Cidades que se tornaram personagens na literatura

 Vista de Londres - Stephen Wiltshire
Vista de Londres - Stephen Wiltshire

É uma característica dos grandes autores transformar as cidades em personagens de seus romances ou até mesmo inventar novas cidades como Italo Calvino em As cidades Invisíveis ou William Faulkner com o seu imaginário Condado de Yoknapatawpha.  Selecionei algumas que foram imortalizadas pela literatura, mas antes de qualquer reclamação por preferência literária ou geográfica, esclareço que a ordem de citação é apenas alfabética e que este tema poderia ter incontáveis continuações.

Dublin
Dublin é uma cidade que certamente tem vários encantos, mas deve muito de sua fama ao romance Ulisses de James Joyce (1882-1941). Toda a ação de Ulisses acontece em um único dia, 16 de Junho de 1904, comemorado como o Bloomsday em homenagem ao protagonista Leopold Bloom. Mesmo tendo concebido Ulisses como uma paródia à Odisséia de Homero e, portanto, destacando a decadência e monotonia da cidade, Joyce acabou prestando uma homenagem  devido aos registros detalhados e afirmava ainda que, se Dublin fosse destruída por uma catástrofe, poderia ser reconstruída tijolo por tijolo, usando como modelo o seu romance. Dublin foi escolhida em 2010 pela UNESCO como a quarta Cidade da Literatura.

Istambul
Istambul, localizada entre a Europa e a Ásia, que já foi conhecida como Bizâncio e Constantinopla, é  uma cidade que durante séculos assimilou diferentes culturas, tendo feito parte dos impérios  Romano,  Bizantino e Otomano até ser incorporada à República da Turquia em 1923 quando perdeu o status de capital para Ancara. Istambul é recriada pelos olhos de Orhan Pamuk em alguns romances como O Livro Negro e principalmente na sua autobiografia Istambul onde a história de sua vida se confunde com a da cidade e é destacada a melancolia do eterno conflito entre modernização e tradição. Pamuk como um excelente memorialista sabe mexer com nossos sentimentos, como ele fez com seu discurso de 2006 (versão completa aqui) ao ser premiado com o Nobel de Literatura, respondendo à clássica pergunta sobre a razão de escrever: "Escrevo porque eu nunca consegui ser feliz. Eu escrevo para ser feliz".

Lisboa
Lisboa atual e a de 1147, na época da tomada da cidade pelos mouros, é o cenário para um dos melhores e menos comentados romances de José Saramago: História do Cerco de Lisboa. Duas narrativas paralelas no tempo em que Saramago brinca com o limite entre história e literatura e ele mesmo define: "Todo o romance é isso, desespero, intento frustrado de que o passado não seja coisa definitivamente perdida. Só não se acabou ainda de averiguar se é o romance que impede o homem de esquecer-se, ou se é a impossibilidade do esquecimento que o leva a escrever romances". Impossível falar de Lisboa e não lembrar também de Fernando Pessoa. Leiam aqui uma interessante matéria sobre a rota do grande poeta na cidade.

Paris
Paris dispensa qualquer apresentação ou propaganda adicional, difícil é escolher apenas um romance entre tantos estilos e épocas diferentes como: Os Miseráveis de Victor Hugo, As Ilusões Perdidas de Honoré de Balzac Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, , Paris é uma festa de Ernest Hemingway, Trópico de Câncer de Henry Miller, Paris não tem Fim de Enrique Vila-Matas e tantos outros. Cliquem aqui para conhecer um mapa literário de Paris com informações sobre os locais e os autores, infelizmente somente em francês.

Comentários

Barros (RBA) disse…
Kovacs!
Estou de volta (faz muito tempo , não?) e por este seu último post, já vi que você está em plena forma. Brilhante texto! Instrutivo, sensível e na dose certa.
Letícia Alves disse…
Kovacs,

Gostei muito do texto e da sua abordagem.
Já tinha reparado sobre o assunto, mas nunca aprofundei nele.
Excelente dica pra gente ler livros que ainda não leu e observar melhor as cidades.

Um abraço!
Largo da Palma, longe de ser cidade, e longe de ser referência, mas um lugar que virou livro, que por sua vez, longe de ser ruim.

Abs, Kovacs.
Wallace Pizzotti disse…
Kovacs,

Brilhante, Istambul é uma cidade que um dia vou conhecer, não só pelo seu passado, mas pela diversidade de culturas num só local.
Utilizando das palavras do Barros: "Instrutivo, sensível e na dose certa".
Você me fez lembrar o livro "Dicionário de lugares imaginários" de Alberto Manguel e Gianni Guadalupi. Lá não está a Dublin de Joyce; não há verbetes de cidades que estão nos mapas da geografia política. Estão Lilipute, Parságada... Mas estes limites são bem arbitrários, não? As cidades literárias vivem na fronteira. No cinema, há inclusive a geografia poética que permite que um personagem vire uma esquina em Ipanema e dê de cara com as escadarias da Biblioteca Nacional.
Alexandre Kovacs disse…
Barros, espero que volte a postar em breve. Não deixe a engenharia tomar todo o seu tempo. Obrigado pela visita sempre importante!
Alexandre Kovacs disse…
Letícia, obrigado pelo comentário gentil. É mesmo uma boa ideia para postagens, mas o espaço acaba ficando limitado.
Alexandre Kovacs disse…
Caio, boa lembrança! Este assunto é mesmo muito rico.
Alexandre Kovacs disse…
Wallace, obrigado e fico contente que tenha gostado!
Alexandre Kovacs disse…
Atelier da Escrita, muito bem lembrado o "Dicionário de lugares imaginários"! Este assunto renderia um livro. Obrigado pela visita e comentário.
jugioli disse…
Uma preciosidade essas conexões!
Uma viagem !!!!!
Bjs
Chutando a Lata disse…
Me sinto homenageado com o seu post. Grato
Alexandre Kovacs disse…
JU, obrigado pelo comentário gentil!
Alexandre Kovacs disse…
Chutando a Lata, eu é que agradeço a inspiração.
Belíssimo este mundo, Mundo de K, mas também de letras, de sons, de imagens. Mundo seu, meu, de tantos mais.

Gostei do blog, é muito rico o que vai dentro dele.

Abraços
Alexandre Kovacs disse…
A. Marques-Rodrigues, obrigado pelo comentário gentil e gostei muito do conteúdo do seu blog Ler até escrever, ótimo título por sinal!

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