Henry James - Pelos Olhos de Maisie

Literatura inglesa
Henry James - Pelos Olhos de Maisie - Editora Companhia das Letras - Selo Penguin Companhia - 412 páginas - Tradução de Paulo Henriques Britto - Introdução e Comentários de Cristopher Ricks, lançamento 22/07/2010.

A insensatez humana não tem limite, sendo que não existe prova maior disso do que constatar os casos de separação litigiosa e os efeitos das disputas judiciais entre casais pela guarda dos filhos. Isto, infelizmente, já não é novidade desde o século XIX, mas a genialidade de Henry James (1843 - 1916) consistiu  em posicionar a sua inocente protagonista Maisie, de apenas oito anos, no centro desta estúpida disputa e apoiar toda a narrativa com base nas impressões e no entendimento consciente ou inconsciente dela de toda a situação. A sensibilidade de Maisie faz com que  entenda de alguma forma a maior parte das ações egoístas dos pais, assim como também acabe interferindo de forma decisiva no desenvolvimento do enredo. O título original em inglês, What Maisie Knew (O que Maisie Sabia),  deixa esta questão em aberto, sendo um dos pontos principais do livro a dúvida sobre a inocência e integridade moral da criança após a convivência em um ambiente corrompido.

O romance inicia com a decisão judicial de alternar a guarda da filha entre o pai e a mãe por períodos de seis meses. Na prática, o que ocorre verdadeiramente é que os pais se aproveitam da disputa pela filha "não pelo bem que pudessem fazer a ela, mas pelo mal que, com a ajuda inconsciente dela, cada um poderia fazer ao outro". Sendo assim, no início da separação eles tendem a aumentar os períodos determinados por lei como maneira de agressão mútua. Com o passar do tempo o procedimento passa a ser o oposto, buscando ficar o menor tempo possível com a criança. Além disso, utilizam-se da própria filha para enviar  reciprocamente mensagens carregadas de ódio ao final de cada período. Apesar do tema difícil, o humor é mantido por meio de uma narrativa irônica e do carisma da personagem infantil equilibrando a narrativa que poderia, de outra forma, se tornar pesada ou até mesmo monótona.

A situação fica ainda mais confusa quando Maisie passa a conviver com um segundo pai após o novo casamento da mãe e uma segunda mãe após o novo casamento do pai. A pobre criança poderia ter algum descanso se os pais se satisfizessem com suas novas relações, mas o que ocorre são novas separações e a ampliação das partes interessadas. A única personagem realmente preocupada com a felicidade de Maisie parece ser a sua governanta. Henry James criou uma obra de intensa ação psicológica que consegue transmitir de forma sutil através da sensibilidade de Maisie toda a tensão dramática que envolve as expectativas e frustrações dos personagens.

Esta edição conta, além da introdução e comentários do professor da Universidade de Boston Cristopher Ricks, com a cronologia da vida e da obra de Henry James, cinco resenhas escritas à época do lançamento do livro e um ensaio do próprio autor em que ele comenta o seu método de trabalho no desenvolvimento deste romance, escrito em 1908 para a "New York Edition" de suas obras.

Comentários

Carolina Lima disse…
Oi Kovacs, uma vez você comentou no meu blog "Biblioteca de Babel". Estou passando aqui parar dizer que abandonei aquele e criei um blog mais com a minha cara, para escrever textos próprios. Depois você passa lá, o endereço é http://escriturasdeprazer.blogspot.com/ Abraços!
Alex Zigar disse…
Ótima resenha. Parabéns mais uma vez, Kovacs. Desejo um bom ano para o “Mundo de K”.

Grande abraço.
Alexandre Kovacs disse…
Carolina, obrigado pela visita e vou lá agora mesmo conhecer o seu novo blog.
Alexandre Kovacs disse…
Alex, obrigado e desejo um ótimo 2011 para você e sua família.
Anônimo disse…
H. James é um dos meus grandes favoritos de todos os tempos. Seus retratos psicológicos são fenomenais! Excelente resenha!

Mas, passei aqui para desejar um ótimo 2011! e para pedir que você continue a nos premiar com as suas postagens. Um grande abraço, Ladyce
Alexandre Kovacs disse…
Ladyce, Henry James é um mestre do drama psicológico mesmo! Obrigado pela visita e espero que o Peregrina Cultural continue divulgando a cultura em 2011!
jugioli disse…
ops!!! uma dica para as férias!!!
bjs
Alexandre Kovacs disse…
JU, obrigado e boas férias!
Unknown disse…
Ele, de fato, é extraordinário, pela capacidade de deixar as coisas indefinidas, como elas são na realidade, no dia-a-dia. Ele dá suas impressões e nos conduz pelo caminho, indicando, apontando aqui e ali. Nada definitivo, de proselitismo. Apenas um companheiro de viagem. Como foi o nosso Machado.
Diziam que ele parecia uma elefante catando ervilhas. Aqueles que se incomodavam com o quantidade das páginas necessárias para aclimatar uma situação. Hoje estão revirando nos túmulos, porque ele não morrerá jamais. Abração. Feliz ano novo.
Alexandre Kovacs disse…
Caro amigo Djabal, queria ter conseguido resumir Henry James como você fez neste comentário!

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