica de muito mais maneiras. Seguramos a palavra na palma da mão, temos o costume de dá-la e de recebê-la, acreditamos que é um objeto comum. Mas, de repente, diante dos nossos olhos, a palavra parte-se, o seu interior fica exposto e, com surpresa, percebemos que é agora completamente nova."

O primeiro capítulo/ato, O amor no fim do futuro, tem como base o início do relacionamento de Suposto Mefistófeles e Alma, em um clima melancólico que pode surpreender como no poema Parei, pisquei; perdi com sua "trilha sonora" que mescla Johann Sebastian Bach com a música eletrônica de Laurie Spiegel. Já na segunda parte, Deslocamento Animal – título que tem relação com a imagem de capa do livro –, encontramos indicações sobre a dissolução do casal: "A chave que serve não chega. / A chave que chega não serve. / A chave que serve não chega. / A chave que chega não serve." Nos epílogos, o presente e um futuro sombrio se confundem e a existência se apresenta como um contínuo processo de dissoluções, o que nos faz questionar a própria ideia de futuro.

O poema Parei, pisquei; perdi acontece projetado na tela: é uma reprodução (adaptação?) do e-mail que Suposto Mefistófeles está escrevendo para Julia – Suposto Mefistófeles e Julia configuraram, montado e desmontado e remontado e desmontado, um relacionamento. Começa a tocar Johann Sebastian Bach: Suíte para violoncelo n.º 1 em Sol Maior, Prelúdio.

Parei, pisquei; perdi

Demais: dois anos, três?, que agente não se vê.
Cerrada, névoa e névoa paira em seu lugar.
Parei, pisquei; perdi momentos e você.
Onde é que a vida, aviso mudo, foi parar?

Partiu-se, letra a letra, a nossa trama. Fim?
Do palco, infértil zona; todo elã um psiu?
Remotos focos teimam, fulgem para mim.
Gigante, o palco: e ponto fraco, frágil, frio.

[...]fffffffffjjjjjjjjj; 

Segredos -co- guardados; nunca me esqueci.
Talvez enganos, cortes; turva mente – algoz.
Desculpas -vis- guardadas; peço-as por aqui.
Fortuitos: nervos, túneis trazem fel – veloz.

Procura, cada passo, o passo atrás: cadê?
Perdi: três anos, mais?, que a gente não se vê.

Ao término do Prelúdio, entra Alma – sem campainha. Suposto Mefistófeles minimiza, de supetão, a aba Yahoo. Bruscamente, a tela sobe. Começa a tocar Laurie Spiegel: The hollows.

Literatura brasileira contemporânea

Sobre o autor: Felipe Franco Munhoz nasceu em São Paulo, em 1990. Graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), é autor dos livros "Mentiras" (2016), que recebeu uma Bolsa Funarte de Criação Literária, "Identidades" (2018) e "Lanternas ao nirvana" (Record, 2022). Traduziu, do russo, a seleta de poemas de Aleksándr Púchkin O Cavaleiro de Bronze e outros poemas (2022), premiado com uma menção honrosa da Abralic. Foi contemplado com a Santa Maddalena Foundation Fellowship (Itália) e com as residências Sangam House (Índia), apoiada pelo Itamaraty, Festival Artes Vertentes (Tiradentes, MG) e Art Omi: Writers (EUA).

Onde encontrar o livro: Cique aqui para comprar Dissoluções de Felipe Franco Munhoz

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